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Walter Colli e a paixão pela pesquisa

O pesquisador em seu laboratório

O pesquisador em seu laboratório

“O trabalho de pesquisa é um exercício de liberdade”

Por Amanda Previdelli

Walter Colli é professor e pesquisador no Instituto de Química da USP. Seu vínculo com a Universidade de São Paulo vem desde a década de 1950, quando ingressou no curso de Medicina da Faculdade de Medicina (FMUSP). Recentemente, o professor foi um dos pesquisadores brasileiros laureados com o Prêmio Scopus, dado em parceria entre a Capes e a Editora Elsevier. São escolhidos aqueles que publicaram trabalhos científicos de relevância e que formaram discípulos ao longo da carreira. “É evidente que fiquei contente”, conta Colli. “Dizem que nós brasileiros somos hipócritas porque fazemos de conta que somos modestos, mas prêmios são importantes como uma forma de incentivo e de reconhecimento”, completa.

Colli nasceu em São Paulo, no bairro do Brás. Sua família, de ascendência italiana, era de baixa renda e vivia em uma casa localizada numa vila, que não tinha banheiro ou chuveiro. Aos nove anos, seu pai faleceu e ele foi morar com sua mãe e a irmã mais nova com um tio materno que lhe pagou um curso de datilografia e o empregou na firma da qual era sócio. Desde os dez anos, Walter Colli trabalhava com o faturamento e pagamento em bancos da cidade para a empresa de seu tio. Nessa época, estudou em colégios públicos de São Paulo. Aos 17 anos entrou na Faculdade de Medicina.

Walter Colli nos ensaios do grupo de teatro onde conheceu a esposa

Walter Colli nos ensaios do grupo de teatro onde conheceu a esposa

A escolha pela Faculdade de Medicina surgiu de seu apreço pela pesquisa em Genética. “Além disso”, afirma, “se fosse médico tinha a certeza de que não passaria necessidades como tinha passado na minha infância”. Em seu primeiro ano na FMUSP, conheceu o professor Isaías Raw, que deu aulas extracurriculares de Genética para sete alunos interessados. No segundo semestre, Walter Colli passou a trabalhar como bioquímico junto de Isaías Raw – e não parou mais.

No quarto ano da faculdade, Colli montou um grupo de teatro junto com outros alunos. “Eu gostava de teatro. Juntei uns colegas e perguntei ‘vamos fazer teatro?’”, conta. Foi através desse grupo que ele conheceu Anita, sua esposa. “Ela veio juntar-se a nós, muito tímida, talvez para perder a timidez”, diz. Ela era uma caloura na Faculdade de Medicina quando eles se conheceram e se apaixonaram: “Eu me declarei a ela por um estetoscópio. Em uma de nossas peças, usávamos um estetoscópio. Um dia, eu pedi para ela colocá-lo no ouvido e falei ‘eu te gosto’”, conta. Em 1963, os dois estavam casados. Pouco tempo depois, tiveram seus dois filhos: Celso, pai de Joana e Rui, e Eduardo, pai de Lea.

Anita foi com Walter Colli para Nova York, onde o pesquisador e professor passou quatro anos em seu pós-doutoramento e em um estágio de biologia molecular. Quando voltou, no início de 1970, ele decidiu que deveria usar como modelo um parasita pouco estudado e de importância médica no Brasil e na América Latina, o Trypanosoma cruzi, responsável pela doença de Chagas. “São 39 anos de estudo, com algumas descobertas, mas sem ainda entender como o parasita se liga à célula hospedeira e nela penetra.”

Colli, sua mulher e seus filhos

Colli, sua mulher e seus filhos

As publicações resultantes desse estudo e os estudantes formados durante ele fundamentaram a concessão do prêmio Scopus.

Atualmente, Walter Colli leciona no Instituto de Química para turmas da graduação e pós-graduação e é pesquisador do instituto. “O trabalho de pesquisa é um exercício de liberdade”, diz, “escolhe-se o tema com base na curiosidade e monta-se uma estrutura para responder às perguntas”. O pesquisador enfatiza o prazer que sente no que faz e fato de poder ensinar jovens enquanto estuda o que tem curiosidade. Ele conta que, apesar de muitos verem a pesquisa científica como algo mecanicista, para ele é muito mais do que isso – é um livre exercício intelectual. “Um jogo de raciocínio que todos os dias se exerce com um grupo de jovens, ensinando e aprendendo em tempo integral. A ciência é parte do universo da cultura”, conclui.

5 comentários sobre “Walter Colli e a paixão pela pesquisa”

  1. Vahan Agopyan disse:

    O Colli é uma referência dentro da USP, pois além de ser um dos nossos melhores cientistas, é respeitado pelos alunos pela sua capacidade de educar e é uma pessoa generosa, amiga e altruísta.

  2. João Furtado disse:

    Caro Colli,

    Um forte abraço. Espero que o estímulo da pesquisa permaneça nas gerações de discípulos.

    joão

  3. Layla disse:

    A paixão pela pesquisa científica é nítida no rosto do professor Walter Colli a qualquer pessoa que o conheça. Sua história de vida de sucesso só aumenta o nosso fascínio pela pessoa, professor, pesquisador e médico. O prêmio recebido por ele é mais do que merecido.

  4. Marcelo Lima disse:

    Prezado Prof. Colli,

    Sinceras congratulações por mais esta conquista. Ela, além de muito significativa para a comunidade acadêmica é também, de grande valor para sociedade. Tenho grande orgulho de tê-lo conhecido como Diretor do Instituto de Química e poder trabalhar ao seu lado enquanto funcionário daquela instituição.

    Parabéns e muito obrigado por mais esta valiosa contribuição.

    Marcelo Lima

    EACH/USP

  5. Dertia Freire Maia disse:

    Caro Colli. Parabéns pela brilhante carreira e pelo Prêmio merecido. Você sempre foi, e continua sendo, um exemplo de cientista e amigo.

    Um abraço. Dertia

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