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Sem distâncias para aprender

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Sem distâncias para aprender

 

Por William Nunes

Cecília BastosA Educação a Distância tem ganhado destaque no Brasil. Mas quais serão as expectativas para o futuro desse tipo de ensino?

 

O tempo para quem mora nas grandes cidades está ficando cada vez mais apertado. E para quem busca uma qualificação, estudar significa encaixar mais um compromisso na sua agenda. Para isso, as pessoas têm procurado soluções mais alternativas para complementar o seu aprendizado. É o que aponta pesquisa do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira): do ano de 2011 para 2012, as matrículas em cursos a distância avançaram em 12,2% e atualmente representam mais de 15% dos alunos regularizados em cursos superiores. Os dados apontados ainda não contabilizam as matrículas em cursos técnicos e abertos, números que tornam os resultados da pesquisa ainda mais otimistas.

Professor Claudio Furukawa gravando vídeo-aula

Professor Claudio Furukawa gravando vídeo-aula

Além da falta de tempo, outros motivos colaboraram para que as estatísticas da EaD crescessem. Pesquisas mostram que os alunos de graduação dessa modalidade de ensino são mais velhos, experientes e, geralmente, já trabalham e têm família constituída. Eles buscam reinserção no mercado de trabalho ou melhores condições para prosseguir na carreira. Segundo Marciel Consani, professor da disciplina de Educação a Distância no curso de Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), o funcionamento do mercado obedece às pressões econômicas. “Há uma tendência a deslocar um grupo até determinado lugar para se ter um curso. Mas as estratégias já estão começando a mudar, porque é muito mais difícil permitir que os funcionários se desloquem para algum lugar do que trazer os centros de educação para onde eles estão”, diz Consani. Para colaborar com isso, o professor explica que uma das metas é focar o reconhecimento legal desse tipo de ensino.

Segundo o Inep, já são quase 6 milhões de matriculados em cursos não presenciais

Segundo o Inep, já são quase 6 milhões de matriculados em cursos não presenciais

Hoje, a teoria é que os cursos a distância devem ser considerados do mesmo modo que os formais, de acordo com o Ministério da Educação. Apesar de ainda haver preconceito, os especialistas da área acreditam que este panorama não demorará a mudar. Segundo Luciano Sathler, diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), “cada vez mais o que faz a diferença é a instituição na qual você estudou. E à medida que a sociedade se familiariza com a internet banda larga, as redes sociais e os softwares de vídeo, esta mudança será inevitável e facilitará o ensino a distância”.

Os docentes também têm que se preparar de acordo com essa modalidade.

Para o professor Consani, “é preciso estabelecer um novo modelo de relação docente-aluno e fugir do padrão da escola tradicional”. O principal ponto que deve ser desenvolvido pelos professores que ministram aulas não presenciais é a abordagem diferenciada. Devido à alta disponibilidade de informação, caberá a quem ensina transformá-la e transmiti-la da melhor maneira possível. Além disso, esses profissionais precisam trabalhar em equipe para produzir as aulas com designers institucionais e pedagogos, através de muito apuro didático. A EaD não admite improviso, não pode ter erro ou falta de revisão e exige muito planejamento. Por ser um modelo didático totalmente diferente do presencial, ela enfrenta muita resistência de professores mais conservadores. Apesar disso, segundo Luciano Sathler, há relatos de que muitas faculdades que adotam a EaD como modalidade de ensino trazem resultados de corpo docente muito mais qualificado também presencialmente. “Eles voltam mudados”, diz o diretor.

 

O que tem sido feito para o futuro

 

Luciano Sathler, diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância

Luciano Sathler, diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância

Em razão de todas as suas facilitações, a Educação a Distância é uma das responsáveis por colaborar com um sistema inclusivo no ensino, não só do Brasil, mas do mundo. Na Conferência Mundial sobre Ensino Superior de 2009, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) definiu que a EaD deveria ser um dos principais meios para tornar o ensino superior mais democrático. Caso as nações não incluíssem as novas tecnologias, os países talvez não acompanhassem o desenvolvimento devido à falta de formação de profissionais.

Ainda como projeto da Unesco, foi criada a Cátedra em Educação a Distância, cujos objetivos são: 1) qualificar professores para compreender as tecnologias no processo de ensino-aprendizagem; 2) oferecer formas de educação mais acessíveis do ponto de vista socioeconômico; 3) realizar pesquisas sobre o perfil do aluno de EaD visando a otimizar a didática da modalidade; e 4) incentivar métodos alternativos de ensino.

 

Através da EaD, o educando pode se tornar protagonista da sua própria educação”, Marciel Consani, professor da ECA.

 

Já no Brasil, para Sathler, ainda que enfrentemos algumas resistências em relação à educação não presencial, tanto por parte da população quanto do mercado de trabalho, “há pessoas dentro do governo que lutam pelo seu fortalecimento”. Nesse sentido, o País conta com a Universidade Aberta do Brasil (UAB), um projeto da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que destina verbas de âmbito federal para o fomento ao Ensino a Distância. Além disso, o Sistema S (Senac, Sesi, Sebrae, Sesc) também investe para democratizar o aprendizado e é um conjunto de instituições de interesse do mercado profissional. Num panorama geral, atualmente já são disponibilizados quase 8 mil cursos de EaD, contando apenas os ministrados totalmente a distância, semipresenciais e os cursos livres. “É um fenômeno que veio para ficar”, completa Sathler.

Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de Graduação da USP

Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de Graduação da USP

E apesar de no âmbito brasileiro essa modalidade estar evoluindo muito, os números, quando comparados mundialmente, ficam abaixo da média. Só na Espanha, a Uned (Universidade Nacional de Educação a Distância) atua há 35 anos no mercado e atende 200 mil alunos. Segundo Luciano Sathler, este atraso do Brasil tem base em várias razões. Muitos desses países europeus deram início ao ensino superior muito mais cedo e, consequentemente, a educação a distância surgiu antes também. “Aqui ocorre um fenômeno interessante que aconteceu com a televisão. Em outros lugares, as pessoas saíram do analfabetismo para o livro, e do livro para a televisão. No Brasil, partimos do analfabetismo direto para a televisão”, compara o diretor. “Agora estamos saindo do ensino presencial, que já é defasado, direto para a internet. Infelizmente, nosso país, pelo seu tamanho, tem um resgate histórico com a educação e agora temos muito trabalho a fazer.”

 

Na Universidade de São Paulo

 

No que diz respeito ao ensino a distância, a USP tem começado a dar alguns passos. No entanto, o pró-reitor de Graduação, Antonio Carlos Hernandes, alerta para que fique clara a diferença entre os tipos de cursos abordados. Os maiores esforços da Universidade têm sido direcionados para os cursos livres, aqueles que complementam a formação do estudante universitário, tanto da graduação quanto da pós. As aulas geralmente são ministradas em parcerias com grandes projetos de EaD, como a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), o Veduca e, o mais recente acordo internacional, o Coursera. A modalidade ainda é claramente incipiente na Universidade, se comparada a outras instituições de ensino, principalmente privadas. Segundo o pró-reitor, é necessário inserir cada vez mais os recursos de tecnologia da informação dentro da sala de aula. Além disso, também é preciso que os docentes e alunos se adaptem e se familiarizem com as novas ferramentas das quais a USP já dispõe. “O objetivo geral é primeiro melhorar os cursos presenciais e aí então analisar as possibilidades e transpor o conhecimento para a educação a distância”, resume Hernandes. “É o que instituições de lá de fora fizeram.” Um dos cursos formais de graduação não presencial que a Universidade oferece é o de Licenciatura em Ciências, via Univesp, e a primeira turma se formou este ano.

José Eduardo Krieger, pró-reitor de Pesquisa da USP

José Eduardo Krieger, pró-reitor de Pesquisa da USP

Para a pós-graduação, as aulas ministradas por docentes da USP têm a função de instrumentalizar. Segundo o pró-reitor de Pesquisa, José Eduardo Krieger, “cada pesquisador hoje acaba sendo um gestor por estar envolvido em grandes projetos, só que nós quase não temos treinamento para isso. Então o ensino a distância pode ser como uma complementação e treinamento continuado de gerenciamento de projetos, capacitando as pessoas a fazer o modo de pesquisa atual”. Esse tipo de ferramenta vai ao encontro de um dos principais objetivos da Pró-Reitoria de Pesquisa, que é evitar que os pesquisadores dispendam muito tempo nas atividades burocráticas do seu estudo e foquem mais a atividade-fim, as investigações e os resultados em si.

 

Algumas submodalidades de Educação a Distância

 

Totalmente a distância: cursos regulamentados, que oferecem diploma e só exigem presença para fins de avaliações.

Blended, híbridos ou semipresenciais: são misturados e permitem que 20% da carga horária de estudos seja a distância.

Cursos livres: não exigem regulamentação normativa, são independentes e costumam ser usados para complementação de aprendizado. Muito da EaD está sendo feito nesse modelo.

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