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USP: uma universidade de classe mundial

Suely Vilela
Reitora da USP

A Universidade de São Paulo assumiu desde sua criação, há 75 anos, o compromisso de modernizar a economia, a política e a cultura da sociedade paulista e do país. Com esse ambicioso propósito, a Instituição se dedicou à busca permanente de excelência em suas atividades-fim. Sob a perspectiva do que se pode observar nos dias de hoje, a USP consolidou amplamente seus compromissos iniciais, estendendo-os a vinculação de sucesso cada vez mais estreita com a sociedade.

A USP foi a resposta de afirmação do Estado de São Paulo, logo após da Revolução Constitucionalista de 1932. Marcou a consolidação do modelo de universidade no Brasil e desempenhou papel ativo nos principais momentos históricos da nação desde a sua criação. A fundação da USP, portanto, sintetizou as mudanças que ocorriam na dinâmica econômica, social e cultural da primeira metade do século passado, mudanças essas em que São Paulo se constituiu no principal centro de irradiação. Realizava-se, então, a transição de um padrão econômico predominantemente agrário exportador para o início do longo processo de industrialização que se seguiria.

Nessa mesma época, ações de grande impacto cultural eram pensadas e realizadas no país, originando um ambiente de efervescência cultural e transformações profundas no campo das idéias e da estética, que abarcaram a literatura, o teatro e as artes plásticas, possivelmente como corolário do pioneirismo desempenhado pela Semana de Arte Moderna de 1922.

Como universidade pública, a USP reafirma o compromisso com o desenvolvimento sustentável do estado de São Paulo e do país. Esse pacto pela qualidade pode ser aferido por suas 40 unidades de ensino e pesquisa, que desenvolvem atividades em três vertentes principais: formação de recursos humanos (na graduação e pós-graduação), geração de conhecimento e relação com a sociedade. Mas não pára por aí.

O compromisso com a sociedade amplia-se no conjunto das incontáveis atividades educativo-culturais, e de outras voltadas à saúde, oferecidas à população em suas unidades, complementadas pela disponibilização de quatro museus, sete institutos especializados e dois hospitais. Essas atividades congregam, diariamente, comunidade estimada em 100 mil pessoas, apenas na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, no campus em São Paulo, e, anualmente, um público de mais de 3 milhões de pessoas.

Em todos esses aspectos, foi, sim, determinante o estabelecimento do padrão de qualidade USP, que permitiu à Universidade atingir os patamares que a distinguem no cenário nacional e internacional. Podemos, hoje, nos orgulhar de fazer parte do seleto rol das melhores universidades mundiais: é a 196ª colocada na classificação do The Times, 121ª, segundo a Universidade de Shanghai, e ocupa a 100ª posição, de acordo com o Higher Education Evaluation and Accreditation Council, de Taiwan, além de ser a primeira da América Latina, segundo os indicadores desses rankings. Dessa forma, fica claro que a USP já alcançou patamar de inserção internacional significativo. Essa vocação à internacionalização, aliás, estava claramente indicada desde a criação da Instituição, com a inestimável colaboração dos professores estrangeiros, principalmente os franceses, italianos, alemães e portugueses, que vieram ensinar e pesquisar na então recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1934.

Ao longo desses 75 anos de existência, é notória a importância da USP na geração de conhecimento em temas de impacto, tanto aqueles mais voltados à realidade doméstica quanto os de alcance mundial. Nesse aspecto, é possível destacar a construção do primeiro computador brasileiro, conhecido pelo apelido de Patinho Feio; o primeiro animal clonado a partir de células adultas, o bezerro Marcolino; as pesquisas na área de genética humana, que levam esperança de cura a milhares de pessoas com doenças degenerativas; a participação no seqüenciamento genético da Xylella fastidiosa, bactéria que infesta laranjais paulistas, um feito que mereceu capa e longa reportagem na revista Nature; os biocombustíveis; os avanços na TV Digital e o Tanque de Provas Numérico, que simula o comportamento de estruturas flutuantes, como as plataformas marítimas de petróleo. Exemplos mais recentes são o transplante de células-tronco para o tratamento do diabetes tipo I; a produção da primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias; a transformação de células-tronco de gordura em células musculares humanas, passo importante para o tratamento de distrofia muscular; e o desenvolvimento de um tomógrafo de impedância elétrica, utilizado para monitorar os pulmões de pacientes que utilizam ventilação artificial, reduzindo os danos causados pelo método.

Esse cenário de conquistas é fruto do esforço conjunto de seus quase 5.500 docentes, em torno de 15.500 funcionários técnico-administrativos e cerca de 80 mil estudantes.

