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Mãos e ouvidos a serviço da USP

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Lesão medular e o desafio da medicina

 

Por Ana Luiza Tieghi

Nova ouvidora da Universidade acompanhou sua história e foi fundamental na formação de novo instituto

Por Ana Luiza Tieghi

A Ouvidoria Geral da Universidade de São Paulo começou 2014 com uma nova representante, Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular aposentada

“Nossa função é ouvir, localizar informações pertinentes e ajudar na compreensão dos problemas e na busca de soluções”, explica Maria Hermínia sobre o papel da Ouvidoria Geral

“Nossa função é ouvir, localizar informações pertinentes e ajudar na compreensão dos problemas e na busca de soluções”, explica Maria Hermínia sobre o papel da Ouvidoria Geral

da FFLCH e diretora do Instituto de Relações Internacionais (IRI) entre 2010 e 2013. Formada em Ciências Sociais pela USP, Maria Hermínia entrou na Universidade em plena ditadura militar e acompanhou muitas mudanças em sua forma.
Nascida em São José do Rio Preto, a ouvidora veio morar em São Paulo quando tinha apenas seis anos de idade. “Passei aqui boa parte de minha infância e toda a adolescência”, conta. Maria Hermínia queria ser psiquiatra quando ainda estava no colégio. “Logo percebi que não gostaria de fazer o curso de Medicina e pensei em estudar Psicologia”, relembra. Porém, um amigo de seu pai e professor de Filosofia chamado João Cruz Costa a desaconselhou a realizar a graduação. “Pensei então em fazer Letras e Literatura, mas acabei indo para Ciências Sociais”, afirma, sem saber ao certo o motivo de sua escolha na época. “Talvez porque meu pai, advogado, fosse um sociólogo amador. Talvez porque o curso de Ciências Sociais parecesse muito atraente para uma jovem politizada”, pondera.

Tudo isso aconteceu às vésperas do golpe de 1964, e Maria Hermínia fez sua graduação enquanto o governo militar estava no auge, o que reforçou ainda mais sua preocupação com a política nacional.

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) então se chamava Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e se localizava na rua Maria Antonia, na Vila Buarque, onde hoje existe o Centro Universitário Maria Antonia, ainda da Universidade de São Paulo. Juntamente com os cursos da atual FFLCH, também ficavam lá as graduações em Física, Química e Biologia, “embora em prédios distantes daquele da rua Maria Antonia, onde estavam os cursos de Ciências Sociais e Letras”, conta a ouvidora.
Maria Hermínia destaca a grande interação que existia entre alunos e professores naquele tempo. “Era comum sairmos com os professores para ir à Cinemateca, a um cinema que exibia filmes de arte, a um teatro ou ao Bar do Zé para tomar cerveja”, relembra. O contato com estudantes de outras áreas também era constante, pois a Faculdade de Economia e Administração e a de Arquitetura e Urbanismo ficavam próximas. “A faculdade, naquela época, era um ambiente fantástico. Era muito pequena, tinha poucos alunos e professores muito jovens”, explica.

 

Maria Hermínia em foto de sua quarta série, quando estudava no Colégio Dante Alighieri

A ex-diretora do IRI conta que se interessava por Antropologia e Política, e que foi difícil escolher qual área seguir. Na época não havia cursos de Relações Internacionais no País, “eles são muito recentes, foram criados nos últimos 15 ou 20 anos”, explica. Acabou seguindo o caminho da ciência política pelo clima de sua época e também influenciada por professores que a marcaram, como Francisco Weffort, Maria do Carmo Campelo de Souza (conhecida como Carmut) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Eu comecei estudando um tema bem doméstico: sindicatos e seu impacto sobre a política”, conta.
Maria Hermínia lembra com carinho do período em que viveu nos Estados Unidos, mais precisamente na cidade de Berkeley, enquanto fazia seu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, já nos anos 80. “Foi uma experiência fantástica: eu ia da biblioteca para os seminários, e de volta à biblioteca. Havia também shows e concertos dentro do campus.”
Como conta, foi em Berkeley que vivenciou pela primeira vez o cotidiano de uma grande universidade internacionalizada, com acadêmicos do mundo todo, “onde as ideias novas estão sempre no ar, ao alcance da mão”. A cidade em que fica a Universidade da Califórnia foi uma das sedes do movimento pacifista e contestatório americano. “Perto estava San Francisco, meca dos hippies que andavam pelos arredores do distrito de Haight-Ashbury. Algo deste clima continuava pairando pelos ares de Berkeley”, afirma.
Mas sua passagem por universidades estrangeiras não se limitou à Califórnia. A ouvidora foi professora visitante de diversas instituições ao longo de sua carreira acadêmica, como a Université de Montréal, no Canadá, o Instituto Ortega y Gasset, na Espanha, a University of London e o King’s College, ambos na Inglaterra, e a Stanford University, novamente nos EUA. “Foram sempre estadias curtas e intensas, pois eu tinha família aqui”, afirma Maria Hermínia, que ainda conta ter sido sempre bem recebida por colegas e alunos nas instituições que frequentou. “Dar aula e interagir em uma instituição estrangeira é uma experiência fundamental, uma expansão de horizontes”, acredita.

