William Nunes

Grupo de estudos multidisciplinar discute a influência da tecnologia nas relações sociais

O desenvolvimento tecnológico vem alterando as interações humanas desde a Revolução Industrial. Essas alterações resultaram tanto em benefícios e facilidades quanto em problemas e desvantagens. Partindo dessa relação entre avanços técnicos e como eles influenciam no modo de viver do homem, foi criado, no final de 2013, o Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia (Cest), cuja coordenação está ligada à Escola Politécnica.

O grupo surgiu de um investimento da Microsoft Co. que concedeu total autonomia à USP para gerir o projeto. Através de eventos, seminários, papers e financiamentos para desenvolvimento de pesquisa, o objetivo é discutir assuntos sociotécnicos relevantes e, compreender melhor os dilemas envolvidos. Por estar em seu início, o Centro ainda está se estruturando e agora estuda modos de incluir alunos bolsistas, mas já conta com colaboradores que enviaram suas pesquisas de mestrado.

A multidisciplinaridade também é uma característica do grupo de pessoas que compõe o Cest. Edison Spina, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica e responsável pelo projeto, diz que é necessário que exista essa integração entre as especializações, tanto das ciências exatas quanto das ciências humanas, para que sejam consideradas tanto as implicações técnicas do assunto quanto as implicações sociais geradas. “Muitas vezes quem é de humanas não está sabendo das tecnologias mais novas, mas está atualizado com o que a sociedade está adotando no momento.”

Paulo Roberto Feldmann, professor do Departamento de Administração da FEA e também participante do projeto

Para Paulo Roberto Feldmann, professor do Departamento de Administração da FEA e também participante do projeto, o Centro possui duas vantagens. A primeira é a promoção de integração entre as faculdades da USP, fato que colabora para subir nos rankings internacionais, e a segunda são as doações de empresas privadas para o incentivo ao estudo. “As universidades brasileiras, em geral, não recebem essas doações. Seus custos são muito altos e por isso elas têm problemas. Portanto é importante que haja empresas contribuindo para os estudos”, diz ele.

Pautas

São inúmeros os casos em que a tecnologia passa a interferir nas relações sociais. A economia, por exemplo, é uma área de estudo muito influenciada por avanços técnicos, afetando, principalmente, os índices de emprego e desemprego. Feldmann acredita que esta é uma questão importante a ser estudada, pois é muito raro uma tecnologia que não interfira na sociedade. Ele exemplifica que lojas que antes vendiam mais, hoje podem ter corte de seus vendedores, devido ao maior número de compras pela internet. “O emprego que é gerado nas empresas de comércio eletrônico não compensa o emprego que é eliminado nas grandes redes de atendimento ao público”, diz. Os bancos também são outro exemplo de uso de automação e que, por isso, corta um número grande de funcionários. Em contrapartida, o professor afirma que há setores, ainda que raros, em que não é possível substituir a mão-de-obra pelas máquinas, como os setores de roupas e calçados.

Recentemente, no Brasil também se começou a discutir uma nova plataforma de armazenamento em massa de dados, conhecida como Nuvem, que são megacomputadores que comportam informações de diversas empresas ao mesmo tempo. Segundo Feldmann, as Nuvens são uma vantagem para as pequenas empresas, por serem um processo mais barato, uma vez que é difícil investir em computadores próprios e em pessoal especializado.

A função do Cest neste assunto é debater as consequências econômicas da aplicação da Nuvem em empresas de pequeno porte, bem como os conflitos éticos envolvidos. “As empresas que operam as Nuvens têm de garantir uma privacidade e segurança muito grande dos dados, senão perdem a credibilidade. Elas têm de garantir que os dados de um cliente nunca vão passar para mais ninguém.”

Outro assunto em pauta que integra as discussões do Cest é a Educação Aberta. Os professores Spina e Romero Tori, da Escola Politécnica, pesquisam a área de EaD e trabalham em um projeto europeu de Recursos Abertos para Educação (OER). Este é um projeto que faz parte do programa eMundus – organização que trabalha pela melhoria e excelência na educação –.

Edison Spina, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica e responsável pelo projeto

A ideia surgiu tendo em vista que se trata da disponibilização de material on-line. “Há pessoas fazendo curso no MIT, Yale ou nas grandes universidades do mundo. É possível fazer uma pós-graduação sem nem dar o seu nome, sem visar ao diploma. Professores podem baixar slides e usar em aula, desde que sejam dados os devidos créditos. É um acordo de copyright”, diz Spina.

A organização tem preparado, inclusive, uma lista para criar uma biblioteca de conteúdo on-line. Além disso, o Cest patrocinou eventos sobre Educação Aberta, recebendo os especialistas no assunto que fazem parte do eMundus. “Isso facilitará a criação de um fórum de discussão. Modelos de negócios que conseguem lucrar mesmo provendo cursos de graça merecem receber a devida atenção. Em vez de trinta pessoas em uma sala, temos 5 mil assistindo a uma aula”, conclui o professor.

Outros tópicos discutidos pelo Centro dizem respeito a dilemas legais atrelados a aparatos tecnológicos, como registro de softwares, crimes cibernéticos e controle de dados. Segundo Spina, algumas empresas detêm informações dos usuários que podem ser aproveitadas posteriormente pela própria companhia. A questão que entra na discussão é saber até que ponto esses dados dos clientes podem ser utilizados. Algo semelhante acontece com hackers, que invadem sistemas e, posteriormente, oferecem ao dono da empresa invadida os serviços de proteção.

Serviço

Para contribuições, basta enviar um e-mail para cest@usp.br com o assunto Artigo/Postagem para Contribuição e com o texto anexado ou linkado. A participação é voluntária e estará sujeita à avaliação para bolsa de estudos.
Mais informações: http://www.cest.poli.usp.br/