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Machucou de novo?

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Machucou de novo?

 

Raphael Martins

A alta incidência de lesões em atletas amadores tem causa: a carga excessiva de treinamentos e execução incorreta dos movimentos

 Que esportista nunca tomou pancadas, sofreu com entorses, canelite, ou alguma tendinite? Quem nunca teve medo quando leu sobre um mal súbito no jornal? Assim como um profissional, o atleta de fim de semana, ou amador, está sujeito a isso tudo. Para isso, é necessário se informar, da melhor forma possível, sobre as atividades esportivas que se pretende realizar, seus benefícios e riscos.

É comum pensar que quanto mais atividade física se faz, maiores os benefícios à saúde, no entanto, deve-se considerar também que crescem as chances de desencadear um problema de saúde mais sério: “O mais temido é o risco cardiovascular, que depende da faixa etária, de históricos familiares e de qual nível de atividade física que essa pessoa desempenha”, comenta Felipe Hardt, médico especialista em medicina esportiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC-FMUSP) e consultor do Laboratório de Desempenho Esportivo (Ladesp) da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE).

Cássio Siqueira é supervisor de estágios do curso de Fisioterapia da USP

Ele comenta que os benefícios da atividade física são enormes mesmo em rotinas de treinamento mais leves. A prática esportiva por puro lazer e bem-estar tem um grande efeito positivo para a saúde, aliado a um baixíssimo risco. A partir de certo ponto, os benefícios ficam estagnados e apenas o desempenho esportivo cresce. Com o desempenho, crescem os riscos: “Um volume médio de atividade física tem um benefício grande e um risco menor. À medida que se vai aumentando a carga de treinamento, os benefícios para a saúde não aumentam tanto, mas os riscos passam a ficar maiores”.

Hardt faz um alerta aos atletas amadores que possuem um calendário esportivo ativo e que participam de corridas e atividades regulares. Para o médico, é indispensável que essas pessoas passem por avaliação médica regular, visto que seus volumes de treinamento são, em muitos casos, bastante puxados, portanto de risco considerável.

Além desses atletas, o médico ressalta a importância do acompanhamento em determinados grupos: “Para mulheres acima de 55 anos e homens acima dos 45, mesmo sendo amadores, é prudente fazer determinados exames, principalmente cardiovasculares, como um teste ergométrico, eletrocardiograma, etc. Sintomas e sinais também devem ser levados em conta, independente da idade”.

Para Patrícia Oliveira, cardiologista responsável pelo Ambulatório de Cardiologia do Esporte do Instituto do Coração (InCor) do HC-FMUSP, as avaliações e exames vão depender a princípio da história clínica e exame físico geral do paciente. Mesmo para os indivíduos com menos de 35 anos, deve-se avaliar o atleta com, ao menos, um eletrocardiograma de repouso. Ela completa: “A avaliação pré-participação esportiva deve constituir numa avaliação para detectar possíveis problemas existentes que possam ser complicados ou desencadeados pelas atividades físicas ou detectar alterações que podem ser causadas pelas próprias atividades”.

Diariamente, a USP recebe enormes quantidades de corredores e ciclistas em suas vias

Além da atenção em relação aos fatores de risco como diabetes, histórico cardíaco, entre outros, o acompanhamento de um profissional de Educação Física também é importante para um melhor efeito de treinamento, maior eficácia na perda de peso e não forçar articulações.

Lesões ortopédicas

Cássio Siqueira, especialista em fisioterapia do esporte do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, explica os tipos mais comuns de lesão ortopédica: “Nós as dividimos em dois tipos: macrotraumática e microtraumática. As primeiras são entorses, pancadas, quebras de ossos. Microtraumáticas são aquelas de esforço repetitivo, de baixa energia, mas que vai se repetindo até virar uma lesão (over use), uma tendinite, canelite, bursite. Todas essas são relacionadas, principalmente, por erro de movimento”.

Felipe Hardt é catarinense e veio para São Paulo para cursar a residência em Medicina Esportiva

Para Hardt e Siqueira, as lesões ortopédicas, de um modo geral, principalmente de membros inferiores, seguem uma lógica semelhante: quanto maior a carga de treinamento, seja elite ou amador, o atleta está cada vez mais sujeito a esses tipos de dano. Mas o  primeiro e principal fator responsável e que exige supervisão é a execução correta do movimento. O movimento mal-executado machuca.

“Em relação ao aparelho locomotor, a principal preocupação é o modo de execução do movimento. O movimento tem que ser bem realizado, pois, assim, o corpo é tolerante. Você pode fazer uma carga maior ou mais repetições que o corpo não se machuca. O movimento mal realizado vai machucar mesmo com intensidade ou frequência baixa de exercício. O importante é ter uma orientação na hora de executar o movimento”, explica Siqueira.

O fisioterapeuta ressalta a crescente onda de corredores de rua e suas consequentes lesões. Ele atesta que a grande maioria é lesão por esforço repetitivo: “É uma ou outra entorse de tornozelo ou coisa do tipo, mas 90% dos casos é lesão por over use. Para o corredor, o comum é a lesão ser relacionada à estrutura de sustentação de carga: desde fascite plantar, tendinite do tendão de Aquiles, canelite, lesão no quadríceps, tendinite patelar, por aí vai”.

