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Estudo da antropóloga explora as relações entre a telenovela e a feminilização do consumo
Por Márcia Scapaticio
A telenovela acompanha a evolução da sociedade brasileira, por vezes retrata ou antecipa o comportamento do público. Estudar o caso específico das mulheres em relação à telenovela e ao consumo, associado a bens da cultura e produtos foi o objetivo de Heloísa Buarque de Almeida, professora e pesquisadora do Núcleo de Marcadores Sociais da Diferença. O Numas compartilha trabalhos teóricos sobre a produção social da diferença por meio da articulação de categorias de raça, gênero, sexo, idade e classe.
O projeto sobre a indústria cultural no Brasil menciona que as construções sociais de gênero masculino e feminino são permeadas pelas construções da televisão e tem como ponto de partida a análise dos seriados Malu Mulher (1979-80) e Mulher (1997-98), exibidos pela Rede Globo. Para exemplificar esse pensamento, Heloísa aponta dois momentos históricos distintos: “O que era ser mulher de classe média no início do século 20, com escassas oportunidades de trabalho, pois elas estavam limitadas ao ambiente doméstico; e as mudanças ocorridas a partir dos anos 70, mostrando as heroínas femininas cada vez mais caracterizadas como independentes, boas profissionais e com liberdade nos relacionamentos afetivos. Alguns valores feministas entraram nessas mídias e montaram o nosso ideal de mulher”.
É importante pensar que ocorre a abordagem de alguns aspectos mais palatáveis. Entre os temas abordados nas telenovelas, a professora destaca que alguns vão tendo mais aceitação e outros viram tabus. “No caso da violência doméstica, por exemplo, pouco se pensa que ela tem origem na relação de desigualdade entre homens e mulheres e na naturalização do impulso e da violência masculina, fator importante a ser considerado”, completa.
Heloísa relembra que outros países também absorvem referências culturais. “Nos filmes clássicos de Hollywood nos anos 40 e 50 havia os grandes heróis masculinos, um valor da sociedade que permeava o cinema, não, necessariamente, de modo consciente. Já em Malu Mulher, série que fez muito sucesso entre as brasileiras, a discussão de alguns temas feministas era um objetivo e feita de modo consciente pelo seriado.”
O trabalho de Heloísa é pensar como certos valores aparecem na televisão e como, aos poucos, são incorporados pela sociedade brasileira. Mas a professora ressalva que “a televisão não convence as pessoas imediatamente, mas através de um processo lento com diferenças bem marcadas entre as gerações e, também, variações regionais”.
O importante na visão da professora é que a audiência consiga processar o que está sendo veiculado, seja na telenovela ou em um programa de auditório. “A mídia em si não é boa nem ruim e a ideia de que ela pode promover mudanças sociais que ela nem percebe é uma ideia interessante para pesquisa e posterior reflexão”, conclui.
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