insônia

 

 
por
Paulo Noviello

O sono é um processo orgânico vital para o corpo humano. Especialistas dizem que o ser humano precisa, em média, de oito horas de sono por dia para que, além de descanso físico e mental, o corpo realize vários processos metabólicos vitais. Estudos com pessoas privadas de sono mostram que o vigor físico, a resistência a doenças, a atenção, a coordenação motora e muitas outras atividades são seriamente prejudicadas quando não se dorme.

Entre 16% e 40% das pessoas têm algum problema que prejudica o sono. "Os insones trabalham pior, não conseguem desempenhar as atividades cotidianas e podem ter problemas de saúde sérios, que vão da depressão ao diabetes. Isso consome uma quantidade imensa de recursos", alerta Flávio Aloé, coordenador do Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas.

A insônia tem íntima relação com outra síndrome bastante comum, a depressão. Dulcinéia Borreri é técnica administrativa da Unidade Básica de Saúde do campus de Bauru da USP. Ela começou a sofrer de insônia há seis anos. "No começo eu passava as noites em claro para cuidar do meu marido, que estava doente. O desgaste da doença dele me deixou deprimida. Ele infelizmente faleceu há três anos, e desde então só durmo com auxílio de remédios, e nunca por mais de cinco horas e meia por noite", afirma.

"É comum a pessoa não conseguir 'desligar' a mente na hora de deitar na cama, e sem esse relaxamento é muito difícil pegar no sono", explica o médico. Dulcinéia desenvolveu esse problema nos últimos anos. "Chego em casa exausta, deito na cama, mas a mente simplesmente não desliga. Quanto mais eu penso em dormir, menos consigo relaxar para pegar no sono", diz ela.

"Um dos sintomas da depressão é a perda do sono. Porém, quando a insônia tem outras causas, como em pessoas que trabalham à noite, ela pode provocar a depressão e levar a outros problemas, como o alcoolismo" explica Aloé. José Mário Brás, vigilante do campus de Ribeirão Preto, trabalhou por dez anos no período noturno. "No começo, era difícil me manter acordado no expediente. Depois de alguns meses acabei me acostumando, quando folgava não conseguia dormir à noite. Ficava vendo TV até o amanhecer", conta.

Brás trabalhava 12 horas e folgava 36, um esquema que ele considerava bom, mas que a longo prazo não valeu a pena. "Quando eu folgava tentava de todo jeito ficar acordado durante o dia para dormir a noite, aí era um cigarro atrás do outro... Além disso eu bebia muito."

Outras causas que levam à insônia são os distúrbios de ansiedade, abuso de álcool e outras drogas, causas médicas como problemas respiratórios e doenças próprias do sono, entre elas o ronco e a apnéia noturna.

Além dos antidepressivos, medicamentos chamados hipnóticos, que induzem o sono, são utilizados em pessoas com insônia. "Esses medicamentos são muito eficientes, mas não podem ser usados continuamente pois causam tolerância e dependência, por isso só podem ser utilizados sob restrita orientação médica", alerta Aloé. "Tive que tomar o hipnótico Diazepam e fiz um tratamento para alcoolismo. Agora não bebo mais e consegui me transferir para o período diurno, então estou dormindo bem melhor", afirma Brás.


Também é comum esse tratamento vir associado a terapias alternativas como a ioga, a homeopatia e a acupuntura. "Além dos remédios, eu passei a usar a homeopatia e a praticar esportes para diminuir a minha insônia, e os resultados foram bons", comenta Dulcinéia.

A insônia infantil é mais rara, no entanto, mais perigosa que a adulta. "Durante o sono são secretados diversos hormônios, como o do crescimento e é também quando o cérebro armazena em seu 'disco rígido' todas as informações aprendidas durante o dia. Por isso, se a criança não dorme bem tem seu desenvolvimento físico e psíquico prejudicado", alerta Aloé.

Até os dois anos de idade, a insônia infantil é geralmente associada a outras doenças, como a asma e a apnéia noturna. "Entre os dois e os seis anos, essas causas médicas rivalizam com maus hábitos de sono que os pais involuntariamente incutem na criança, como acostumá-la a dormir na cama dos pais, ou com a televisão ligada", explica o especialista. Já na fase de alfabetização, a insônia infantil geralmente é associada a problemas como hiperatividade e síndrome de déficit de atenção.

"A primeira providência quando a pessoa percebe que não dorme tão bem como antes é seguir algumas dicas que garantem um sono mais saudável", afirma Aloé. Essas regras são:

- Evitar fumar e tomar café, chá preto, refrigerantes à base de cola e qualquer item que contenha cafeína ou nicotina
- Evitar refeições pesadas antes de dormir
- Fazer exercícios físicos, de preferência pela manhã
- Tomar um banho morno pouco antes de dormir
- Fazer uma refeição leve (por exemplo, leite ou derivados), pouco antes de dormir
- Evitar TV ligada, relógio, luz, barulho e qualquer tipo de distração dentro do quarto
- Se não conseguir dormir após 20 a 30 minutos, não fique tentando, saia do quarto e se distraia, lendo, por exemplo
- Nunca leve problemas, angústias e preocupações para a cama, tente resolvê-los ao longo do dia.


Se o problema persistir mesmo com essas precauções, é recomendável procurar orientação médica. O Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas é considerado um dos melhores lugares do Brasil para se tratar da insônia. "Para ser atendido no laboratório é necessário se cadastrar e passar por uma triagem. Depois de diagnosticada a insônia, o paciente vai ter seu sono monitorado por um sistema de última geração que estabelece com exatidão qual o problema. A partir daí, nós determinamos o tipo de tratamento mais adequado para cada caso, qual medicamento será usado, quais terapias alternativas podem ser mais eficientes... Enfim, nós abordamos o problema de uma maneira bastante ampla, e os resultados são muito eficazes", afirma Aloé.

Além do Centro do HC da capital, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e a Universidade Federal de São Paulo mantêm laboratórios similares e que prestam atendimento gratuito ao público.

 

 

serviço
 

Centro Interdepartamental de Estudos do Sono
do Hospital das Clínicas de SP

t. (11) 3064-2458 ou 3069-6518
Drs. Flavio Aloé e Stella Tavares

Laboratório de Estudos do Sono
do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
t.
(16) 602-2826 ou 602-2827
Dr. José Roberto Santiago

Instituto do Sono da Unifesp
t.
(11) 5539-6933
Dr. Sérgio Tufik