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Os retratos no acervo da Pinacoteca

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Por Ana Luiza Tieghi
O retrato de Décio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado e Alfredo Mesquita, feito por Luis Bueno D’Horta em 1981, faz parte da seleção da mostra

O retrato de Décio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado e Alfredo Mesquita, feito por Luis Bueno D’Horta em 1981, faz parte da seleção da mostra

Exposição destaca gênero de arte que pode ir além da representação da realidade

 

Antes do surgimento da fotografia, os retratos, obras de arte que representavam pessoas, serviam para imortalizar uma imagem que de outra forma seria perdida conforme os anos passassem. As pinturas, desenhos ou até mesmo esculturas eram as únicas formas de se lembrar da aparência de alguém, de possuir uma representação de como aquela pessoa era.

Por essa razão, os retratos sempre tentavam se aproximar da imagem real, copiando o objeto retratado em seus mínimos detalhes, sem dar espaço para a subjetividade artística e às possíveis interpretações pessoais da realidade. Era uma arte objetiva como uma lente fotográfica.

Seria de se esperar então que o advento da fotografia e das lentes de verdade suprissem essa demanda e os retratos caíssem em desuso. Uma imagem que é cópia fiel de uma pessoa serviria muito melhor para representá-la, tornando esse gênero de arte algo sem propósito. Porém, não foi isso o que aconteceu.

Os retratos pós-fotografia

Os retratos continuaram sendo feitos, porque para a arte nem sempre interessa ser uma cópia da realidade. Algumas correntes artísticas, como o Cubismo e o Modernismo, já no começo do século 20 abusavam da interpretação do real, distorcendo formas e cores e modificando as proporções e perspectivas dos objetos.

O autorretrato de Raphael Galvez, de 1944, apresenta uma interpretação do artista sobre si mesmo

O autorretrato de Raphael Galvez, de 1944, apresenta uma interpretação do artista sobre si mesmo

A exposição “Retratos no Acervo da Pinacoteca do Estado”, em apresentação até o dia 3 de novembro, conta com várias obras que foram feitas após a invenção e popularização da fotografia. Elas se dividem entre pinturas, gravuras, esculturas e até mesmo fotografias, mostrando que esse é um gênero artístico muito diversificado.

A maioria dos retratos em exposição foge da tentativa de cópia da realidade e apresenta interpretações pessoais dos artistas. Como conta Pedro Nery, curador da mostra: “O retrato era um meio de vida dos artistas, uma forma de sobrevivência. A exposição pega principalmente da década de 1940 para frente. Claro que a fotografia entra no meio disso, a forma de retratar pela pintura continua, mas ela muda”.

Mesmo sendo uma representação que fugia da fidelidade com o real, os retratos continuaram sendo objetos de desejo para várias pessoas, que ainda queriam ser representadas pelos olhos de um artista. “Havia um interesse dos retratados em se colocar sobre uma nova linguagem pictórica”, afirma Nery. Os próprios artistas também queriam ser colocados dentro dessa nova lógica. A exposição apresenta vários autorretratos, nenhum buscando uma forte semelhança com o real. São representações dos artistas se enxergando através de sua própria arte.

A exposição conta com obras de artistas mundialmente reconhecidos, como Cândido Portinari, Lasar Segall e Di Cavalcanti, além de outras feitas por artistas menos conhecidos, como Wesley Duke Lee e Renina Katz. Entre as esculturas, há uma de Victor Brecheret, famoso pelo grande Monumento às Bandeiras, localizado na entrada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Duas fotografias também compõem a mostra, ambas feitas por Juan Esteves em 2002. As imagens são especialmente interessantes por dialogarem com outras obras da exposição. Elas são retratos dos artistas Renina Katz e Octávio Araújo, e estão dispostas ao lado dos autorretratos feitos por eles. Essa situação promove uma conversa entre os dois tipos de representação que poderiam ser antagônicos, mas encontraram uma maneira de conviver e de agregar conteúdo um ao outro.

Uma exposição dentro da outra

Um dos vários autorretratos presentes na exposição, a obra de Yoshiya Takaoka não procura ser estritamente fiel à realidade

Um dos vários autorretratos presentes na exposição, a obra de Yoshiya Takaoka não procura ser estritamente fiel à realidade

A mostra “Retratos no acervo da Pinacoteca do Estado” integra a exposição de longa-duração “Arte no Brasil: uma história na Pinacoteca de São Paulo”, em cartaz desde janeiro e que pode ser visitada até o final de 2015. Várias mostras de menor duração acompanham a exposição, oferecendo uma visão mais detalhada e cuidadosa sobre determinados gêneros artísticos ou períodos de tempo. É uma ótima oportunidade para conhecer melhor a arte brasileira desde a colonização até os dias atuais.

A presença de obras contemporâneas dividindo o mesmo espaço com outras obras mais antigas é um ponto singular da “Arte no Brasil”. As obras mais recentes, acompanhadas de um painel com explicações e interpretações, possibilitam que o visitante trace um paralelo entre o que o antigo e o atual buscam representar, e encontre semelhanças entre formas artísticas tão diferentes quanto uma pintura do século 19 e uma colagem de papel do século 20.

Serviço

Exposição “Retratos no Acervo da Pinacoteca do Estado”, em cartaz até o dia 3 de novembro, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, localizada na Praça da Luz, nº 2, Luz. A visitação ocorre de terça a domingo, das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Durante todo o sábado a entrada é gratuita. Na quinta, a Pinacoteca fica aberta até as 22h, e os visitantes entram de graça após as 18h. Crianças menores de 10 anos e idosos acima de 60 não pagam. Os ingressos valem tanto para a Pinacoteca quanto para a Estação Pinacoteca e custam R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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