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USP e A Sociedade

 

Por Ana Luiza Tieghi

ReproduçãoOrganizar as contas e fazer o dinheiro sobrar no final do mês nem sempre é fácil, mas com planejamento tudo é possível

 

O mês parece que não tem fim. O próximo pagamento está a dias de distância e o tempo passa devagar, ao contrário das contas, que invariavelmente batem na porta sem atraso. Só de passar em frente a um banco você já sente um calafrio, lembra o saldo da sua conta e imagina os juros se multiplicando, te afogando.

Ficar endividado ou mesmo perder o controle sobre as finanças pessoais causa um transtorno enorme na vida dos trabalhadores e daqueles que dependem deles. Mas precisa mesmo ser assim? Domar o orçamento doméstico pode não ser tão difícil quanto parece, e tem muita gente querendo ajudar os enforcados a saírem desse aperto.

Cecília BastosUma vida financeira saudável depende de planejamento e investimento. “Tem que fazer uma autocrítica, uma análise isenta de cada gasto”, afirma o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Luiz Jurandir Simões.

Avaliar se os gastos atuais são necessários e se existem alternativas que compensem mais economicamente é uma forma de diminuir a perda de recursos ao longo do mês. Pode parecer algo fácil de falar e difícil de fazer, mas em educação financeira não há fórmula mágica.

Porém, poupar dinheiro é uma tarefa hercúlea dependendo da quantidade de renda. “A maioria dos brasileiros ganha mil, no máximo dois mil reais. E as rendas familiares são muito baixas, além de que as famílias com rendas mais baixas são as que também têm mais filhos. Para uma parte enorme da população é muito difícil poupar”, explica o professor da FEA. Simões aponta ainda que a falta de suporte social no País, como hospitais, educação e transporte públicos e de qualidade, é mais um empecilho para que famílias de baixa renda consigam poupar recursos. “É um círculo difícil de ser rompido enquanto isso não for resolvido.”

Pé de Meia

O professor da FEA Luiz Jurandir Simões alerta para a importância de quitar dívidas, especialmente do cartão de crédito e cheque especial

O professor da FEA Luiz Jurandir Simões alerta para a importância de quitar dívidas, especialmente do cartão de crédito e cheque especial

Foi pensando na necessidade dessas pessoas e no desenvolvimento dos estudantes de Economia que a FEA de Ribeirão Preto apostou no projeto Pé de Meia. Em funcionamento desde 2012, ele leva educação financeira para escolas de ensino fundamental, médio e de ensino de jovens e adultos (EJA), além de também atender servidores públicos e empresas.

A proposta do programa foi desenvolvida por alunos da FEA-RP pertencentes à entidade estudantil Clube de Mercado Financeiro (CMF), com a supervisão do professor Alexandre Nicolella e da assistente de planejamento e avaliação Cristina Bernardi Lima. “Nossa intenção não é ensinar técnica, onde você deve investir. É sensibilizar a pessoa da importância de planejar a vida. É isso que queremos passar, que se planejar é uma ferramenta muito importante pra você ter uma vida feliz”, conta Nicolella.

“É um projeto para formação de pessoas, você muda a vida de um adolescente e da família dele”, conta Cristina. A funcionária afirma que ele veio também da vontade de desenvolver algo dentro da faculdade que envolvesse diretamente o público externo, assim como ocorre nas faculdades de Psicologia e Farmácia, por exemplo.

As palestras e workshops realizados pelo Pé de Meia são voltados para um público que ainda não tem domínio sobre suas finanças. “Queremos aquele público que está devendo no cartão, que tem dificuldade para pagar suas contas, que não entende absolutamente nada sobre renda fixa e variável. Quase 90% da população é assim”, afirma Nicolella. O foco das atividades do programa é mostrar para as pessoas que, com planejamento e disciplina, é possível organizar as finanças e conquistar alguns sonhos.

O professor conta que uma boa forma de se organizar quando sobra um dinheiro é dividi-lo em três “caixinhas”. A primeira, destinada a gastos imprevistos, como um pneu furado, pode ser a tradicional caderneta de poupança, pois esse tipo de investimento permite a retirada rápida de recursos. A segunda “caixinha” é destinada a projetos de médio prazo, ou sonhos, como uma viagem de final de ano. Nesse caso, o melhor investimento seriam títulos de renda fixa. A última caixinha é a da aposentadoria, e neste caso uma série de investimentos são indicados, como títulos do tesouro, ações e planos de previdência. “Como regra geral, eu diria que tem sempre que variar. Nunca colocar todos os ovos em uma cesta só”, aconselha.

Pé de Meia realiza ação em escola pública. O projeto é desenvolvido pela FEA-RP em parceria com a entidade estudantil Clube de Mercado Financeiro

Pé de Meia realiza ação em escola pública. O projeto é desenvolvido pela FEA-RP em parceria com a entidade estudantil Clube de Mercado Financeiro

A estudante de Economia Simone Prado Araújo participa do Pé de Meia há quase dois anos. “Eu resolvi entrar no projeto porque acho que é um dever do aluno da escola pública fazer uma atividade que traga retorno para a sociedade” afirma. Além de retribuir o investimento que a sociedade faz em sua formação, Simone conta que fazer parte da iniciativa ajudou-a até mesmo nas matérias da faculdade. “Melhorou minha capacidade de oratória, meu conhecimento sobre finanças pessoais. Tive experiências maravilhosas. O aluno que volta do Pé de Meia vem muito mais preparado.” Simone conta que sua participação a ajudou a passar com facilidade na disciplina de Mercado Financeiro, pois ela já havia visto aquilo com seus alunos, trabalhando com as experiências reais que eles traziam para as palestras.

