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O tratamento do presidente Tancredo Neves

Por Prof. Dr. Henrique Walter Pinotti

Em março de 1985, fomos chamados a Brasília para atender o presidente Tancredo Neves operado e internado no Hospital Base. Viajamos juntamente com o professor Agostinho Betarello, então Professor Titular de Gastroenterologia Clínica da Faculdade de Medicina (FMUSP). Estiveram presentes outros especialistas de Belo Horizonte, cirurgiões reconhecidos como Célio Diniz Nogueira e Wilson Abrantes, bem como José Lopes Pontes, professor de Gastroenterologia Clínica da Faculdade Federal de Medicina do Rio de Janeiro, para dar assistência à situação de agravamento da saúde do presidente eleito.

Quando chegamos, em março, logo ao depararmos com o estado de saúde do presidente que, merecia muita preocupação, convocamos uma equipe de São Paulo para nos auxiliar. O objetivo deste relato é mostrar que foi dada uma assistência ao presidente, com equipe extremamente competente, que naquele momento eram médicos de muito domínio de conhecimento e o porvir veio demonstrar a grande força da sua competência.

Chegou um contingente de quatro médicos, que trabalhava conosco na Divisão de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP: Ivan Cecconello, naquele momento é plantonista da Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Oswaldo Cruz, nosso assistente no HC com título de mestrado e doutorado. Cresceu na carreira.

Poucos anos depois tornou-se livre-docente, professor associado, chefe de grupo, chefe de serviço do esôfago e em concurso brilhante, em agosto de 2005, concorrendo com sete candidatos, venceu o concurso de Professor Titular, sendo, portanto, hoje o Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo da FMUSP. Wilson Pollara, naquele momento também doutor com experiência em Unidade de Tratamento  Intensivo, posteriormente tornou-se livre-docente, depois diretor administrativo do Hospital São Camilo de São Paulo, remodelando o hospital e transformando-o num centro de referência de assistência médica.

Tarcísio Filomeno, plantonista da Unidade de Tratamento Intensivo  do Hospital Oswaldo Cruz, depois aperfeiçou-se em cirurgia torácica. Telésforo Bachella, naquele momento doutor em medicina, posteriormente tornou-se livre-docente, fez importante estágio em Petersburgo nos EUA, de dois anos em transplantes de fígado. Volta à nossa Clínica Cirúrgica do Aparelho Digestivo  trabalhando com Marcel Cerqueira César Machado nos Serviços de Fígado e Hipertensão Portal e Pâncreas e Vias Biliares e posteriormente na disciplina  de Transplantes  de Fígado do HCl. Posteriormente, por concurso, o professor Marcel C. C. Machado torna-se o titular dessa disciplina e após sua aposentadoria, o professor Bachella  assume o cargo de diretor interino da disciplina. José Eduardo Monteiro da Cunha, intensivista de grande experiência, cirurgião de consagrado nome, chega para nos auxiliar; tornou-se, posteriormente, na carreira livre-docente, professor associado de cirurgia e chefe do Serviço de Pâncreas e Vias Biliares do HC. Fez um brilhante concurso para professor titular no meio de sete candidatos distinguindo-se em 2º lugar.

Com o agravamento do quadro clínico do presidente, a equipe cirúrgica, apoiada por familiares, decidiu removê-lo para São Paulo. Quando chegamos a São Paulo trazendo o presidente ao Incor, sabíamos que estávamos acolhendo-o num hospital de primeira linha, com característica de hospital competitivo, bem-estruturado, equipado, com rigoroso controle de infecção hospitalar e plenamente apto para atender pacientes de alta complexidade médica. Ali já eram realizadas operações cardíacas avançadas, incluindo transplantes com grandes sucessos. Ademais o complexo hospitalar das Clínicas, considerado o maior centro médico da América Latina, dispunha de recursos materiais e humanos, com capacidade para atender a qualquer gênero de complicação clínica.

No dia da chegada foi submetido a arteriografia abdominal, para conhecer o foco intestinal hemorrágico, pelo dr. Shiguemituzo Arie, o mais destacado arteriografista do Brasil. Cuidando da UTI naquele momento estava o dr. José Otávio Euler de Carvalho, médico competente, anestesista, um intensivista de grande perfil profissional altamente qualificado e dedicado. Tornou-se depois, através de brilhante carreira, professor livre-docente, professor associado atingindo o grau de professor titular de Anestesia da Faculdade de Medicina e depois diretor clínico do Instituto Central do Hospital das Clínicas.  Prestou uma assistência cuidadosa e muito eficiente ao presidente.

