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A carreira profissional em primeiro lugar

Estudo aponta uma nova fase vivida pelas mulheres, que se preocupam mais com o trabalho do que os homens

Por Márcia Scapaticio

O aumento da inserção das mulheres no mercado de trabalho vem se consolidando no Brasil, mesmo com a diferença salarial existente entre os gêneros masculino e feminino. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que mulheres com nível superior recebem 60% do rendimento dos homens, além de constata a maior presença feminina na área de administração pública e serviços domésticos, com 22% e 16%, respectivamente.

As transformações sociais do País estimulam pesquisas que auxiliem no entendimento dessa nova realidade. Formado em engenharia e com experiência em gerência administrativa de empresas, Sérgio Hideo Kubo realizou seu mestrado sobre o significado do trabalho para funcionários públicos e privados, pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA -USP). O mestrando entrevistou 300 pessoas, com formação superior, entre 25 e 60 anos. Após a análise das respostas, foi possível relacionar o tema da pesquisa ao gênero, estado civil e religião.

Sérgio Hideo Kubo

Sérgio Hideo Kubo

O que chamou a atenção foi algo presente em nosso cotidiano, mas que não havia sido mencionado em outra pesquisa: as mulheres são preocupadas e valorizam mais o trabalho do que os homens. Segundo Kubo, “os resultados foram obtidos a partir da divisão de três aspectos principais: o quanto a pessoa é centrada no trabalho, quais deveres sociais são estabelecidos na atuação profissional e, em contrapartida, quais são os seus direitos sociais, como a educação e saúde. O terceiro tópico refere-se aos resultados esperados, seja conseguir um salário melhor, status ou experiência”.

Na visão da pesquisadora do Núcleo de Marcadores Sociais da Diferença (link texto 2)(Numas) e professora de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, (FFLCH- USP) Heloísa Buarque de Almeida, tal mudança de mentalidade é lenta, afetando, principalmente, as gerações mais jovens. “Eu, por exemplo, em 1975, tinha 10 anos de idade e cresci ouvindo um discurso feminista, fato que já me diferencia da geração da minha mãe. Na sociedade brasileira, o passar do tempo mostrou a conquista da autonomia no espaço doméstico e, quando não se é mãe, a profissão torna-se um dos motivos de realização pessoal”.
Kubo concorda com a professora e menciona que, em dados anteriores, mulheres tinham menor centralidade, ou seja, davam menos importância ao trabalho, porque tinham menos oportunidades no mercado ou se dedicavam integralmente ao lar. “As transformações sociais foram agentes dessa mudança, hoje as mulheres sabem o que querem e valorizam suas escolhas, até mais do que os homens, que já têm um papel social estável”, completa.

Heloisa Buarque

Heloísa Buarque de Almeida

O objetivo central do estudo também chamou a atenção do pesquisador, pois revelou que o caráter público ou privado da empresa interferiu nos resultados. “No setor privado o ambiente físico e o salário são muito valorizados; os funcionários levam em conta a função que desempenham. Já o funcionário público, por não ter muita mobilidade contratual, privilegia o que pode aprender no dia a dia, os relacionamentos pessoais e a conquista da autonomia”, explica.

Heloísa aponta que, independente do gênero, as pessoas procuram trabalhar com o que gostam, sem considerar, apenas, o aspecto financeiro, e isso pode ser um dos sinais dessa pesquisa. “Todos desejam ser bem-sucedidos financeiramente, mas, no caso das mulheres, a maternidade, por exemplo, pode alterar os planos profissionais, além da relevância da classe social, faixa etária, tipo de trabalho e formação escolar.”

Para Kubo, estudar as várias facetas do trabalho e seu significado rendeu frutos inesperados, mas muito bem-vindos: “As conclusões da pesquisa abriram caminho para indagações que pretendo aprofundar em novos estudos sobre a situação das mulheres e o significado do trabalho em nossa época”.

Conheça os avanços femininos retratados pelas telenovelas e pesquisados por Heloísa Buarque de Almeida

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