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Morte e luto são temas de mostra na Estação Pinacoteca

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USP se destaca em rankings internacionais

 

A premiada Doris Salcedo expõe suas esculturas que remetem a caixões funerários

Arte

A Estação Pinacoteca recebe, entre os dias 6 de dezembro e 3 de março do ano que vem, Plegária Muda, da premiada artista colombiana Doris Salcedo, considerada uma das figuras mais importantes da cena artística contemporânea internacional.

A exposição é um ambicioso projeto da artista desenvolvido nos últimos anos, utilizando madeira, ferro, composto mineral e grama. São dezenas de mesas de madeira que correspondem, cada uma, ao tamanho de um caixão funerário padrão, e trata sobre o tema dos desaparecidos e vítimas da violência urbana, da guerrilha, do terrorismo e das guerras do narcotráfico.

Utilizar a escultura como arte principal nas últimas três décadas foi o trabalho que a colocou em destaque na arte contemporânea. Em Plegária Muda, essa visão é intensamente valorizada, várias características marcantes da artista são encontradas: o uso de madeiras velhas remete à experiência e à memória, a cor cinzenta das mesas lembra o cimento, que foi sempre um dos seus materiais preferidos e, além disso, o objeto como vestígio expressa algo que já não está lá, uma ação que não vimos.

Madeiras gastas são o principal material da exposição

A artista que já utilizou sapatos de pessoas desaparecidas (Atrabiliarios, 1993) e moveis antigos (La Casa Viuda, 1992) fala, em um texto sobre Plegária Muda, sobre o início da obra: “Foi árduo o processo de investigação e reflexão que subjaz a esta obra. Começou no ano de 2004 com uma incursão pelos guetos de Los Angeles”. Doris voltou sua percepção para a violência urbana muito frequente na cidade: “Centrei a minha atenção na violência gerada pelas gangues de jovens e, em especial, nessa relação dúbia que se estabelece entre o papel da vítima e o do agressor. Depois de refletir sobre o assunto, dei-me conta de que este intercâmbio perverso e fluido de papéis era possível graças ao fato de ambos habitarem uma zona indefinida que alguns autores têm denominado ‘morte social’ ou ‘morte em vida’”.

A artista ressalta os objetivos de seu projeto: “Procuro articular diferentes experiências e imagens que formam parte da natureza violenta do conflito colombiano. Também pretendo conjugar uma série de eventos violentos que determinam a imparável espiral de violência que caracteriza os conflitos internos e as guerras civis em todo o mundo”.

Segundo a colombiana, Plegária Muda também corresponde à morte de 1.500 jovens entre 2003 e 2009, pelo exército colombiano, sem motivo aparente. A pesquisa profunda realizada por Doris quanto a essa situação mostra o quanto o projeto é rico em significação: “Durante meses acompanhei um grupo de mães tanto no processo de procura dos seus filhos desaparecidos como no reconhecimento nas valas reveladas pelos assassinos. Posteriormente, acompanhei-as no doloroso e árduo processo de luto e na sua busca vã por justiça perante a barbárie cometida pelo Estado”.

As inúmeras esculturas simbolizam caixões funerários

Mostrando seu viés social, a artista declara sobre seu país de origem: “Considero que a Colômbia é o país da morte insepulta, da vala comum e dos mortos anônimos. É, por isso, importante distinguir cada túmulo de forma individual, para assim articular uma estratégia estética que permita reconhecer o valor de cada vida perdida e a singularidade irredutível de cada túmulo”. A artista explica a singularidade das peças da mostra: “Cada peça, apesar de não estar marcada com um nome, encontra-se selada e tem um caráter individual, indicando um ritual funerário que aconteceu”.

Por fim, Doris deixa claro sua revolta com as tragédias ocorridas: “A repetição implacável e obsessiva do túmulo enfatiza a dolorosa repetição destas mortes desnecessárias”. Ela expõe sua expectativa: “Espero que esta obra consiga, em alguma medida, evocar e restituir a cada morte a sua verdadeira dimensão, permitindo assim o retorno à esfera do humano destas vidas dessacralizadas”.

Serviço:

Local: Estação Pinacoteca – Largo General Osório, 66, Luz
Data do Evento: 8/12/2012 até 3/3/2013
Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 17h30.
Preço: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada)
Telefone: (11) 3335-4990
Site: http://www.pinacoteca.org.br

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