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Entre a sala de aula e a mesa de cirurgia

Nivaldo Alonso é professor, doutor e livre docente pela FMUSP

“Analisando retrospectivamente sempre participei da vida acadêmica”

Por Roberta Figueira

Um médico cirurgião plástico determinado que sempre manteve uma relação paradoxal com a Universidade. Esse é Nivaldo Alonso, professor, doutor e livre-docente pela Faculdade de Medicina da USP. Ele também é presidente da Operação Sorriso do Brasil, instituição sem fins lucrativos que opera crianças com fissura labiopalatal (lábio leporino), e ganhador de diversos prêmios como o de melhor profissional de saúde do ano pelo International Biographical Centre, Inglaterra.

Nivaldo Alonso nasceu em Santos e lá permaneceu até os 18 anos. Em 1973 ingressou na Escola Paulista de Medicina (Unifesp). “O curioso é que passei seis anos na Escola Paulista ouvindo falar mal da USP”, brinca se referindo à conhecida rivalidade esportiva entre a Pinheiros (FMUSP) e a Paulista (Unifesp). Depois de formado, fez residência em cirurgia geral em hospitais públicos ligados ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), atual Sistema Único de Saúde (SUS). Foi apenas quando decidiu seguir a carreira de cirurgião plástico que chegou à USP, prestando nova residência especializada nessa área.

No quarto ano de residência começou, por iniciativa pessoal, a atender pacientes com trauma facial no pronto-socorro. “Quando acabei a residência fui convidado para supervisionar e orientar os médicos residentes da cirurgia plástica e surgiu uma oportunidade de estudar no exterior”, conta. Ele se inscreveu para uma bolsa do consulado alemão. “Também tinha escrito para um professor na França chamado Paul Tessier, muito famoso na época, que sempre dizia que eu era bem-vindo”, completa.

Um fator importante para a trajetória da viagem foi a decisão de se casar. “Minha noiva conseguiu uma bolsa para França, então resolvemos que iríamos passar seis meses lá e depois iríamos para a Alemanha. Eu estava no começo da minha vida e ir para o exterior para aprender uma coisa nova era uma aventura”, explica.

Nivaldo Alonso foi convidado para organizar a área de cirurgia craniofacil no Centrinho

Alguns meses antes da viagem, no entanto, Nivaldo Alonso passou em um concurso para médico assistente do Serviço de queimados no Hospital das Clínicas (HC). “Trabalhei lá por dois meses e depois pedi afastamento.” Sem nenhuma ligação com pós-graduação e com uma publicação científica muito restrita, o médico chegou à França. “Foi na França que minha vida mudou, pois entrei em contato com o melhor serviço da época numa área chamada craniomaxilofacial”, afirma.

De volta ao Brasil ele permaneceu na Unidade de Queimados do HC por três anos. “Viajei para aprender sobre uma cirurgia específica de deformidade congênita, mas quando voltei não consegui transferência para cirurgia plástica”, conta. Nessa época além de operar voluntariamente os casos de trauma na face no pronto-socorro, começou a fazer algumas cirurgias de deformidades congênitas e fez doutorado. “Eu queria mudar para a área de plástica, queria montar um grupo, então resolvi fazer doutorado para ter titulação para ser transferidp”, explica.

Foi apenas em 1991 que o médico ingressou na plástica para trabalhar com a cirurgia craniomaxilofacial. “Foi nesse momento que começamos a estruturar melhor esse serviço que antes não existia no HC”, afirma. Dentro da disciplina de cirurgia plástica passou a cuidar dos traumas de face, politraumatizados e a fazer as cirurgias de problemas congênitos juntamente com a neurocirurgia.

Em 1997 Nivaldo Alonso teve seu primeiro contato com a Operetion Smile (Operação Sorriso), uma instituição americana que realizava cirurgias de fissura labiopalatal, que veio ao Brasil a procura de apoio da Universidade para conseguir voluntários para projetos. “Estava numa situação particularmente delicada, porque estava me divorciando e acabei viajando muito com eles, fui para o Quênia, Filipinas e me engajei muito no projeto”, lembra.

A Operação Sorriso do Brasil realiza projetos educacionais além da cirurgia de fissura labiopalatal

Enquanto isso o grupo que estava se formando no HC começou a ter uma representatividade nacional maior. “Participei muito na criação das normas e regras de cirurgia craniomaxilofacial”, conta. Em 1994 se tornou um dos criadores do que, hoje, se chama Associação Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial.

“De 1995 a 2001 comecei a ter uma produção maior, uma representatividade internacional, recebi alguns convites para o exterior e aí surgiu a ideia de seguir uma carreira universitária”, explica. Nivaldo Alonso decidiu então fazer livre-docência, que era algo raro na cirurgia plástica. “Aí realmente iniciou minha carreira acadêmica. Posso dizer então que tenho oito anos de carreira na USP. As portas se abriram, tive acesso a uma série de coisas.” O grupo passou a ter uma linha e há quatro anos realiza cirurgia de fissura labiopalatal com características de um centro de fissurados.

Paralelamente à carreira universitária, o professor criou a Operação Sorriso do Brasil, foi eleito presidente e diretor em 2004 e mudou o trabalho da instituição. Antes a Operação agia pontualmente em lugares carentes e operava crianças que não tinham condição de ir aos grandes centros. Sob sua direção o projeto deixou de ter um cunho unicamente assistencial e se tornou educacional, incluindo também fonoaudiólogos, psicólogos, governo e prefeitura. “Queríamos mostrar para os órgãos governamentais que a responsabilidade pelo tratamento dessas crianças era de todos nós”, explica.

Dos diversos prêmios que já ganhou, destaca como o mais importante para ele o Gilberto Mariño Contreras International Medical Volunteer Awards de melhor médico voluntário pelo trabalho desenvolvido na Operetion Smile Prêmio, que recebeu em 2006 na Irlanda.

Nivaldo Alonso começou a ter contato com a genética e criou uma parceria com o Instituto de Biociências para estudar melhor os problemas de fissura. Recentemente prestou concurso para se tornar professor MS3 na Faculdade de Medicina. “Analisando retrospectivamente sempre participei da vida acadêmica, pois já estava na carreira docente há muito tempo, desde quando ficava operando de graça no pronto-socorro do HC”, lembra.

Em 2008 houve uma reestruturação do Centrinho, em Bauru, e o professor foi convidado a organizar a parte de cirurgia craniofacial, deficiência congênita e fissura labiopalatal. “Para mim esse convite foi muito honroso. No início fui sozinho, ia por alguns dias e depois voltava para São Paulo. Agora já tem mais pessoas e as coisas estão caminhando de forma muito promissora. Uma grande satisfação que tenho é de que existem muitas pessoas formadas por mim e dentro desse serviço”, afirma.

Atualmente opera no ambulatório de cirurgia craniofacial, ministra aulas na cirurgia plástica da Faculdade de Medicina, faz parte da Liga de Cirurgia Plástica da faculdade, desenvolve linhas de pesquisa e é presidente dos cirurgiões plásticos da USP, além de dirigir a Operação Sorriso do Brasil. “E hoje ainda estamos fazendo uma pesquisa que vai permitir que coloquemos células-tronco no fissurado”, conta. Um homem de muitas funções, que trabalha um pouco pelo pão e muito por paixão, assim se pode definir o doutor e professor Nivaldo Alonso.

Um comentário sobre “Entre a sala de aula e a mesa de cirurgia”

  1. Veríssimo disse:

    Muito bom Nivaldo, espero que continue sempre estimulando nossa especialidade, mas não é facil.

    Um abraço,

    Veríssimo

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