Trocar
alianças ou decidir morar junto já teve
diversos significados ao longo da história. Segundo
o psiquiatra da USP Nairo Souza Vargas, uma série
de mudanças começou a ser percebida no
mundo ocidental principalmente após a II Guerra
Mundial, quando muitos homens foram recrutados e as
mulheres precisaram trabalhar fora e assumir novos papéis
no núcleo familiar. Na esteira dessas novidades,
a preocupação com uma vida sexual satisfatória
no casamento deixou de ser secundária para virar
um de seus pressupostos básicos. "Hoje o
casamento pode ser o melhor caminho para que a pessoa
encontre sua identidade e busque satisfazer-se, inclusive
sexualmente", diz o psiquiatra.
O Projeto
Sexualidade (ProSex), vinculado à Faculdade
de Medicina, realizou recentemente a maior pesquisa
sobre a vida sexual dos brasileiros, em que 96% dos
homens e mulheres confirmam: o sexo é "geralmente
importante" ou "importantíssimo, prioridade"
para a harmonia do casal. "Mas com o tempo a freqüência
de relações sexuais entre os casais diminui,
e a novidade do sexo não acontece mais",
afirma Carmita Abdo, professora da Medicina e coordenadora
da pesquisa Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB).
De acordo com o estudo, 18% dos homens dizem que o sexo
tem hora marcada para acontecer e, para 7,5% das mulheres,
é preciso uma ocasião especial.
Nesses
casos, a rotina pode estar corroendo o romantismo
e a
intimidade. "Às vezes, a rotina faz
com que os cônjuges se descuidem da sua função
de amantes, esqueçam de cuidar do físico
e da saúde, percam o respeito, a atenção
e o carinho com o parceiro", adverte Aílton
Amélio, psicólogo e professor |
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do
Instituto de Psicologia, especialista em relacionamento
amoroso. Tomar todos esses cuidados e não
deixar de flertar e namorar são suas receitas
para uma relação com mais vínculo
e satisfação. |
Para Vilson Furtuoso, 40, funcionário da Escola
de Educação Física e Esporte, "o
homem quer ter relação sexual o tempo
todo", mas ele acredita que as relações
ganharam hora marcada por causa da esposa. "Depois
do nascimento do nosso filho, há um ano, ela
ficou mais voltada para a criança", conta.
O mesmo aconteceu com Ciro Júlio Cellulali, 43,
funcionário do Centro Cultural do campus de São
Carlos. "Antes a gente tinha mais lazer e o sexo
era mais tranqüilo", confessa.
Maria
José |
Maria José Lopes, 32, funcionária
da Faculdade de Odontologia no campus de Bauru,
acha inevitável que a vida sexual caia
na rotina. "Fica tudo mais certinho e mais
sério, as ocupações são
maiores, tenho que cuidar da casa e dos filhos,
e o marido fica para depois da meia-noite",
diz. Maria José casou-se grávida,
aos 19 anos, e teve mais outro filho. Conciliar
crianças e sexo, para ela, está
sendo mais difícil agora que a mais velha
está com 12 anos. "Ela está
numa fase de muita curiosidade e acaba tirando
nossa tranqüilidade. Precisamos esperar até
tarde e confirmar se ela está dormindo",
conta.
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A chegada dos filhos é de fato lembrada por Carmita
como um momento delicado, quando a mulher deixa de priorizar
sua sexualidade, porque "canaliza toda a energia
na educação e criação dos
filhos". Mesmo com a criançada por perto,
o psicólogo Aílton Amélio recomenda
que o casal não deixe de reservar momentos de
intimidade sozinhos.
Maria José conta que só foi viver sua lua-de-mel
há dois anos. "Deixamos os nossos filhos com
a minha irmã e fomos para Porto Seguro. Foi renovador
para o relacionamento, tivemos tempo de curtir um ao outro
e conversar sobre assuntos que normalmente deixamos para
lá", lembra. Já a funcionária
da Escola de
Comunicações
e Artes Andréia Zaik, 25, mãe de um
filho e casada há seis anos, faz questão
de continuar com os hábitos do namoro. "Sempre
nos enxergamos como namorados, que se gostam, se
querem bem e se esforçam para agradar. Nos
fins de semana, reservamos tempo para 'programas
de namoradinho',vamos ao cinema, a bares e casas
de amigos, mas também temos uma série
de atividades que cada um continua fazendo sozinho."
Ela acredita que a amizade e a cumplicidade não
deixaram o romantismo acabar, e que os dois estão
sintonizados até mesmo no desejo sexual.
Mas nem sempre tudo são flores, e o surgimento
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Andréia
Zaik |
problemas como a falta de desejo, a disfunção
erétil, a ejaculação precoce ou
mesmo a dificuldade em alcançar o orgasmo podem
indicar doenças físicas ou psíquicas.
Segundo o estudo do ProSex, 15,5% dos homens com disfunção
erétil sofriam de hipertensão e 9%, de
depressão. "Quando chega aos 40, 50 anos,
o homem pensa ter se desinteressado pela mulher, mas
pode estar entrando num quadro de saúde complicado.
A mulher pode ter cardiopatia, tireóide e hipotireóide,
doenças que surgem com a idade e também
são inimigas da sexualidade", afirma Carmita,
que recomenda acompanhamento médico a quem tem
algum tipo de disfunção sexual. Ela coordena
o Projeto Sexualidade, que há quatro anos realiza
atendimento multidisciplinar gratuito para a população.
"Quando o vínculo entre o casal é
que está doente e eles não conseguem
encontrar o caminho sozinhos, recomendamos a terapia
de casal", diz Carmita. Nesse caso, "existe
muita mágoa e ressentimento, falta de companheirismo
e complementaridade, e a terapia pretende ajudá-los
a encontrar uma harmonia que se perdeu ao longo
do relacionamento ou que às vezes nunca
existiu", afirma.
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Carmita |
Desenvolvida de quatro a cinco meses, a terapia
de casal pode ser procurada por casais com dificuldades
sexuais ou com problemas conjugais.
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Vencer
as crises, em contrapartida, traz aprendizado e
tolerância. Assim pensa a vaidosa Elizete
Campos Guimarães, 50, funcionária
da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade, casada há 23 anos. "Passei
pela crise dos sete anos, quando percebi que estava
dividindo tudo mas não somava nada",conta. |
Elizete
em seu casamento |
Hoje ela considera que tudo anda às mil maravilhas,
mas não deixa de chamar a atenção
do parceiro."A
sargenta em casa sou eu. Penso que é a mulher
que tem o papel de |
estimular a relação e cobrar que o
marido se cuide,isso me ajuda a manter fantasias",
diz. Durona ou não, a postura de Elizete
parece surtir efeito. "Até hoje ele
me leva o café-da-manhã na cama e
dá presentes no Dia dos Namorados e do nosso
aniversário", comemora. |
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Projeto
Sexualidade USP
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Livro
Terapia de Casais
uma visão junguiana
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Para
marcar consultas, ligue de segunda a sexta-feira,
das 9h às 12h
T. (11) 3069-6982
Sites: www.portaldasexualidade.com.br
www.museudosexo.com.br
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Nairo
Souza Vargas
Madras Editora
184 páginas
R$ 24,90 |
O
estudo de doutorado do professor da Faculdade
de Medicina acaba de virar livro. Nairo
Souza acompanhou um grupo de casais que
aceitou participar de um processo de avaliação
por meio da Terapia de Casais, para mostrar
a evolução dos vínculos
existentes e desenvolvidos em um relacionamento.
O livro traz descrição e análise
de casos clínicos.
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