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Isabela Morais

Negligência com a saúde dos ouvidos pode tornar a perda da capacidade de ouvir um problema grave e sem volta

Escutar é uma atividade tão natural quanto respirar. De manhã, ao menor barulho despertamos e durante todo o dia, temos facilidade em conversar, interagir e distinguir objetos ou pessoas pelos simples ruídos que emitem. A naturalidade com a qual exercemos esse sentido, porém, pode mudar paulatinamente. Com isso, só nos damos conta de que não escutamos tão bem quanto antes, quando não entendemos o que os amigos dizem, precisamos assistir à televisão no volume máximo e o simples fato de distinguir um som se torna uma tarefa custosa. Segundo dados do Censo 2010, cerca de 7,5 milhões de brasileiros têm alguma dificuldade para ouvir.

De acordo com Ricardo Ferreira Bento, médico otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina (FMUSP), a perda de audição é um problema comum e é uma das causas de deficiência mais citadas pela população. Ele explica que existem dois tipos de surdez: a de condução e a do nervo auditivo ou da cóclea. A primeira é menos comum e acontece quando as ondas sonoras não são bem conduzidas para o ouvido interno. Já a segunda ocorre quando o órgão interno da audição não consegue transformar a energia mecânica da vibração do som em energia elétrica para transmiti-la ao cérebro.

“O diagnóstico precoce é crucial para poder controlar e tratar a maioria das causas da surdez. É muito importante destacar: sempre há alguma coisa a se fazer”

Surdez de condução

Bento destaca que as principais causas desse tipo de ensurdecimento são o excesso de cera, as infecções de ouvido e a imobilização de um ou mais dos pequenos ossos do órgão. “Normalmente os problemas desse tipo de surdez podem ser resolvidos por meio de tratamento médico com medicamentos ou por uma cirurgia”, diz.

O cerúmem (popularmente conhecido como cera) é uma produção natural da pele do canal externo do ouvido e tem como função proteger a cútis de germes e substâncias que podem contaminá-la. “A secreção de dentro do canal não deve ser retirada, pois não é sujeira. Devemos apenas retirar, com uma toalha, o cerúmem que aparece na parte externa da orelha, por questões estéticas. Não se pode introduzir nada, nem mesmo cotonetes, dentro do ouvido”, aconselha.

O médico afirma que algumas pessoas podem produzir tanta cera por toda a vida que chegam a desenvolver uma espécie de tampão no ouvido, que impede a passagem do som. Ele conta: “Essa espécie de rolha que se forma deve ser retirada por um médico. Não faça lavagens ou remoções em farmácias, pois há grandes chances de ocorrer perfurações”.

“A otite média aguda pode ser muito séria, mas, se tratada rapidamente, não deixará nenhum dano”

Já as infecções que podem levar à surdez por condução são as chamadas otites, que acontecem tanto na parte interna quanto externa do órgão auditivo. A otite média aguda, por exemplo, ocorre com a inflamação do ouvido médio por germes, bactérias ou vírus e é diagnosticada com frequência em crianças pequenas, durante os meses de outono e inverno. Os principais sintomas são dores, sensações de pressão, tontura, náuseas, secreção abundante e febre. “A otite média aguda pode ser muito séria, mas, se tratada rapidamente, não deixará nenhum dano”, assegura.

Outra manifestação pode acontecer pela perfuração da membrana do tímpano e é chamada de otite média crônica. O trauma costuma ocorrer por objetos colocados dentro do ouvido ou ainda por uma pressão do canal. Nessas situações, é comum a presença de pus na área infeccionada ou em regiões vizinhas. O médico alerta: “A otite média crônica pode afetar os ossinhos do órgão e provocar um tumor chamado colesteatoma. A perfuração timpânica tem tratamento cirúrgico”.

Surdez da cóclea ou do nervo auditivo

A segunda forma de surdez é a mais comum e suas causas variam desde problemas menores, como a diminuição da irrigação sanguínea, até mais sérias, como tumores cerebrais. O otorrinolaringologista esclarece que tais problemas começam a ocorrer com o envelhecimento, a partir dos 55 anos de idade, e variam de pessoa para pessoa. Os dois motivos mais comuns são a exposição a ruídos de alta intensidade e a presbiacusia (surdez pela idade). Também destacam-se as viroses (como a rubéola e a caxumba), a meningite, os defeitos congênitos, os problemas metabólicos como diabetes, as alergias, as doenças cardiocirculatórias e a propensão hereditária. “O diagnóstico precoce é crucial para poder controlar e tratar a maioria das causas da surdez. É muito importante destacar: sempre há alguma coisa a se fazer”, declara.

