|
|
Na
nossa edição de janeiro, falamos sobre o Sistema
de Arquivos da USP, que gerencia as montanhas de papel geradas
no dia-a-dia administrativo e acadêmico da Universidade.
Agora, veremos a evolução da informatização
da USP, desde seus primórdios, nos anos 60, até
as tecnologias futuristas, como as redes sem fio que começam
a ser implantadas neste ano. Como nem tudo é perfeito,
apesar da informatização, as montanhas de papel
não irão acabar. Pelo menos essa é a previsão
de Oswaldo Fadigas Fontes Torres, um dos pioneiros da computação
na USP e um dos fundadores do Centro de Computação
Eletrônica da Universidade. |
|
"O
primeiro computador aportou na USP em 1962. Era um IBM 1620,
utilizado pelo professor de cálculo José Otávio
Monteiro Camargo. O engraçado é que ninguém
sabe como esse computador veio parar aqui. Não tinha
nenhuma nota fiscal, nada. Ele ficava no extinto Instituto
de Pesquisas Matemáticas, no prédio do Biênio,
e só usava o computador quem o Camargo deixava, pois
o IPM era algo informal, criado pelos professores de matemática
da USP. Com esse computador, o Camargo criou o Centro de Cálculo
Numérico, que é o embrião do CCE",
recorda Fadigas.
|
|
"o
CCE foi consolidado em 1971, (...) foi nele que se realizou a
primeira transmissão de dados via modem no Brasil" |
|
"Quando
eu me tornei diretor da Politécnica,
o IPM tinha deixado de existir, pois já havia sido criado
o Instituto de Matemática e Estatística, portanto
o IBM e o Burroughs 2500, um computador de grande porte que
foi o segundo computador da USP, ficaram órfãos.
Então, eu resolvi criar um órgão subordinado
à Reitoria para abrigar essas máquinas. Na época
já existiam, além do primeiro computador, na Poli,
outros computadores na Física e na Economia, mas eu percebi
que tínhamos que juntar tudo, senão ia virar vários
‘inferninhos’, com os computadores servindo apenas
aos professores que neles podiam mexer", lembra.
|
|
O
CCE foi consolidado em 1971, e em pouco tempo começou
a mostrar serviço. Foi nele que se realizou a primeira
transmissão de dados via modem no Brasil. Essas primeiras
experiências de transmissão de dados guardam
histórias curiosas. "Nós desenvolvemos
um modem que se conectava a uma máquina de escrever
elétrica da IBM que havíamos transformado num
terminal. Todo modem precisa de um acoplamento acústico
para funcionar, e como nós não tínhamos
a tecnologia para isso, improvisamos. Usamos duas latinhas
de cerveja, que aliás também eram novidades
na época, para fazer o acoplamento", diverte-se
Antonio Marcos Massola, atual coordenador da Coordenadoria
de Utilização do Espaço Físico
da USP e que trabalhou boa parte de sua vida acadêmica
no CCE, do qual foi coordenador de 1991 a 1994. Além
da transmissão de dados, as pesquisas dessa primeira
fase envolviam desenvolvimento de interfaces gráficas,
traçadores gráficos e outras atividades pioneiras,
que foram coroadas com um patinho.
|
|
"usamos
duas latinhas de cerveja, que aliás também eram
novidades na época, para fazer o acoplamento (...) íamos
comprar as peças na Santa Efigênia. (...)Agora a
história registra o Patinho Feio como o primeiro computador
brasileiro" |
|
O
Patinho Feio, considerado o primeiro computador construído
no Brasil, foi o resultado de um trabalho penoso do CCE. "Foi
em 1972. A Marinha tinha comprado alguns navios novos, que
eram computadorizados. Preocupados com quem faria a manutenção
desses computadores, eles resolveram bancar um projeto para
a construção de um computador de grande porte
no Brasil. Era uma idéia meio maluca, típica
daqueles anos de regime militar, então primeiramente
nós recusamos o projeto. Daí a Marinha foi até
a Unicamp, que aceitou o desafio e começou o projeto
de um computador chamado Cisne Branco. O Hélio Guerra,
meu colega no CCE, achou engraçado e quis fazer um
projeto de computador aqui, mas sem os recursos da Marinha.
