comunidade usp

Gambiarra: A arte do cotidiano

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais
Dificuldades de uma Brasil quase-leitor

 

Por Carolina Oliveira

Divulgação/Cao GuimarãesOcupação “Estética da Gambiarra” mostra a beleza do improviso


A definição de gambiarra passa por “trabalho feito com improviso, com peças alternativas”; muitas vezes, o termo é usado de modo pejorativo, para se referir a coisas malfeitas, improvisadas de forma pouco cuidadosa. Mas trazer um novo olhar a este conceito é justamente a proposta da ocupação “Estética da Gambiarra”, aberta no Sesc Interlagos até o dia 29 de março.

Divulgação/Cao GuimarãesNa mostra serão expostas fotografias do artista mineiro Cao Guimarães, que retratam uma série de situações em que as técnicas de gambiarra foram utilizadas. Guimarães dispõe de um acervo com 116 fotografias sobre o tema, coletadas entre os anos de 2001 e 2012 e reunidas na série Gambiarras. Inclusive, parte dessa obra já foi exposta no Rio de Janeiro em 2012. Para a exposição do Sesc, foram escolhidas 12 fotografias da coleção, além do documentário Mestres da gambiarra, de autoria do mesmo artista e que será exibido juntamente com as fotografias.

 

A gambiarra no dia a dia

 

Divulgação/Cao GuimarãesApesar de a gambiarra ser uma prática bastante comum no cotidiano de todos, a temática da ocupação pode gerar, a princípio, certo estranhamento. A começar pelo nome, “Estética da Gambiarra”; afinal, o que isso tem a ver com arte? Segundo o curador, Gilcemar Borges, a intenção é justamente mostrar que a distância entre esses mundos não é tão grande assim. “A gente vai brincar um pouco com isso: é um espaço formal, de concreto, sisudo, muito austero, ornamentado com algumas fotografias de coisas que não são necessariamente estéticas”, conta.

Afinal, o processo de criação de uma gambiarra, como de qualquer outra obra de arte, exige muita inventividade. “Dentro deste tipo de ação, de invenção, há um quesito de genialidade, e é uma genialidade muito comum, que pode surgir de qualquer pessoa”, aponta Borges. “O cara não tem que ser um inventor, ele só precisa na verdade estar num momento de necessidade, e aí surge essa criatividade nele”

Divulgação/Cao GuimarãesO curador explica que a ideia de trazer as obras de Cao Guimarães para o Sesc Interlagos veio da proximidade que o tema tem com o cotidiano da zona sul de São Paulo. “Aqui na zona sul houve um processo de ocupação que se deu todo de maneira desordenada, em área de manancial. E não necessariamente ocorreu um planejamento para esse tipo de ocupação”, diz. E, para o curador, é exatamente dentro desse contexto de falta de recursos que a criatividade se faz presente: “A gente sabe bem que a necessidade e a criatividade se juntam a todo momento, uma vez que a pessoa tem um problema e ela tem de resolvê-lo”.

 

Interação com o público

 

A interatividade promete ser um dos maiores atrativos da mostra: além das fotografias de Cao Guimarães, também haverá oficinas de criação, internet livre e exibição de vídeos.

A interatividade promete ser um dos maiores atrativos da mostra: além das fotografias de Cao Guimarães, também haverá oficinas de criação, internet livre e exibição de vídeos.

Além do tema próximo, a possibilidade de interação é um dos principais atrativos da mostra, que tem o intuito de fazer o público se relacionar e se identificar com o conteúdo, indo além de uma simples exposição estática de fotografias. Borges conta que a sala onde as fotografias serão expostas, por exemplo, permite amplas possibilidades aos visitantes. “É uma sala de cultura digital com oficinas de criatividade, acesso livre à rede, exibição de filmes, documentários e, além disso, a exposição. Tudo ao mesmo tempo”, explica ele.

Ainda dentro dessa proposta de interação, os organizadores pretendem lançar uma hashtag no Instagram, por meio da qual as pessoas poderão enviar fotos de instalações de gambiarra tiradas por elas mesmas, em situações comuns de seu cotidiano. As imagens serão exibidas em televisores, na própria sala da ocupação. Outra proposta do Sesc é oferecer cursos gratuitos, que ensinem a montagem de vários utensílios, como de um pedal de guitarra ou de um MP3 player, utilizando materiais simples e improvisados. “Queremos criar dentro do nosso espaço um ateliê de criatividade, a ponto de as pessoas entenderem que aquele é um espaço aberto e que elas podem utilizá-lo para fazerem um projeto próprio”, diz o curador.

O intuito da ocupação é mostrar que o improviso e a falta de recursos também podem ser arte

A participação do público é, portanto, fundamental nesta ocupação. “O que a gente está querendo mostrar é que todo mundo pode fazer, todo mundo pode criar”, explica Borges, “e essa criação às vezes surge de um interesse da pessoa em querer criar, e, muitas vezes, que é o caso da gambiarra, ela surge de uma necessidade”.

O Sesc Interlagos fica na avenida Manoel Alves Soares, nº 1.100, no Parque Colonial, zona sul de São Paulo. A ocupação “Estética da Gambiarra” tem entrada franca e permanece aberta até o dia 29 de março, de quarta a domingo, das 9h30 às 17h.

Os comentários estão fechados.

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores