comunidade usp

Tecnologia com bom senso

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais
50 anos em prol do livro universitário

 

Por Gabriela Stocco

Uso excessivo de smartphones pode causar dores e inflamações

No Brasil, cerca de 9 milhões de smartphones foram vendidos em 2011, segundo estudo da IDC, empresa que oferece serviços de consultoria a indústrias de tecnologia da informação e telecomunicações. A previsão para 2012 é que sejam vendidas mais 15,4 milhões de unidades no País, o equivalente à venda de 29 aparelhos por minuto.

Esses números colocaram o Brasil na 10ª posição no mercado mundial de smartphones em 2011 e a expectativa do mercado é que as vendas continuem a crescer e o País assuma o 4º lugar em 2016.

Um crescimento tão expressivo e recente indica que os usuários brasileiros incorporaram a tecnologia em seu cotidiano. No entanto, alguns deles já começam a sentir as consequências de seu uso excessivo, como dores na base do polegar, região mais sobrecarregada pelo uso do aparelho.

Mateus Saito alerta pais para que observem se a relação de seus filhos com a tecnologia causa dores ou afastamento social

Mateus Saito, médico assistente do Grupo de Mão e Microcirurgia do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), explica que a parte da mão mais afetada é a base do polegar, que inclui a articulação carpometacárpica, formada pelos ossos mais longos do punho, e os tendões extensores do polegar, bastante delicados, ambos responsáveis pelo movimento de ‘pinça’ e oponência do polegar, essencial para a evolução humana.

“Explicamos a dor pelo uso do polegar para segurar o smartphone, navegar e digitar, tudo com o mesmo dedo. Em um teclado normal [em um computador], a digitação é feita por dez dedos, enquanto no smartphone é feita por um”, explica Saito.

“Por isso, esse aparelho não é recomendado para uso prolongado. Se você for usar para produzir informação, é melhor ter um teclado.”

Saito explica que, como o fenômeno é recente, ainda não há muitos estudos sobre o tema: “Atualmente nós trabalhamos com diagnóstico de dor e sobrecarga. Nós tratamos pelos sintomas”. Ele conta que “há casos pontuais de pacientes com tenossinovite ou artrite e, na investigação, a única causa que pode explicar esses casos é o uso excessivo de smartphones”.

A articulação carpometacárpica do polegar, mais afetada pelo uso excessivo de smartphones

Assim, esses casos indicam que as dores causadas pelo uso excessivo dos aparelhos, se não tratadas, podem evoluir para artrite (inflamação da articulação) e tenossinovite (inflamação do tendão e da sinóvia, bainha que envolve o tendão).  “Temos que tomar cuidado para não generalizar, mas há possibilidade de acontecer isso”, adverte o ortopedista.

Saito explica que recebe dois tipos de pacientes com esse quadro em seu consultório: executivos ou profissionais que trabalham com diversas tecnologias de comunicação e adolescentes. “Minha última paciente com dores na base do polegar foi uma garota eu tinha acabado de entrar na faculdade e mandava cerca de 100 torpedos por dia”.

Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) e a London School of Economics (LSE), o uso da tecnologia é elevado entre os jovens brasileiros: na faixa etária entre 9 e 16 anos, 47% usam a internet todos os dias ou quase todos os dias, e 18% desses jovens usam a internet pelo celular.

Saito recomenda dividir a tarefa de segurar o aparelho e digitar com o outro polegar, diminuindo a sobrecarga pela metade

Entre as medidas preventivas para evitar as dores, a primeira recomendação é o bom senso no uso de recursos tecnológicos. “Tudo que não for necessário responder na hora, que seja deixado para depois, em uma interface um pouco melhor [como um computador]”, diz Saito.

Depois, Saito recomenda dividir a tarefa de digitar e segurar o aparelho com outros dedos, ao menos com o outro polegar. “Se o uso é mais constante, pode-se conectar um pequeno teclado, mas, no mínimo, dividimos essa sobrecarga pela metade com o outro polegar.” Ele também recomenda a ativação do recurso de texto preditivo, que ‘adivinha’ o que o usuário vai digitar e facilita tarefas como acentuação, por exemplo.

Caso não haja melhora com essas atitudes, ou caso a pessoa não possa diminuir o uso do aparelho, Saito recomenda que se procure tratamento com profissionais como o cirurgião de mão, sua especialidade, e, principalmente, o terapeuta de mão, que pode ser um terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta.

Ana Paula Busnardo, terapeuta de mão da Divisão de Cirurgia Plástica do Instituto Central do HCFMUSP, afirma que é necessário mostrar ao paciente o que o está lesando, para que ele adquira consciência corporal. “Tirar a dor é fácil. Mas se o paciente não tiver a consciência corporal, se ele não compreender por que ele está se machucando e onde ele tem que mudar sua postura, não vai melhorar nunca”, afirma Ana Paula.

Ana Paula conta que alguns problemas ortopédicos estão ligados à má postura e tensão

Ela conta que a primeira correção é a postura global do paciente, que costuma se curvar ao digitar em smartphones ou outros meios: “Todos têm a postura errada. E só de corrigir isso é impressionante como o quadro melhora”.

O tratamento pode incluir anti-inflamatórios, massagens para soltura da musculatura, alongamentos ou até a imobilização da articulação lesada com uma órtese, um apoio para correção ortopédica, como medida de choque.

“Assim que o paciente parar de ter dores, fortalecemos toda a musculatura de antebraço, costas, peito. Temos que tratar o indivíduo como um todo. Agora é só o polegar, mas depois ele pode ter dor em outras áreas, pois fica com todo o membro superior e a coluna cervical fletidos”, explica a terapeuta ocupacional.

Ela conta que os exercícios de fortalecimento são muito específicos e têm que ser feitos corretamente, ou não terão o resultado esperado. Ainda recomenda pausas no trabalho para beber água, ir ao banheiro, se espreguiçar e respirar profundamente, além de qualquer tipo de ginástica laboral: “Parece bobagem, mas qualquer coisa que o faça sair da cadeira faz diferença”.

Ela explica que essas medidas são eficazes porque normalmente esse problema também está associado à tensão ou a características pessoais. “Normalmente são pessoas que têm tendência à depressão ou se sentem muito cobradas, são pessoas um pouco mais nervosas. E então a articulação inteira vai ficar com uma tensão excessiva”, conclui Ana Paula.

Maneira errada de usar smartphone, segurando o aparelho e digitando com o mesmo dedo

Para Saito, o grande alerta é para os pais prestarem atenção na relação de seus filhos com as novas tecnologias, já que esses meios estão se tornando sua forma preferida de comunicação. “As tecnologias são ótimas, difundem e combinam melhor as coisas, mas você tem que ficar atento se isso não está prejudicando os relacionamentos pessoais dos seus filhos e se o tempo de uso desse aparelho não está causando dor.”

Ele explica que, em alguns casos, o adolescente tem dor, mas espontaneamente não fala, contando apenas ao ser perguntado. Ele comenta: “Essa articulação é muito importante, é a articulação da pinça. Nós a usamos para escrever, para coisas delicadas, hobbys, e dentistas e cirurgiões, por exemplo, usam em seus trabalhos. É uma articulação importante, e nós não sabemos o que essa criança ou adolescente vai fazer no futuro”.

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores