A história da moradia no Brasil
Por Carolina Hungria

Os primeiros abrigos humanos localizados em território brasileiro por cientistas foram chamados de sambaquis. Historiadores acreditam que essas moradias surgiram há 12 mil anos. A palavra tem origem indígena, uma junção de Tambá (concha) e Ki (depósito). Os sambaquis foram descobertos ao longo de toda a costa brasileira, e são formados por esqueletos humanos, artefatos de pedra, cerâmica e conchas. As construções têm tamanhos diferentes. A maior delas já encontrada até hoje tem 400 metros de extensão e 30 de altura. Alguns sambaquis já foram localizados também no interior e às margens de rios. Recentes pesquisas do MAE revelaram ainda que os sambaquis eram monumentos intencionais, muito provavelmente feitos com a finalidade de servirem de túmulos.

Mais tarde, no País habitado pelos índios, a forma de moradia que se tornou mais popular foi a maloca, disposta em círculos nas aldeias. Os índios do Brasil não formam um só povo, possuem hábitos, costumes e línguas diferentes. Os Ianomâmis, por exemplo, se estabeleceram em grandes casas comunais. A maloca desses índios é uma moradia redonda, com o topo cônico. Nessas aldeias, várias pessoas vivem juntas numa moradia, variando entre 30 e 100 índios num mesmo local.

Com a chegada dos portugueses, aparecem as capitanias hereditárias e, mais adiante, as sesmarias, que passaram a traduzir a nova distribuição de terra e posse do Brasil: a grande propriedade. As terras do País foram então distribuídas aos portugueses escolhidos pela coroa.

"Os portugueses que vieram colonizar o Brasil viveram aqui seu período feudal, só que com escravos", conta Marcos da Costa. "Primeiro a escravização dos índios e, posteriormente, da população africana." Essa estrutura de população também foi responsável pelo surgimento de um novo núcleo habitacional, os quilombos, formados por escravos fugitivos. "Nessas regiões, a posse de terra e a idéia de moradia tinham um significado de paz e liberdade", resume Costa.

Já no século 19 apareceram os cabanos, pequenos posseiros da província de Pernambuco. Esses trabalhadores eram homens livres, mas viviam como os escravos, sem direito a terras e guiados pela ordem de poderosos produtores de açúcar. O ano de 1832 marcou a Revolução dos Cabanos, "classificada como uma luta verdadeiramente classista, onde os trabalhadores rurais buscavam mais direitos a terra e segurança", conta Costa. A Cabanagem é considerada por muitos historiadores como a mais popular e ampla revolta da época imperial no Brasil. Sofreu uma repressão intensa que terminou com um saldo de 40 mil pessoas mortas.

Ainda no Segundo Império, as moradias despontaram como o principal símbolo de opulência. As casas eram ícones de distinção de classes. Os palacetes urbanos eram reservados à nobreza, enquanto a realeza viva nos palácios. Nessa época, as leis começam a regulamentar o crescimento e o funcionamento do espaço urbano. Com as mudanças sociais que vieram com a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, os espaços se tornaram mais compactos. Nesta época surgem os cortiços, as vilas operárias e as primeiras favelas.

 

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