Suely Vilela

Suely Vilela

Desafios – Aos 75 anos, a Universidade tem a oportunidade única de refletir sobre o passado e suas conquistas, mas, principalmente, a de encaminhar novas propostas que devem moldar a força da USP do futuro.

Uma das principais exigências que a USP enfrenta no atual mundo globalizado é a necessidade de aprofundar sua internacionalização. A USP tem investido em sua visibilidade internacional, o que pode ser atestado pelos quase 400 convênios vigentes. No entanto, enquanto as parcerias com pesquisadores do exterior encontram-se consolidadas, é ainda reduzida a mobilidade no âmbito da graduação e da pós-graduação.

Há concentração de graduandos com estágio no exterior em poucas unidades e ações estão sendo implementadas para a expansão de programas dessa natureza. Com relação à pós-graduação, embora os números tenham aumentado, significativamente, nos últimos anos, há potencial para se incrementar substancialmente esse contingente, sobretudo em razão das diferentes oportunidades de bolsas institucionais e de fomento, entre outras. Além disso, é necessário atrair pesquisadores e estudantes estrangeiros em nossas atividades de graduação, pós-graduação e pesquisa e, dessa forma, programas institucionais, além daqueles de agências de fomento, apóiam a consecução desse objetivo. Entendemos que a diversidade cultural, étnica e social fica, também, enriquecida pela convivência com estudantes e pesquisadores estrangeiros.

A USP gera conhecimento, possui produtividade científica reconhecida nacional e internacionalmente e forma recursos humanos empreendedores. Contudo, é preciso agregar valor ao conhecimento produzido. Esse é um dos grandes desafios enfrentados no país. Nesse sentido, a USP tem participado desse enfrentamento, atuando em projetos e iniciativas como a construção de Parques Tecnológicos, importante estratégia que auxiliará no processo de transformação do conhecimento em riqueza. No âmbito da USP, é importante destacar a criação da Agência USP de Inovação, que visa ao apoio e à articulação de sua comunidade universitária em torno desse objetivo.

Queremos uma Universidade que possua diretrizes definidas para 2034, quando completará 100 anos de existência. É por isso que a desburocratização da Instituição tem grande relevância neste momento. Ela vai proporcionar maior agilidade à USP em suas atividades-meio, permitindo que elas apóiem de forma significativa as atividades-fim. Do ponto de vista da desburocratização institucional, destaca-se a implantação do Programa de Gestão Estratégica e Desburocratização na Administração da USP, o Gespública USP.

Criado em fevereiro de 2007, o programa possui como objetivo principal implementar modelo de excelência em gestão de classe mundial, que conduza a resultados de interesse da sociedade. Esse programa apóia o planejamento e a gestão institucional, que abrange o planejamento para a melhoria da Gestão Administrativa e Financeira, da Informatização da Administração, a Descentralização Administrativa e o Investimento nos Recursos Humanos.

Passo importante foi dado com a aprovação, na última sessão do Conselho Universitário de 2008, em 16 de dezembro, do projeto de Descentralização Administrativa, que possibilitará maior autonomia na tomada de decisões na Universidade. A proposta de descentralização administrativa prevê a criação, nos seis campi da Universidade localizados no interior de São Paulo, de setores regionais de Coordenadorias já existentes no campus de São Paulo, como a Consultoria Jurídica, a Comissão de Cooperação Internacional, a Coordenadoria do Espaço Físico, a Coordenadoria de Assistência Social, a Coordenadoria de Comunicação Social e a Copavo. O objetivo do projeto é o de aprimorar a eficiência e a agilidade das atividades administrativas da Universidade.

A USP de 2034 deve consolidar suas características como instituição de classe mundial, na qual seja possível conviver com a diversidade num ambiente de caráter internacional, dotado de forte e estratégica gestão institucional e que agregue valor ao conhecimento gerado. Alia-se a essas diretrizes o fortalecimento das relações da Instituição com o ensino público básico, ao se despertar nos jovens vocações que poderão influir, decisivamente, na construção de seus projetos de vida, consolidando-se, assim, o papel social da Instituição.

2 comentários sobre “USP: uma universidade de classe mundial”

  1. Antonio Candido C. G disse:

    A USP nestes 75 anos acumulou muitos méritos, mas ainda é falha em aspectos fundamentais.

