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“Marca muito o imaginário de uma menina comemorar seus 10 anos em Paris!”
Por Mariana Franco
Lisbeth Rebollo, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e atual diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC), recebeu, em 21/8, do Ministério da Cultura e Comunicação da França, a nomeação de Cavalheiro das Artes e Letras, em reconhecimento às atividades de divulgação da cultura francesa realizadas no MAC sob sua diretoria, durante o Ano da França no Brasil. Sua relação com o país europeu, entretanto, começou muito antes, ainda na infância.
Lisbeth nasceu na década de 40, em São Paulo, filha de Francisco Rebolo e Lisbeth Krombholz Gonsales. Devido à ocupação do pai, pintor, cresceu entre artistas, num meio bastante ativo do panorama cultural da época. Rebolo fora o fundador do Grupo Santa Helena, associação de artistas, em sua maioria descendentes de imigrantes, que se encontravam no Palacete Santa Helena, importante para a consolidação da arte moderna e o movimento pró-criação do Museu de Arte Moderna (MAM).
“A Primeira Bienal de São Paulo visitei nos ombros do meu pai. Lembro-me de passar no meio de muita gente, vendo algumas obras de arte” recorda sobre o evento ocorrido em 1951, do qual o pai foi um dos representantes e expositores.
Ela e os pais foram os segundos moradores do bairro do Morumbi, habitando uma chácara arrendada. “Nenhum privilégio”, lembra ela, já que “o bairro era só mato e terra”. Na chácara da família hospedaram-se alguns amigos do pai, artistas franceses que passavam por momentos difíceis com a recessão do pós-guerra em seu país. Menina, já apreciava o som da língua.
Entre os anos de 1955 e 1956, graças a um prêmio ganho pelo pai, toda a família passa um ano e meio viajando por diversos países da Europa. Assim, ainda criança, teve o privilégio de conhecer toda a França e parte da Europa. “Foi o primeiro contato direto que tive com a Europa e com a França. Meus 10 anos, comemorei-os em Paris. A festinha foi no hotel em que estávamos hospedados, um hotel pequeno. Estavam lá também o (Mário) Zanini, pintor e decorador brasileiro, e sua mulher. O país ainda se reerguia da guerra, mas era tudo muito impactante. É um fato que marca muito o imaginário de uma menina passar seus 10 anos em Paris!”
Durante a estada na Europa, estudou com professores particulares o necessário para retomar o ginásio (atual ensino fundamental) quando retornasse ao Brasil. “A disciplina obrigatória, porém, era História da Arte”, conta. O pai fazia questão de que ela visitasse museus e monumentos históricos. “Lembro-me de ficar muito impressionada ao entrar na área de exposição da fase negra de Goya, no Museu do Prado, na Espanha. Visitei o Louvre e o túmulo de Napoleão. Imagine o impacto, quando se é pequena, de ver o lugar onde Napoleão estava enterrado!”
Durante a viagem, visitaram o pintor e amigo da família Robert Tatin, que passara uma temporada hospedado na chácara do Morumbi. Para encontrar o amigo, foram à Bretanha (região da França). “Lá as mulheres ainda usavam roupas típicas, com chapeuzinhos altos, de renda branca. Havia também muitos campos de macieiras. As maçãs caíam das árvores e rolavam pela estrada, onde as pegávamos” recorda-se. “Também o sul da França, a Costa Azul, era tudo muito impressionante!”
Lisbeth entrou na USP em 1967, de onde não mais saiu. Graduou-se em bacharelado e licenciatura no curso de Ciências Sociais. Seu mestrado e doutorado desenvolveu na área de Sociologia da Arte. Em 1983 passou a trabalhar no MAC e, posteriormente, em 1987, ingressou na carreira docente, na Escola de Comunicações e Artes (ECA).
A professora retornou à França, entre os anos de 1996 a 2000, passando por lá pequenos períodos para desenvolvimento de sua pesquisa, em cooperação Inter-Universitária, sobre a comunicação desenvolvida no espaço de exposições de arte contemporânea, que originou sua livre-docência. “Voltar ao país com preocupações profissionais, para estudar, ver e aprender com uma cultura tão rica, foi como reatar uma ligação com aquele espaço, que me fora importante na primeira infância” pondera.
A condecoração do Ministério da Cultura da França vem graças a exposições, seminários e palestras com especialistas franceses convidados que ocorreram no MAC. Pelo Ano da França no Brasil, quatro exposições foram montadas: “A França no MAC”, “Arte Frágil”, “Renault, uma aventura moderna” e “O Mundo sem medida”.
“Fico muito feliz com o reconhecimento ao trabalho. Este prêmio não é só meu, mas da USP também, pois reconhece a importância da Universidade com a abertura de espaços em seus museus para essas relações internacionais” finaliza.
Leia mais sobre a longa história de Lisbeth na USP aqui.
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