Felipe Hardt destaca outro problema. A busca por resultados imediatos faz com que os atletas aumentem sua carga de exercícios de forma inadequada. Uma pessoa com uma estrutura musculoesquelética mais forte tem menor tendência à lesão. Levando isso em conta, se a atividade fosse gradativamente aumentada, seria possível evitar quaisquer danos. A não preparação para aquele volume de exercícios e falta de trabalho de fortalecimento resultam em constantes problemas ortopédicos, principalmente em academias.

A prática esportiva por lazer traz enorme benefício e baixíssimo risco

Segundo Hardt, quanto mais bem condicionado se está, tanto do ponto de vista de força muscular como com correção de movimentos e de condicionamento aeróbico, teoricamente, essa pessoa, comparada com outra com a mesma característica étnica e etária, teria menos risco de lesão.

Hardt divide as pancadas em três níveis. O primeiro nível engloba aquela lesão que não impediu a continuidade da atividade física, que já se pode pressupor que não é tão séria (pois não perdeu nenhuma função mecânica, mas deve ainda tomar algumas providências como gelo e repouso). Havendo progressão da dor após a atividade, talvez seja prudente consultar um médico.

O segundo nível é composto por lesões em que não há condições de seguir (função alterada). Esse sim é recomendado passar por avaliação médica assim que possível para providências como imobilização, reabilitação, fisioterapia ou, por fim, um procedimento cirúrgico.

O último são dores súbitas que tiram a função. Saem um pouco do conceito de pancadas, como lesões musculares. Elas impossibilitam movimentos e têm caráter de urgência, que precisa ter tratamento médico nas primeiras 24 horas.

Em especial para esses casos de necessidade de acompanhamento profissional, Siqueira sugere: “Em caso de lesão, a primeira coisa é procurar um profissional especializado em esporte. Um médico, um fisioterapeuta do esporte. É o profissional que terá a melhor visão para esse tratamento específico. Normalmente, a primeira atitude daqueles que não são especializados é afastar do esporte. Nem sempre é preciso parar. Às vezes dá para reduzir a carga”.

Mulheres acima de 55 e homens acima de 45 devem passar por avaliação física

Para o fisioterapeuta, parar com o treinamento também tem consequências negativas. O atleta vai inevitavelmente enfraquecer, vai perder condicionamento, perder as cargas extras de endorfina, entre outros. O ideal é não sair do esporte se possível, mas caso seja realmente necessário, seria bom achar uma alternativa. “Além disso, o profissional do esporte vai conseguir identificar melhor a estrutura da lesão. Uma tendinite do joelho de quem corre é tratada diferentemente de uma mesma tendinite em um sedentário. São mecanismos diferentes, então o tratamento também deve ser”, explica.

Siqueira reforça que, antes de tudo, o tratamento é um processo do próprio paciente. A pessoa precisa de uma mudança de comportamento para se recuperar. Com a orientação do profissional, é ela que vai ter que mudar a forma de praticar a atividade. “Se ela não fizer a parte dela, não vai ter sucesso. O principal do tratamento é a dedicação e empenho do paciente em se recuperar. Não existe milagre. O profissional vai orientar e dar as ferramentas nas formas de se recuperar. Mas o paciente tem que fazer os exercícios recomendados, comparecer às sessões de fisioterapia, em caso de afastamento do esporte, deve respeitar esse afastamento”, conta.

Para Hardt, a insistência em retornar rapidamente às atividades é o fator que mais dificulta a recuperação total dos pacientes: “O pessoal não consegue perceber os sinais que o corpo dá, que ainda não descansou. Se a pessoa tiver essa noção, essa consciência de que o corpo está falando que se excedeu, acho que a pessoa está acertando”.

O médico atesta que para uma pessoa que pretende fazer uma atividade física leve – como uma caminhada, por cerca de cinco vezes por semana – não há necessidade de acompanhamento profissional, pois os benefícios para a saúde são muito maiores do que os riscos. Ele explica ainda que à medida que essa pessoa vai entrando em um programa de exercício, com objetivos mais claros e maior organização de treinamentos, é a hora que precisa do respaldo de um técnico: “O profissional de educação física vai saber o que a pessoa pode fazer, se vai prejudicar ou beneficiar. Logo depois, entraria um profissional de saúde, da área médica, para ela ter uma avaliação sobre o risco da atividade e se ela está apta para aquilo”.

Siqueira conta que, atualmente, existem todos os tipos de assessoria esportiva, das mais baratas às mais elitizadas. Ele aproveita e faz um alerta: “Em qualquer parque você pode encontrá-la, mas grande parte não dá ênfase para a parte técnica e sim para frequência cardíaca e ritmos de treinamento. Por isso o atleta deve atentar para uma assessoria que ajude também na técnica de realização dos movimentos”. Felipe Hardt acrescenta: “Tem tanta lenda por aí, às vezes a pessoa fica com receio e pensa se tem perigo ou não. Um profissional vai avaliar, tranquilizar, esclarecer. Só de fazer essa consulta, o atleta já fica mais tranquilo”.

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