    O primeiro deles é que não superou o seu histórico de formação a partir de unidades já existentes. A USP hoje está mais para uma coleção disconexa de faculdades e institutos do que para uma Universidade propriamente dita. A integração interna é mínima. O conhecimento e as carreiras são extremamente segmentadas. Os estudantes pertencem às unidades e não à universidade. Não há liberdade acadêmica nos currículos, que são verdadeiras camisas de força para os alunos. Um estudante de uma unidade não pode tirar livros de uma biblioteca de outra. Há pouco espaço para a individualidade, para a criatividade, para a experimentação, para o risco. Prefere-se fórmulas conservadoras e massificantes. Há uma hierarquização excessiva, um culto à autoridade em detrimento da dialética e do debate.

    O conhecimento na USP não é internalizado, não é posto a serviço próprio. Por exemplo, temos escolas de engenharia e arquitetura que são referência nacional, mas a maioria dos prédios da universidade são feios, mal projetados, disfuncionais, desconfortáveis, mal construídos. Temos vários departamentos ligados à computação, mas compramos softwares que poderiam ser facilmente desenvolvidos por estudantes da própria universidade, gerando mais conhecimento, mais experiência, mais excelência.

    A USP é uma instituição pública, mas está cada vez mais fechada ao público. Temos museus com acervos importantes, mas os portões ficam fechados nos finais de semana. Não há espaços adequados para receber o público ou abrigar encontros e convivência. Os espaços comuns são mínimos, perpetuando um isolacionismo humano contraditório com a natureza de uma Universidade.

    Diante dessas falhas prosaicas (dentre outras), vejo com reservas exercícios de enfatuamento explícito comuns em aniversários. É preciso nesta oportunidade fazer uma avalição crítica da universidade para que possamos superar nossos atrasos e a partir daí pensar em traçar planos ambiciosos para o futuro. Do contrário o discurso se torna vazio e inócuo.

  2. Luís F. D. de disse:

    Antonio:

    "Um estudante de uma unidade não pode tirar livros de uma biblioteca de outra. Há pouco espaço para a individualidade, para a criatividade, para a experimentação, para o risco. Prefere-se fórmulas conservadoras e massificantes. Há uma hierarquização excessiva, um culto à autoridade em detrimento da dialética e do debate."

    Não sei como as coisas funcionam no Campus de São Paulo, mas com toda certeza, afirmo que em São Carlos não ocorre o que disse acima. Sou aluno de graduação em física, mas tenho encontrado bastante facilidade no que diz respeito a utilizar os recursos de outras unidades, ao menos as bibliotecas, que são muito boas. É verdade que ocorre uma espécie de isolamento em relação às unidades individuais, mas não acho que em momento algum isto seja um empecilho para um estudante interessado, tanto que tenho direcionado esforços para cumprir disciplinas de dois cursos ao mesmo tempo.

    "O conhecimento na USP não é internalizado, não é posto a serviço próprio. Por exemplo, temos escolas de engenharia e arquitetura que são referência nacional, mas a maioria dos prédios da universidade são feios, mal projetados, disfuncionais, desconfortáveis, mal construídos."

    Mais uma vez, não generalize. Não estudo no Campus de São Paulo, mas já estive lá. Ao menos em São Carlos, não temos nada parecido com prédios mal feitos, desconfortáveis ou mal construídos.

    "A USP é uma instituição pública, mas está cada vez mais fechada ao público. Temos museus com acervos importantes, mas os portões ficam fechados nos finais de semana. Não há espaços adequados para receber o público ou abrigar encontros e convivência. Os espaços comuns são mínimos, perpetuando um isolacionismo humano contraditório com a natureza de uma Universidade."

    Sinto muito se estiver falando demais apenas sobre o Campus aonde estudo: não tenho condições de falar sobre São Paulo, e espero que alguém de lá possa aparecer aqui e comentar seus pontos. Bem, quanto a estar fechada ao público, concordo em partes. Porém, aqui(São Carlos) temos diversos eventos que geralmente são abertos ao público em geral (exemplifico, por exemplo, a última aula pública com o vencedor do prêmio nobel de 1997, que imagino que também tenha ocorrido no IFUSP). Na realidade, não creio que seja fruto da má vontade da Universidade os problemas nesse aspecto. Das minhas observações, me parece mais que há mais falta de interesse do público em geral. É claro que ambas as partes poderiam contribuir mais. Me parece também (mais uma vez, aqui) que falta divulgação em alguns aspectos. Digo isso porque muitos eventos dos quais fui alertado chegaram a mim por intermédio do e-mail institucional, ou do próprio site da USP. Enfim, também não creio que um envolvimento público massivo seja frutífero para a Universidade. Não no atual estado da nossa sociedade. Acredito que algumas coisas devem mudar antes – e é claro que, sim, a Universidade poderia apoiar esta mudança.

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