O
mito de Medéia é virado do avesso
em nova montagem do clássico grego
Uma
das lendas mais famosas da mitologia grega é a dos
Argonautas, heróis liderados por Jasão e que,
a bordo do navio Argos, vivem muitas aventuras para achar
o Velocino de Ouro. Medéia, uma das passagens mais
notórias da lenda, é uma das tragédias
gregas mais conhecidas até hoje, e foi escrita por
Eurípides no século 5 a. C. A versão
que está em cartaz no teatro Sérgio Cardoso,
Histórias do Mar Aberto – Medéia Conta
Sua História, escrita por Consuelo de Castro, é
uma adaptação livre, para dizer o mínimo,
do clássico. Consuelo mudou boa parte do enredo original
para criar uma peça de atualidade surpreendente.
Na
história de Eurípedes, Medéia trai seu
povo, os Cólquidas, e entrega o Velocino de Ouro ao
grego Jasão, que se casa com ela. Jasão a trai
com uma mulher mais nova. Movida pela vingança, ela
mata os próprios filhos. Na adaptação
de Consuelo, a história é bem diferente. Carregada
de conotação política, a história
de Medéia que se pretende ser contada por ela mesma
mostra uma mulher forte, que roubou o Velocino não
por amor a Jasão, mas pelo desejo de paz. Reza a lenda
que o Velocino, se guardado na fronteira do Oriente com o
Ocidente (a Grécia), traria paz a todo o mundo.
Casada
com Jasão, Medéia é traída por
ele devido a uma aliança entre o herói decadente
e o tirano rei Creonte. O marido não coloca o velocino
no lugar almejado por Medéia, e o entrega a Creonte
para se casar com sua filha e herdar o trono. Medéia
não reage como uma mulher traída mas como uma
pacifista em luta por uma causa. Também não
sacrifica os filhos, ao contrário: os protege.
As
interpretações vigorosas de Leona Cavalli, que
encarna a trágica Medéia, Cássio Scapin,
como o nada heróico Jasão e Francarlos Reis,
como o corrupto Creonte, dão credibilidade a essa versão
tão diferente de um clássico. Chamam a atenção
os trejeitos que Reis empresta ao déspota Creonte,
numa interpretação perfeita do que seria um
político corrupto e sedento de poder. Já Scapin
faz um Jasão vacilante, cansado de ser herói
e que não se importa em entregar seu valioso tesouro
em troca do poder. E a Medéia interpretada por Leona
Cavalli consegue ser ainda mais trágica que a original,
por ter ideais mais nobres e ser traída por motivos
mais espúrios do que na peça de Eurípedes.
Histórias
do Mar Aberto – Medéia Conta sua História
Teatro Sérgio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153 - Bela Vista
t. 288-0136
sexta e sábado, às 21h
domingo às 19h
Ingresso: R$ 20 |