Então nós começamos o projeto. Íamos
comprar as peças na Santa Efigênia, pra você
ter uma idéia. Resolvemos, por brincadeira, chamar
o bicho de Patinho Feio, e o concluímos antes do Cisne
Branco. Agora a história registra o Patinho Feio como
o primeiro computador brasileiro", recorda Fadigas.
|
|
O
CCE e toda a informática brasileira foram por muito tempo
acossados pela chamada "reserva de mercado", que impedia
a importação de equipamentos estrangeiros, numa
tentativa mal-sucedida de criar uma indústria de computadores
competitiva no Brasil. "Ironicamente, o criador dessa idéia
de reserva de mercado era um colega nosso no CCE. Ele convenceu
os militares de que se precisava criar uma indústria
informática no Brasil, e a solução que
eles criaram foi impedir a importação de tecnologia,
uma coisa absurda. A USP inclusive foi bastante prejudicada,
pois nessa época a IBM queria instalar aqui um centro
de computação gráfica com computadores
de ponta, e por causa da reserva o projeto foi vetado",
diz Fadigas.
|
|
|
|
A
reserva de mercado foi abolida no final dos anos 80. "Finalmente
nós tivemos a chance de atualizar nosso equipamento,
e a partir de então a USP esteve sempre na linha de frente
da informática no Brasil, com equipamentos atualizados",
afirma Massola, cuja gestão no CCE coincidiu com muitos
desses avanços. "Quando eu assumi, em 91, já
tínhamos os PCs, equipamentos baratos e práticos
com capacidade bem maior que aqueles velhos computadores grandalhões.
Nós pudemos pulverizar a informática, espalhando
diversos terminais de PCs por todas as unidades e posteriormente
os interligando em rede."
No
entanto, a chegada dos PCs na USP foi conturbada. "Quando
começou essa história de computador pessoal, o
Hélio Guerra era reitor e resolveu comprar alguns para
o CCE. O problema é que ainda estávamos na época
da reserva de mercado, e os PCs que ele arranjou eram obsoletos
e nunca foram utilizados", diverte-se Fadigas.
|
|
Eduardo
Bonilha, atual coordenador-adjunto do CCE, é um dos grandes
responsáveis pelo desenvolvimento da rede de computadores
da USP, que permitiu essa "pulverização"
das informações, culminando na Internet. A interligação
dos computadores começou ainda lá atrás,
com os rústicos modens dos anos 70, mas foi no fim dos
anos 80 que ela começou a se consolidar. "Nessa
época havia vários experimentos com redes de grande
porte nas universidades americanas, que iriam culminar na Internet.
A mais interessante era a Bitnet, que ligava a Universidade
de Yale com o New York City College. Em 1988 um grupo do CCE,
que me incluía, foi para lá para trazer essa tecnologia
para a USP. Com o apoio da Fapesp, isso se realizou. E fomos
os primeiros no Brasil a utilizar correio eletrônico e
transmitir arquivos via FTP", recorda Bonilha.
|
|
"em
1988 um grupo do CCE foi para lá para trazer essa tecnologia
para a USP. Com o apoio da Fapesp (...) fomos os primeiros no
Brasil a utilizar correio eletrônico e transmitir arquivos
via FTP" |
|
Atualmente,
o CCE coordena a maioria das atividades relacionadas à
computação da USP. É subordinado à
recém-criada Coordenadoria de Tecnologia da Informação.
Apesar das informações administrativas (matrículas,
disciplinas, notas, compras, recursos humanos, etc.) serem realizadas
pelo Departamento de Informática da Reitoria, todas elas
estão armazenadas em servidores mantidos pelo CCE. O
CCE também é responsável pelo correio eletrônico
da USP, pela USPnet, uma rede de altíssima velocidade
que liga as unidades, pelo programa Pró-Aluno, e pelo
suporte e manutenção de todos os computadores
da Universidade. Além disso, o centro assumiu a Divisão
de Telecomunicações da USP, e agora cuida também
de toda a telefonia do campus. "Hoje a tecnologia de transmissão
de dados e voz está convergindo. Nós temos um
projeto para adaptar a telefonia da USP a essas novas tecnologias,
e num futuro próximo os usuários poderão
usar o telefone pelo computador, com diversos novos recursos
digitais", afirma Bonilha.
|
|
Outra
nova tecnologia que está da mira do centro são
as redes sem fio de alta velocidade, ou Wi-Fi. "As redes
sem fio são a nova coqueluche do mercado de tecnologia,
mas ainda é uma tecnologia muito nova. Nós pretendemos,
este ano, implantar experimentalmente uma rede entre algumas
unidades da USP, mas vamos com muita calma pois não queremos
investir tanto dinheiro em algo incerto. Paralelamente a isso,
estamos promovendo um evento, que acontecerá em abril,
onde empresas que desenvolvem tecnologias Wi-Fi irão
mostrar seus produtos", completa Bonilha.
|
|
|
cce
|
|
Centro
de Computação
Eletrônica da USP
www.usp.br/cce
t. (11) 3091-6433
|
|
|
|