Edivānia de Almeida Morini
 

 

Edivânia de Almeida Morini percorreu um longo caminho desde a minúscula Itanhomi, cidade com cerca de dez mil habitantes no interior de Minas Gerais, até a Universidade de São Paulo. E preservou nessa jornada a perserverança e o amor pela literatura. Amor que é quase uma obsessão. "Assim que me alfabetizei, comecei a escrever, e não parei mais. Eu nasci pra isso", afirma com convicção e um simpático sotaque mineiro, essa jovem com rosto de menina, que chegou à USP por acaso, mas pretende aqui deslanchar sua carreira de escritora.

Ela chegou na USP através de um concurso para recepcionista no Cepeusp. "Eram 470 candidatos para uma vaga. Eu fiz a prova e voltei pra Minas, pois achava que ia ser muito difícil passar. Mesmo assim, telefonei para saber minha colocação no concurso e descobri que fui a primeira, e seria contratada." Ela considera que o cargo de recepcionista não tem muito a ver com sua carreira, mas que estar dentro da USP abre muitas oportunidades para quem quer trabalhar com literatura. "Espero que essa seja a minha grande chance", sonha Edivânia.

 

Edivânia nasceu numa família com dez irmãos, filha de comerciantes sem instrução, mas que sempre incentivaram na garota esse amor pelas letras. Com dificuldades, ela conseguiu se formar em Serviço Social e fez pós-graduação em Psicopedagogia. "Na faculdade, eu acordava às 4h da manhã para lecionar numa escola rural, ia pra aula à tarde e no fim de semana fazia curso de teatro", lembra.

Desde muito nova, ela trabalhou nos mais diversos projetos que utilizavam a arte para promover a inclusão social, principalmente de crianças. "Fiz oficinas de teatro com meninos de rua, lecionei na escola onde eu tinha estudado, em Itanhomi, organizei até concurso de pipas e me vesti de mamãe-noel no Natal."

Enquanto trabalhava na escola estadual de Itanhomi, Edivânia começou a desenvolver um método peculiar de ensino. "Nunca gostei do jeito como os livros didáticos eram, então eu tentava transformar tudo em teatro. Na verdade era parecido com uma novela. Como os alunos faltavam muito, eu fazia as aulas como se fossem capítulos. Então eles não faltavam, pois queriam ver o próximo episódio", recorda.

Um dos trabalhos que Edivânia considera mais recompensador foi no Programa Nacional de Geração de Trabalho e Renda, uma parceria do Ministério da Integração Nacional e da Organização das Nações Unidas. "A gente chegava nas cidades com um carro de som chamando o pessoal para as oficinas, cooperativas e em 40 dias deixava uma empresa montada e partia pra próxima cidade."

Apesar de recompensador, o trabalho era muito desgastante. "Não tínhamos tempo pra nada. Até pra tomar banho, comer, tinha um horário determinado. Ligar para a família, só uma vez por semana. Minha vida pessoal desapareceu. Por isso, eu não fiquei muito tempo lá", afirma Edivânia.

Edivânia já escreveu um romance, um livro de poesias, histórias infantis e peças de teatro. Nada foi lançado por nenhuma editora até hoje. Mas ela não pretende desistir. "O mercado editorial é muito difícil. Eu já percorri dezenas de editoras, falei com o Ziraldo, que é da minha região em Minas. Falei com o Mauro Mendonça, ator da Globo, que é meu primo. Mas mesmo assim, as portas não se abrem", lamenta.

Para Edivânia, o livro que vai abrir essas portas é Contos Educativos, cuja edição ela pagou com o próprio bolso e já chegou a vender em escolas. "O livro tenta ensinar conceitos básicos de português e matemática através de historinhas. Nas escolas que eu percorri a aceitação foi boa, mas ainda falta uma editora para fazer uma tiragem legal. Quem fez a capa do livro foi meu irmão, que é portador da síndrome de Down", afirma.

Enquanto isso, ela continua a escrever. "Eu escrevo rápido, com facilidade. Aproveito meu tempo livre e mando ver. Fiz uma peça de teatro em uma noite. É sobre uma moça que chega na cidade grande para ser estrela de cinema e, graças ao incentivo e pessoas que ela conhece, consegue. Tem muito a ver com a minha vida. Encontrei muita gente que me ajudou, agora só preciso da grande ajuda. E vou conseguir."

Quem se interessar pelo trabalho de Edivânia Morini pode entrar em contato com ela nos telefones (11) 3762-9862 (residencial) e 3091-2341 (comercial)
por
Paulo Noviello
 
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