Além da USP, Maria Hermínia também foi professora da Unicamp, entre os anos de 1974 e 1987, quando então assumiu o cargo de docente na FFLCH. A ouvidora afirma haver na faculdade uma grande variedade de perspectivas disciplinares, orientações intelectuais e pontos de vista políticos. “Trabalhar na FFLCH é um exercício prático, e muitas vezes difícil, de pluralismo e tolerância”, conta, dizendo ainda ter aprendido muito com a experiência. “O Departamento de Ciência Política é o melhor do Brasil, há colegas fantásticos, que sabem muito mais do que eu e com quem sempre aprendi coisas novas. Lá fiz também grandes amizades”,

acrescenta.

Envolvimento com o IRI

A história de Maria Hermínia no Instituto de Relações Internacionais remonta ao início do projeto do instituto, que é recente se comparado com outras faculdades da USP. “Estive presente desde o começo, em 1999, quando criamos um bacharelado multidisciplinar e interunidades em Relações Internacionais, que se iniciou em 2002”, conta. O IRI como é hoje só veio a existir em 2004. “Fui primeiro vice-diretora e depois diretora”, explica Maria Hermínia, que destaca o desafio intelectual de articular um novo instituto: “Fui estudar coisas novas para dar aula, reorientei minha pesquisa, montei uma equipe administrativa de primeira qualidade, participei da seleção de professores”.

Atualmente a nota de corte para o bacharelado em Relações Internacionais é uma das mais altas da Fuvest e no ano passado havia quase 40 candidatos para cada

A ex-diretora do IRI (segunda da fileira inferior, da esquerda para a direita), em 2008, com o Comitê Executivo da International Political Science Association–IPSA

A ex-diretora do IRI (segunda da fileira inferior, da esquerda para a direita), em 2008, com o Comitê Executivo da International Political Science Association–IPSA

vaga do instituto. “Participei de muita coisa que não deu certo na vida acadêmica e fora dela. Foi uma sorte poder participar, já mais para o final da carreira, de um projeto tão bem-sucedido como é o IRI”, declara a ex-diretora.

Perguntada se pretende voltar a dar aulas algum dia, Maria Hermínia afirma que essa é uma possibilidade, mas apenas para os cursos de pós-graduação. Segundo ela, com o passar do tempo, ser docente na graduação se torna uma tarefa cada vez mais desafiadora, pela diferença de idade entre alunos e professor. “Houve uma época em que eu olhava para os meus filhos para saber como os alunos poderiam pensar. Hoje, eles já estão ‘velhos’ demais e não servem de referência para eu entender estudantes de graduação, seu repertório, suas inquietações”, conta. Isso dificultaria a comunicação com os estudantes. “Já não se sabe que exemplo utilizar, que referência os pode tocar ou motivar”, explica.

Porém, destaca que as atividades acadêmicas ainda possuem um grande peso em sua vida. “Só sei fazer isso, é o que sou.” Mesmo fora das salas de aula, continua envolvida em projetos de pesquisa, como o Las Américas y el Mundo – Opinião Pública e Política Internacional, feito com mais três colegas do IRI e participante de um consórcio internacional. “Levei uma parte deste projeto para o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap, onde estou agora”, conta. Foi no Cebrap que Maria Hermínia iniciou sua trajetória como cientista social. “É como voltar para casa”, explica.

Ouvidoria

Durante este ano, Maria Hermínia será os ouvidos da USP, pronta a receber sugestões, opiniões e reclamações por parte da comunidade uspiana e dos cidadãos em geral. Como ela esclarece, a Ouvidoria Geral é uma instância informal, neutra e independente à qual os cidadãos que não se considerarem atendidos de forma satisfatória pelos canais usuais podem recorrer para discutir problemas relativos às atividades e funções da Universidade.

“Nossa função é ouvir, localizar informações pertinentes e ajudar na compreensão dos problemas e na busca de soluções, visando à melhoria dos serviços, correção de erros, desvios e abusos, proteção do direito à informação, das prerrogativas de professores, estudantes e funcionários e do patrimônio físico e cultural da Universidade”, explica. O principal objetivo da Ouvidoria é contribuir para a existência de um ambiente físico e social que seja harmonioso e favoreça o trabalho e a convivência na USP. “A Ouvidoria Geral é hoje um órgão respeitado graças ao trabalho dos ouvidores que me precederam, os professores Ruy Laurenti e Isilia Aparecida Silva”, declara.

BOX – Como falar com a Ouvidoria

Para entrar em contato com a Ouvidoria Geral, acesse o site http://sites.usp.br/ouvidoria/ e preencha o formulário. Na página também é possível encontrar o link para a obtenção de maiores informações sobre a Universidade e como solicitar documentos assegurados pela Lei de Acesso à Informação.

A Ouvidoria Geral se localiza na rua da Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária. O telefone é (11) 3091-2074.

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