Para pessoas com problemas alérgicos ou metabólicos, o tratamento é medicamentoso. Já para tumores, a solução encontrada é cirúrgica. “Em muitos casos, não existe a cura, porém o uso de um aparelho pode restaurar a audição. Eles funcionam como os óculos para pessoas que não enxergam. Esses artefatos tiveram um grande avanço tecnológico nos últimos anos e hoje em dia são de muito boa qualidade”, conclui.

Zumbido

 Já os zumbidos no ouvido, que atingem cerca de 15% da população mundial, podem ter diversas causas. A prevalência desse problema na população brasileira ainda é desconhecida, mas acredita-se que o número de pessoas afetadas no País seja de aproximadamente 28 milhões. Apesar da alta incidência, apenas 5% dos afetados se incomodam com o problema devido aos altos prejuízos à qualidade de vida.

Existem diversos tipos desses chiados, agudos ou graves, que costumam ser comparados a outros tipos de som como apitos, cigarras, grilos, cachoeira, panela de pressão, entre outros. Há também situações em que o incômodo vem de fora do ouvido e é produzido em vasos sanguíneos ou músculos próximos.

Apesar de incômodo, na maioria dos casos, o zumbido não costuma ser o sintoma de alguma doença fatal ou grave. Segundo Bento, como as causas podem ser diversas – desde problemas psiquiátricos até alterações emocionais –, é preciso realizar uma série de exames para investigar sua origem. Contudo, a perda de audição está associada a aproximadamente 90% dos casos.

Ruídos da cidade

“Em muitos casos, não existe a cura, porém o uso de aparelho pode restaurar a audição”

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP), Karina Mary de Paiva desenvolve, para seu doutorado, a pesquisa “Poluição Sonora no Município de São Paulo: Mapeamento do Ruído e seus Efeitos à Saúde da População”. O objetivo do estudo é catalogar as áreas ruidosas da cidade para auxiliar na prevenção dos efeitos nocivos à saúde da exposição ao barulho exagerado. “Esses mapas são ferramentas estratégicas que permitem representar o comportamento acústico em uma área geográfica, além de estimar a população exposta. Internacionalmente, já existem leis de obrigatoriedade da produção desses registros como forma de evitar, prevenir e reduzir os efeitos nocivos da exposição ao ruído”, explica.

Para a doutoranda, os altos ruídos urbanos nos dias atuais se relacionam ao aumento das fontes rodoviárias e aéreas motivado pela urbanização e a industrialização. Não há, porém, relações diretas comprovadas cientificamente quanto à perda de audição em função da exposição a esses sons, pois existe uma suscetibilidade individual e uma diferença no perfil da exposição de cada indivíduo em sua rotina. “Os efeitos mais estudados envolvem aspectos extra-auditivos, como o incômodo, a dificuldade de concentração, estresse, problemas de sono e também ligados à saúde mental. Mas é claro que a manutenção de ambientes acusticamente favoráveis em grandes centros urbanos é imprescindível à saúde e qualidade de vida da população”, revela.

As causas da surdez

As causas da surdez de condução são:
- Acúmulo de cera de ouvido
- Infecções (otites secretora, média aguda e média crônica)
- Imobilização de um ou mais ossos do ouvido

Tratamentos:
- As causas da surdez de condução devem ser tratadas por meio de um acompanhamento médico com medicamentos ou por meio de cirurgias.

As causas da surdez de cóclea ou nervo auditivo são:
- Viroses
- Meningite
- Uso de certos medicamentos ou drogas
- Propensão genética
- Exposição ao ruído de alta intensidade
- Presbiacusia
- Traumas na cabeça
- Defeitos congênitos
- Alergias
- Problemas metabólicos
- Tumores

Tratamentos:
- Medicamentos
- Cirurgia
- Uso de aparelho

Para evitar qualquer quadro de possível perda auditiva, o professor Ricardo Ferreira Bento orienta: “Procure sempre um otorrinolaringologista caso você ou alguma pessoa próxima não entenda direito o que as pessoas falam, use o rádio ou a televisão muito alto, peça constantemente para repetir o que as pessoas falam ou faça esforço para ouvir”.

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