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Por trás de retratos anônimos

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Reforma política é possível?

 

Por William Nunes
Haroldo Kennedy

As obras valorizam as expressões e a tez do rosto de pessoas invisíveis aos olhos da sociedade

A obra de Éder Oliveira questiona a sociedade e humaniza pessoas desconhecidas por meio da pintura

Muitos artistas procuram transmitir uma mensagem através de suas obras. Não é diferente com Éder Oliveira, vindo de Belém (PA) para exibir sua arte nas paredes da 31ª Bienal de São Paulo. Suas pinturas são inspiradas em retratos de pessoas que aparecem nas páginas de jornal policial e são representadas nos muros da cidade onde mora, em Nova Timboteua.

Segundo Éder, seu trabalho fala sobre identidade cultural, onde ele investiga um povo específico — no caso, o povo amazônico — e tenta entrar em questões raciais e etnológicas de como se constrói a imagem dessa população. Há uma utilização mais humana em como os anônimos são representados, valorizando as expressões, a tez e traços étnicos, mesmo quando pintados em monocromático. “É preciso pensar não o fato criminal, o acontecimento ou uma pessoa específica, mas como se aquela imagem fosse uma amostragem de um todo”, explica o artista.

A mensagem

Além da retratação do tipo físico de cada indivíduo, as pinturas também fomentam um questionamento social. “Por que é esse povo que está nas páginas policiais? Por que não é outro?”, questiona. “Se você olhar as páginas policiais de Belém, diariamente há dezenas de fotos de pessoas que têm a expressão muito parecida. É quase como se tivesse um perfil racial de quem é criminoso, de quem representa perigo para a sociedade.”

Francisco Emolo

Éder Oliveira, artista de Belém (PA), que estará presente na 31ª Bienal de São Paulo

Pintar nos muros foi o meio que Éder encontrou que mais condizia com o seu objetivo. Ele escolheu a intervenção urbana pela necessidade de se contrapor, pelo fato de que as pessoas anônimas dos retratos haviam saído das ruas e que, de alguma forma, se envolveram com uma situação criminal. “Os pais e avós dessas pessoas vieram de outros lugares e foram se construindo ao redor da cidade, assim como acontece sempre, e então eles acabam se debelando pela periferia, tendo menos oportunidades e escolhendo caminhos diferentes”, comenta o artista.

Francisco Emolo

Preparações para a exposição da Bienal. Éder também trabalha com a pintura a óleo e acrílica sobre tela

Segundo sua visão, esses mesmos indivíduos possuem raízes estampadas, valores culturais e trejeitos do interior. E é isso uma das coisas que a sua arte quer dizer. Procurar buscar pontos em comum para mostrar que eles existem, esquecer as particularidades do que cada um fez, chegando ao tema da Bienal. Além disso, as obras de Éder combatem as aparências preconcebidas de quem é nocivo à sociedade ou não, opondo-se a como são retratadas nos jornais pessoas que se envolveram com crime. Para o artista, essas imagens que saem na mídia só reforçam esse preconceito. “Tenho em casa pilhas de jornais nos quais me baseio. Todos têm o rosto muito parecido. Você pode achar que já viu a mesma coisa três páginas atrás, mas não. São tipos físicos muito próximos”, diz Éder.

A Bienal

A obra de Éder não surgiu da influência de nenhum grande nome. Ele começou o curso de Arte e quando estava no terceiro ano passou a investigar a área de retrato mais a fundo. Foi quando seu trabalho começou a surgir e passou a ter um significado. “Eu tinha uma necessidade de representar o outro, um fascínio pela ideia de você conseguir representar com lápis e tinta a figura de alguém”, conta.

Haroldo Kennedy

Os retratos também procuram investigar a figura do povo amazônico

Para que fosse chamado a expor na Bienal, os curadores viajaram pelo Brasil e fizeram um mapeamento do cenário artístico brasileiro. Para isso, foram buscar nomes em diferentes regiões do País. Quando chegaram a Belém, conheceram o trabalho de Éder e acharam que a ideia tinha a ver com o tema proposto. “Eu não imaginava que isso fosse acontecer”, diz ele. “Eu sou anônimo. O trabalho tem certa visibilidade, mas está no início e a Bienal é importante por isso. Vai tornar notório algo que estou querendo dizer. Quero falar sobre raízes, identidade cultural e agora vai ser mais fácil de eu ser escutado”, conclui Éder.

Mais informações: http://www.ederoliveira.net/

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