Como o presidente estava envolvido por um forte grau de infecção, foi assistido por uma equipe de grande peso, pelo professor titular de Moléstias Infecciosas, prof. Vicente Amato Neto, naquele momento com dois excelentes assistentes,  Marcos Boulos e Davi Uip. Marcos Boulos fez, posteriormente, uma brilhante carreira, depois do seu doutorado, livre-docente, professor associado, tornou-se professor titular de Doenças Infecciosas e Parasitárias e, em 2006, foi eleito diretor da FMUSP e presidente do conselho deliberativo do grande complexo Hospital das Clínicas. Davi Uip,  depois de brilhante carreira e de realizar seu doutoramento, sua livre-docência, assume o setor de Controle de Infecções do Instituto do Coração e torna-se presidente da Fundação Zerbini e diretor clínico do Instituto do Coração. É professor, também, da Faculdade de Medicina do ABC.

Para controlar os problemas renais, houve eficiente participação da equipe de Nefrologia do Hospital das Clínicas, chefiada  pelo prof. Marcelo Marcondes Machado, que naquele momento era livre-docente, tornando-se depois professor titular da disciplina de Nefrologia e galgando, com apoio de toda a casa, a vitória na votação para ser diretor da FMUSP. Para equipes de apoio na área de radiologia, nós tivemos a participação do prof. Álvaro de Almeida Magalhães com a sua equipe de radiologistas. Álvaro de Almeida Magalhães, conceituado especialista, futuramente é eleito também, e passa a ser diretor da Faculdade de Medicina por período de quatro anos. Contava com a colaboração de jovem médico, dr. Giovanni Guido Cerri,  ultrassonografista nato desde os seus tempos acadêmicos, terminando a residência na fase de doutoramento e pós-graduação, trabalha conosco prestando uma assistência efetiva no exame diário do presidente. 

Através do exame de ultrassonografia localizava focos que eram imediatamente tratados. Giovanni Guido Cerri realizou também uma brilhante carreira. Depois de atingir seu grau de livre-docência e de professor associado, passa a ser professor titular de Radiologia da Faculdade de Medicina, presidente da Sociedade Internacional de Ultrassonografia e diretor da FMUSP no período de quatro anos até 2006, quando foi sucedido pelo prof. Marcos Boulos.

Na endoscopia houve a colaboração de dois eminentes endoscopistas, Shinichi Yshioka, de larga experiência, diretor do Serviço de Endoscopia do HC e consagrado depois como nome internacional da   Endoscopia Digestiva. O seu auxiliar naquele momento era o dr. Paulo Sakai, que estava em programa de pós-graduação, depois tornou-se doutor livre-docente em Cirurgia do Aparelho Digestivo e atualmente é diretor do Serviço de Endoscopia Digestiva  do Hospital das Clínicas da FMUSP, assumindo brilhante carreira; é um  nome conceituado, com intensa participação nos congressos internacionais da sua  especialidade.

Na parte cirúrgica, contamos naquele momento com a participação de dois colegas: a profa. Angelita A. Gama que era livre-docente, depois chefe do Serviço de Coloproctologia e professora titular de Coloproctologia e Cirurgia Digestiva. Outro auxiliar foi, naquele momento, livre-docente dr. Marcel Cerqueira César Machado, chefe do Serviço de Fígado, Hipertensão Portal, Pâncreas e Vias Biliares, que posteriormente tornou-se professor titular por concurso da disciplina  de  Transplantes de Fígado da FMUSP. Serviço de Apoio Farmácia do Incor dr. Washington, notável e dedicado farmacêutico, teve participação muito eficiente.

Este foi o balanço de todos os participantes, mostrando uma equipe de grande peso, de grande conhecimento médico, de grande prestígio e de grande eficiência profissional.  O presidente Tancredo Neves foi assistido com eficiência e dedicação por equipe de enfermagem, nutricionistas e psicólogas durante 27 dias de internação no Incor. A grave doença do presidente não conseguiu ser superada, apesar da participação de todo esse contingente médico de grande lastro.

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