“Não é a Universidade que está se doando, é o contrário. A Universidade ganha absurdamente quando vai para fora dos seus muros e tem contato com a realidade”, afirma o professor Nicolella. Segundo ele, a experiência adquirida pelos alunos que participam do Pé de Meia é algo impossível de ser ensinado em sala de aula e abre a mente dos estudantes para os problemas enfrentados por pessoas muitas vezes diferentes deles e de seus conhecidos. “Eles serão líderes, muitos deles farão parte de grandes corporações. Ao passar por essa realidade, vão se tornar mais sensíveis e vão conseguir entender a dimensão da exclusão e o que é viver em uma situação com uma quantidade pequena de recursos e de preparo”, acredita. Aproximadamente 1,7 mil pessoas já foram beneficiadas pelo Pé de Meia.

Conta Comigo

O projeto Pé de Meia também leva educação financeira para empresas eservidores públicos

O projeto Pé de Meia também leva educação financeira para empresas e
servidores públicos

A SP-PREVCOM (Fundação de Previdência Complementar do Estado de São Paulo) também percebeu a necessidade que seus clientes tinham de obter mais informações sobre educação financeira. Como resposta, criou o programa Conta Comigo, que entrou em funcionamento no segundo semestre de 2014 e foi desenvolvido sobre os pilares da informação, formação e orientação e tem como objetivo ajudar o servidor do Estado a equilibrar suas finanças, melhorar sua aposentadoria e acompanhar o seu patrimônio previdenciário. É o que conta Ana Carolina de Lima Vieira, coordenadora do programa e responsável pelo seu conteúdo.

“O nível de informação sobre educação financeira é muito diferente. Dentro de um mesmo grupo tem pessoas dando os primeiros passos na educação financeira, enquanto outras estão num estágio mais avançado, isso é muito pessoal”, afirma. Ela conta que os servidores chegavam para fazer seus planos na SP-PREVCOM com muitas dúvidas, e alguns também com muitas dívidas. “O nível de endividamento do servidor público é extremamente alto no Brasil”, aponta.

O Conta Comigo é formado por palestras e workshops sobre gestão de finanças pessoais e educação previdenciária; cursos para auxiliar os participantes no acompanhamento do patrimônio previdenciário; e outras palestras sobre educação previdenciária específicas para profissionais de Recursos Humanos dos órgãos patrocinadores da entidade. Além disso, também existem plantões de atendimento pelo telefone (11) 3150-1909 e pelo portal contacomigo.spprevcom.com.br. O portal é outro destaque do programa. Nele é possível encontrar notícias e artigos sobre finanças pessoais, aposentadoria e investimentos, planilhas e outros conteúdos que ajudam a fazer seu orçamento e as informações completas sobre as próximas palestras e atividades. O conteúdo on-line do Conta Comigo está disponível para qualquer interessado, mesmo aqueles que não possuem um plano de previdência da entidade.

“Nossa intenção é sensibilizar a pessoa da importância de planejar a vida”, conta Alexandre Nicolella

“Nossa intenção é sensibilizar a pessoa da importância de planejar a vida”, conta Alexandre Nicolella

Ana Carolina conta que é frequente encontrar nas atividades pessoas que já participaram de outras palestras e workshops do programa, e ouvir frases de alívio. “Elas falam que conseguiram renegociar suas dívidas, estabelecer um bom relacionamento com o gerente do banco, equilibrar suas finanças, não entram mais no cheque especial, conseguiram começar a poupar”, afirma. Também é comum ouvir que os participantes passaram a rever sua relação com o dinheiro e a gastá-lo de forma mais consciente – e melhor. “A mesma coisa em relação à aposentadoria. A questão do planejamento da aposentadoria exige antecedência, quanto mais tempo de contribuição a pessoa tiver, maior vai ser sua oportunidade de concretizar o projeto que ela tem”, explica.

Ano novo, mesma história

Com a chegada do décimo terceiro, pode parecer que o final do ano seja uma boa época para começar a investir e poupar para o futuro. Porém, o professor da FEA Luiz Jurandir Simões alerta que vale mais a pena zerar possíveis dívidas. “Tem muita gente pagando dívida com 4%, 8% de juros, a do cheque especial, por exemplo. Não adianta investir em poupança para ganhar 0,5%, 0,9%.” Segundo ele, dívidas caras são insustentáveis e pesam muito na vida dos devedores, “principalmente as do cheque especial e do cartão de crédito”. O ideal é que a pessoa se livre delas na primeira oportunidade, para só depois pensar em poupar, não importa qual a escolha do investimento. “Pague a dívida, porque as dívidas são muito mais caras do que o investimento.”

Conta Comigo é o programa de educação financeira da SP-PREVCOM. Na imagem, a coordenadora Ana Carolina de Lima Vieira introduz palestra com o escritor Gustavo Cerbasi

Conta Comigo é o programa de educação financeira da SP-PREVCOM. Na imagem, a coordenadora Ana Carolina de Lima Vieira introduz palestra com o escritor Gustavo Cerbasi

E para quem tem medo só de ouvir falar em investimentos e mercado financeiro, o professor Alexandre Nicolella ressalta a facilidade que existe atualmente para se encontrar informação nos mais diversos níveis de profundidade.  “Para quem tem paciência e tempo para aprender, as coisas estão na rede”, afirma. As corretoras também possuem pessoal treinado para direcionar o futuro investidor e guiá-lo pelo mercado, que, segundo ele, não é diferente de nenhum outro comércio. “Não é nada de outro mundo. Só precisa que você invista um pouco do seu tempo em entender esse mercado, que é como qualquer outro, ele vende um produto”, explica. E aí, que tal incluir o planejamento financeiro na lista de coisas a fazer em 2015?

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