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Valorização profissional diminui riscos de frustração

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Cuidar de corpo e mente é saída para envelhecer com saúde

 

Por Aldrin Jonathan
Foto 1 da AFP

“A frustração gera sofrimento, rompe o equilíbrio interno”, afirma Sigmar Malvezzi. Na imagem torcedora mostra decepção na derrota brasileira – Créditos: AFP/ Vanderlei Almeida

 Falta de reconhecimento é fator principal de desestímulo no mercado de trabalho, apontam psicólogos

Por Aldrin Jonathan

Na Copa de 50, quando no conhecido Maracanazo a Seleção Brasileira perdeu o título em casa para os uruguaios, o País dobrou-se a uma frustração impagável até mesmo diante dos outros quatro títulos posteriores. A segunda Copa do Mundo do Brasil, mais do que disponibilizar o hexa para a seleção, era a chance de o País apagar o passado de derrota. Mas a história mostrou-se cruel: com fáceis 7×1, a Alemanha bateu a seleção de Felipão numa atmosfera de vexame e incredulidade na semifinal: foi a pior derrota da camisa verde e amarela em todos os tempos.

A torcida brasileira que lotava o estádio do Mineirão foi embora frustrada. Cada um encarando o jogo à sua maneira: uns rasgavam os ingressos, outros xingavam e brigavam entre si, outros ainda pediam mais gols dos alemães. Foi o que relatou a psicóloga do Instituto de Psicologia Maria da Conceição Coropos Uvaldo, que estava no estádio e acompanhou a derrota brasileira. “Foi uma frustração enorme”, disse. A professora revelou que, diante de uma derrota assim, várias são as reações dos torcedores por causa da frustração, cada uma diferente da outra, mas que buscam uma forma de extravasar a decepção.

 “A frustração gera sofrimento, rompe o equilíbrio interno. Há uma energia criada que não se dissipa, mas tem que ser descarregada”, explica Sigmar Malvezzi, docente do Instituto de Psicologia e especializado em Psicologia do Trabalho. O enfrentamento dessa situação depende de recursos subjetivos, como a maturidade, do indivíduo ou do grupo, analisa o docente. Há pessoas cuja frustração leva diretamente à raiva e à agressão. Outras, recorrendo aos recursos pessoais, conseguem canalizar a energia da frustração para algo construtivo. Outras buscam compensações em situações tais como o exagero na comida, bebida e assim por diante.

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“Frustração faz parte da vida e a gente precisa aprender a lidar com ela”, considera a psicóloga Conceição. Na imagem torcedora com lentes de contatos semelhantes à bandeira brasileira mostra espanto diante da derrota da seleção – Créditos: AP/ Leo Correa

“Frustração faz parte da vida e a gente precisa aprender a lidar com ela. Não existe nenhum remédio para lidar com ela, mas há desilusões que precisamos viver”, analisa Conceição. Para a psicóloga, existem medidas de frustração e a forma como reagimos a ela se deve muito às experiências vividas. Elas vão deixando marcas que nos possibilitam lidar melhor com as decepções.

Além disso, embora frustrações sejam inesperadas, em sua maioria, é importante termos outras opções e alternativas para possíveis problemas, revela a psicóloga. No que se refere a relações de trabalho, há possibilidades de mudar de emprego ou até mesmo de carreira, conforme a necessidade. Muitos profissionais são frustrados em sua carreira por não receberem reconhecimento de suas qualidades e méritos. “Não há nada mais frustrante no mercado de trabalho que o não-reconhecimento”, adverte Conceição.

Há mais de 30 anos na Universidade de São Paulo, a psicóloga Conceição narra assim “um dos dias mais felizes aqui na USP”: “Meu chefe de departamento na época me mandou um bilhetinho dizendo coisas do tipo: ‘Conceição, parabéns! Com pessoas assim a Universidade cresce’. Fiquei tão feliz”, disse. O bilhetinho recebido fazia elogio a um trabalho divulgado pela professora em um congresso no exterior.

Conceição mostrou-se muito satisfeita com a valorização tão simples e cotidiana de seu trabalho. “As pessoas precisam de reconhecimento”, completa. Da mesma forma, Malvezzi acredita que a qualidade do trabalho dos professores poderia ser alavancada caso houvesse valorização da profissão na Universidade. “O reconhecimento do trabalho, da competência e do empenho é um fator fundamental”, considera.

foto tinkstock

Foto 3: “Não há nada mais frustrante no mercado de trabalho que o não reconhecimento”, adverte Conceição – Créditos: Thinkstock

Educação

Professores de ensino superior estão sendo alvo de problemas de saúde em razão do exercício de sua função. É o que aponta estudo do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). A pesquisa da psicóloga Marisa Aparecida Elias revela que a precarização da educação, bem como sentimentos ligados à frustração – não-reconhecimento do trabalho e desvalorização da imagem profissional –, incrementam o estado de debilidade dos docentes.

Muitos entrevistados admitiram sentir dor de cabeça frequentemente, além de dores no corpo e de fazerem uso ou já terem utilizado medicação para refluxo e gastrite, alergias, insônia ou rouquidão ocasional. Esses sintomas possuem relação com o estresse e podem ser considerados adoecimentos psicossomáticos.

Com o objetivo de verificar como anda a saúde dos professores de ensino superior nesse cenário, Marisa escolheu Uberlândia, considerada um polo do ensino superior privado. A cidade apresenta mais de 20 instituições de ensino superior privado e uma universidade federal.

“O excesso de tarefas administrativas (realizadas pelos docentes) é cansativo demais”, alerta o filósofo e docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Renato Janine Ribeiro. Para ele, há excessos de comissões e de reuniões na Universidade, o que acaba sobrecarregando professores que aceitam participar de tarefas administrativas. No entanto, não é possível falar em precarização da educação na Universidade, uma vez que é considerada de excelência.

Outro aspecto apontado pela pesquisa é a insatisfação de professores em vista de uma relação docente e aluno nada agradável. O distanciamento entre comportamentos de alunos e professores tem sido um fator de complicação. Em variadas situações, os alunos possuem uma expectativa da disciplina ministrada muito diferente da dos professores, aponta Malvezzi. “Os alunos vivem em contextos muito dinâmicos nas redes e por isso têm mais dificuldade para sistematizar sínteses”, vê o professor. Para ele, há uma cultura do “power point” de passar informações fragmentadas e descontextualizadas, o que cria uma brecha na relação professor/aluno.

“Educação e formação são tarefas sistemáticas e de médio para longo prazo”, observa Malvezzi. O docente já encontrou muita dificuldade em lidar com alunos que não conseguem se desligar do celular, do smartphone, da expectativa de ler a mensagem recebida de imediato. “Sempre fracasso com alguns alunos da classe com a qual trabalho”, revela.

A forma como nossa sociedade está organizada, muito mais individualista, tem exigido de cada um sinais próprios de progressão no mercado que vão além de melhores salários, explica a psicóloga Conceição. Desta forma, é importante que cada funcionário procure novas opções e mude de emprego, se necessário. Para Malvezzi, não há limite de frustração para se pensar em mudar de carreira ou de emprego, visto que o nível de desestímulo muda tal qual outras competências. No entanto, segundo o professor, as universidades públicas falham muito na gestão e formação de seus profissionais, e é importante que cada um tenha um projeto de carreira.

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