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Universidade, arquivo e memória

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Existe privacidade no mundo virtual?

 

Por Giovanna Gheller

ReproduçãoO Projeto Memória USP, desenvolvido pelo Museu de Ciências, visa a contar por meio de fotos e documentos os caminhos que percorreu cada unidade da USP, todos dispostos em uma interface on-line de tempo-espaço

Com quantas pessoas se faz uma Universidade? Quantas são as faculdades, alunos, professores, pesquisadores e funcionários por ela responsáveis? Foi com o objetivo de reunir muitos dos números e pessoas que construíram e continuam a compor a história da Universidade de São Paulo que foi ao ar, no fim de 2013, o site do Projeto Memória USP, desenvolvido ao longo de dois anos pelo Museu de Ciências.
Como explica Guilherme Marson, professor do Instituto de Química e coordenador do projeto, trata-se de uma iniciativa que surgiu a partir de ideias que apareceram em um grupo de trabalho do Portal do Museu. Nessas discussões, acabou-se colocando o problema de que muitos institutos universitários não têm um grupo ou um acervo de memória preservado. “Às vezes um professor se aposenta, seu laboratório é desmontado e muitos documentos são jogados fora.” Em seguida à preocupação com a preservação das informações científicas, veio a de expandi-las para a Universidade como um todo, e, então, torná-las públicas.

A interface do website, além da funcionalidade, preza pelo apelo visual

A interface do website, além da funcionalidade, preza pelo apelo visual

Dentre todas as unidades, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) é uma das mais atuantes. “A Esalq é centenária, e essa plataforma, ao ser da Universidade inteira, reforça o papel da escola, cuja história é mais antiga que a da própria USP, e é sempre bom saber qual foi o nosso caminho”, diz a professora Thais Vieira, membro da Comissão de Cultura e Extensão da escola e docente atuante no projeto. Para ela, com esta iniciativa, vê-se que a USP não é só São Paulo, existe no interior também. “Eu acho que dá muita visibilidade e, principalmente, sem perder o vínculo, a história, a criação de cada curso, como fomos crescendo e evoluindo com o passar dos anos. É uma vitrine bem interessante.” Segundo Thais, às vezes tem um aluno em São Paulo que quer fazer Agronomia e não sabe que o curso é ministrado em Piracicaba. O Memória USP poderia reverter isto.
Edno Dario é especialista em projetos museográficos da Esalq, e também acredita na exposição que o projeto pode dar ao local e à Universidade toda. “Para mim, o mérito desse portal é a visibilidade da instituição. Ele é de suma importância para que outras pessoas possam conhecer e realmente ver a história da Universidade de São Paulo e a seriedade de todo esse trabalho.”

Thais conta que, graças a pessoas como Edno Dario, a Esalq é bem organizada no sentido de preservar seus documentos e sua história. Segundo ela, antigamente alguns professores e funcionários residiam no campus de Piracicaba, a exemplo do diretor, que morava em uma casa dentro da escola. Ainda de acordo com a professora, no início do século 19 não tinha, de fato, hotéis na cidade, então a casa do diretor não era um mero luxo – quando havia um visitante estrangeiro, por exemplo, ele se hospedava no campus. Em sua época como aluna, em 1991, houve um diretor chamado João Lúcio de Azevedo que, por ser sozinho, não quis morar em uma casa tão grande. Ele abriu mão dessa regalia e, nesse lugar, foi criado um espaço para um museu. Aí os equipamentos antigos, as peças, os instrumentos de laboratório, os documentos e as fotos, antes sem abrigo, ganharam um lugar. Assim, desde então tem-se um museu dentro da Esalq, com sua história, e que também serve como espaço para demais exposições.

De acordo com Guilherme Marson, docente do Instituto de Química e coordenador da iniciativa, “o papel da plataforma é funcionar como ponto focal dos dados e arquivos de cada unidade, que serão disponibilizados ao público”

De acordo com Guilherme Marson, docente do Instituto de Química e coordenador da iniciativa, “o papel da plataforma é funcionar como ponto focal dos dados e arquivos de cada unidade, que serão disponibilizados ao público”

A política de cuidado com as propriedades da escola parece ser generalizada. “Aqui, nós, professores, às vezes temos muitos bens patrimoniais antigos, mas, ao invés de jogar fora, chamamos o pessoal do nosso museu e vemos ‘isso serve, é interessante?’. Mesmo as coisas mais recentes já têm um destino”, diz Thais. Uma das consequências disso foi que, quando solicitado que cada unidade enviasse pontos importantes, datas históricas, documentos na linha do tempo de cada unidade, a Esalq  já tinha tudo pronto.
Agora é encontrada na plataforma on-line toda a história da escola, desde o início da compra da fazenda em que está alocada, passando pela implantação dos cursos, até a recente inauguração da carreira de Administração no local. “Essa linha do tempo é muito importante. Inclusive, nós realizamos aqui uma exposição chamada “Do passado ao presente”, cuja intenção é mostrar ao aluno ingressante a importância que se tem ao entrar para história da Universidade, e a mensagem é muito positiva. Eles sentem que as pessoas que entraram na Esalq, que fizeram a história da instituição, eram como eles, que entraram meio sem saber o que fazer e depois se tornaram grandes profissionais e pesquisadores. Acredito que esse projeto também funcione para mostrar tudo isso”, diz Dario.

Vale ressaltar que, segundo o coordenador Guilherme Marson, o Memória USP não concorre com os acervos e arquivos da Universidade, nem com as iniciativas das unidades de terem seu local próprio de manutenção de memória. O projeto do Museu não é a mesma coisa que um acervo para uso acadêmico – “A USP já tem vários acervos assim”.
Thais concorda, e acredita que o projeto não concorra com o museu da Esalq, porque se trata de uma plataforma virtual. Na verdade, para ela, até estimula as pessoas a irem conhecê-lo, mesmo porque a própria Esalq não deixa de ser um museu a céu aberto, com seus prédios todos muito antigos. Edno Dario segue na mesma linha. “Eu acredito que o portal complemente. O acervo físico está aqui comigo, mas o digital pode estar sendo visitado por outras pessoas em qualquer lugar do mundo neste momento. Proporciona, inclusive, um melhor conhecimento da Universidade como um todo, porque eu posso entrar na memória do campus de Pirassununga e ver o que eles estão fazendo lá, por exemplo. Eu acho que facilita.”

No site podem ser vistas imagens de lugares como o Casarão da rua Brigadeiro Tobias, no centro de São Paulo, primeiro prédio em que se instalou a Escola Livre de Pharmácia, em 1898

No site podem ser vistas imagens de lugares como o Casarão da rua Brigadeiro Tobias, no centro de São Paulo, primeiro prédio em que se instalou a Escola Livre de Pharmácia, em 1898

Guilherme Marson acrescenta, ainda, que a intenção era fazer algo que possibilitasse mostrar esses dados públicos de uma forma que fosse mais atraente e acessível à população leiga ou não necessariamente arquivista ou historiadora.  Assim, a página serve como um canal a mais para a divulgação desses dados. Uma outra vantagem é que todos saem formatados do mesmo modo, havendo um senso de unidade maior para o projeto da Universidade como um todo.
Para isso, houve grande preocupação com a organização e o design da página. A interface do projeto é formada por dimensões espaçotemporais com dados de geolocalização, sendo constituída por um mapa de todos os campi uspianos e por uma linha do tempo. Cada mapa contém fotografias de pessoas, textos e documentos, como atas de reunião e termos de divulgação, e imagens de instalações das unidades cadastradas, e é possível filtrar qual instituição ou qual período se quer ver.
Pela linha do tempo se pode conhecer quais são as unidades mais antigas, quando elas começaram, quem foram as pessoas em momentos-chave de certa unidade em determinada época. Além disso, a página já foi estruturada em um formato que possa ser aberta em tablets ou smartphones.

A maioria das unidades da Universidade tem assento no Conselho do Museu de Ciências, e é por meio de desses representantes que foi feita a difusão do projeto para a comunidade uspiana. “E nós estamos com uma adesão crescente de unidades que estão enviando e alimentando seus dados”, diz Marson. Para ele, quando um membro mostra em sua unidade que “existe esse projeto e a gente pode aumentar nossa participação”, isso pode motivar os institutos a querer ser parte desse todo.

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz é um dos locais mais ativos entre os 22 já  participantes

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz é um dos locais mais ativos entre os 22 já participantes

Marson também acredita que seja normal que a adesão leve um tempo, porque depende do quão organizadas estão as informações nas unidades, e existem algumas que nem têm esses dados compilados. Outra ideia do projeto é justamente que ele sirva como um produto que possa organizar esse trabalho das unidades. Por enquanto, o Museu tem um time que recebe as informações e as coloca no ar. “Estamos em uma primeira etapa em que o fluxo de dados passa por nós e vai on-line, mas queremos evoluir para uma situação em que as próprias unidades tenham uma conta e possam gerir suas informações.”

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