Por Alessandra Goes Alves

Após fase de experimentação na Escola Politécnica, projeto sai do campus e interliga metrô e Cidade Universitária

“Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio.” As palavras de Albert Einstein traduzem o espírito da inauguração do Pedalusp na Estação Butantã do Metrô, no dia 23/9, o Dia Mundial Sem Carro.

Desenvolvido pela Escola Politécnica da USP, o Pedalusp é um programa de empréstimo de bicicletas para alunos, professores e funcionários da USP circularem pela Cidade Universitária.

O projeto que nasceu em 2009, a partir do trabalho de conclusão de curso de Maurício Serrano Villar e Maurício Matsumoto, alunos de engenharia mecatrônica. Após intercâmbio à França, os dois pensaram como a bicicleta poderia melhorar a mobilidade das pessoas na Cidade Universitária. “Fizemos estudos sobre a circulação das pessoas no Campus: quantas pessoas utilizam o Circular, onde elas descem e, assim, saber quais são os pontos de maior circulação”, afirma Villar. Concluído o trabalho de formatura, eles apresentaram o projeto à Coordenadoria do Campus da Capital, que o acolheu. “Após avaliação, o pedalusp foi abrigado no Programa de Pesquisa e Experimentação para a Sustentabilidade do Campus (Propesc) e a tecnologia empregada no sistema continuou sendo desenvolvida”, conta o professor José Sidnei Martini, coordenador do campus da capital.

Após a inauguração, as bicicletas do Pedalusp são estreadas por Jurandir Fernandes e Sergio Avelleda

Antes de inaugurar a base de empréstimo na Estação Butantã, o Pedalusp passou por fase de experimentação. Durante quatro meses, existiam dois pontos para o empréstimo de bicicletas na Cidade Universitária: o Prédio do Biênio e o Departamento de Engenharia Mecânica, na Poli. A intensa demanda fez o projeto ser ampliado. Segundo Jurandir Fernandes, secretário dos Transportes Metropolitanos, a parceria entre o Metrô e a USP surgiu quando ele estava em Montreal: “Os estudantes entraram em contato comigo e aceitei fazer”.

Para a inauguração do projeto no Metrô Butantã, também houve uma parceria entre o Pedalusp e o Instituto Parada Vital, ONG que cuidará das bicicletas do projeto. Criado em 2007, o Instituto utiliza espaços públicos, mistos ou privados, para implantar bicicletários em locais onde há grande concentração ou passagem de pessoas. A operacionalização dos empréstimos será feita pelo USE BIKE, sistema do Instituto Parada Vital que oferece bicicletários e paraciclos em pontos estratégicos da cidade. O USE BIKE é o primeiro sistema de transporte complementar e integrado de bicicletas públicas instalado da América Latina.

Para dar maior segurança aos ciclistas, foi feita uma ciclorota com sinalização viária de 1.100 metros que se estende pelas ruas Engenheiro Bienor, Gaspar Moreira e pela Avenida Afrânio Peixoto. Tanto o Pedalusp quanto a ciclorota funcionarão de segunda a sexta-feira, entre 6 e 22 horas (exceto feriados).

Maurício Villar, idealizador do Pedalusp, já utiliza as bicicletas após a inauguração do Pedalusp ma Estação Butantã

Para realizar os empréstimos, o usuário deve cadastrar o seu número USP no site do Pedalusp, como já ocorria na fase teste. Com a inauguração da base no metrô Butantã, serão disponibilizadas 16 bicicletas e o usuário poderá gastar até 30 minutos para percorrer a ciclorota que liga essa estação ao Centro de Visitantes, a outra base de empréstimos do Pedalusp próxima ao Portão 1 da Universidade. O usuário não paga pelo empréstimo das bicicletas, mas pode ser suspenso temporariamente caso ultrapasse o limite de tempo ou saia com a bicicleta fora do percurso estabelecido. Outras regras de uso do sistema constam no site http://pedalusp.uspnet.usp.br/regulamento.

Com a ampliação do projeto, os pontos de empréstimo da Poli foram desativados e a intenção é reabri-los assim que o Pedalusp for expandido dentro da Cidade Universitária. Segundo Maurício Villar: “A intenção é ampliá-lo e disponibilizar cem bicicletas em dez bases de empréstimo em diferentes pontos do campus da capital para as pessoas deixarem as bicicletas próximas às suas unidades”. Agora, os dois pontos para a retirada das bicicletas são o Metrô Butantã e o Centro de Visitantes.

Na inauguração da base no metrô Butantã, Villar foi questionado sobre a aplicação do Pedalusp em outros pontos fora da Universidade. Ele disse que o projeto é um sistema alternativo pensado primeiramente para a Cidade Universitária. “Seria interessante interligarmos com outras unidades do Metrô e a CPTM, mas agora vamos focar no campus para desenvolver um projeto legal.”

Nome do bicicletário é uma homenagem ao empresário e cicloativista morto em acidente de trânsito

O professor Martini avalia a importância do Pedalusp para São Paulo. “A cidade, que já iniciou movimentos para promover o uso da bicicleta, ganha uma importante colaboradora: a USP. Isso fortalece o conceito de que as ruas não são feitas somente para veículos automotores, mas que são vias de uso compartilhado, onde uma nova disciplina de respeito e convivência deve ser incorporada no dia a dia do cidadão paulistano.”

Durante a cerimônia de inauguração, o presidente do Metrô, Sérgio Avelleda, citou dados da pesquisa Origem e Destino, feita pelo Metrô na Grande São Paulo, em 2007. Segundo ela, são realizadas mais de 300 mil viagens diárias de bicicleta e 70% referem-se ao deslocamento para o trabalho. Menos trânsito, menos custos e mais saúde. Melhorar a mobilidade das pessoas dentro da Cidade Universitária, incentivar o uso da bicicleta e, a partir disso, pensar um novo modo de se locomover em São Paulo, criando outros pontos de conexão entre estações de Metrô e lugares com grande fluxo de pessoas. Essa ideia mostra por que andar de bicicleta pode ser mais inovador do que parece.