alimentação

 

 
por
Julia Tavares

Pratos típicos regionais, como o pudim de açaí, do Norte, ou os charutos de folha de parreira, do Sul, estão sendo cada vez mais substituídos por uma alimentação globalizada, pouco saudável e cara para o bolso dos brasileiros. Recentes dados do Estudo Multicêntrico de Consumo Alimentar, do Ministério da Saúde , confirmam essa tendência, assim como a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do IBGE, que detectou diminuição de consumo de frutas em todas as regiões brasileiras na comparação com dados de 1996.

Para incentivar a alimentação saudável, o Ministério lançou o livro Alimentos Regionais Brasileiros, com receitas de alimentos de origem vegetal de custo acessível e alto valor nutritivo, como o cural de milho e a pamonha. O livro, distribuído gratuitamente para Universidades, entidades governamentais e ONGs envolvidas com promoção de alimentação saudável, ressalta a descrição dos alimentos, o período de safra, o conteúdo nutricional e até mesmo as opções de preparo dos pratos.

"Hoje, os pratos regionais são consumidos em dias de festa e em algumas regiões, para turistas", avalia a professora Silvia Cozzolino, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Silvia, que é também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, defende o resgate de receitas típicas, desde que feitas adaptações ao ritmo de vida da maioria da população.
foto crédito:Cecília Bastos

professora Silvia Cozzolino

Em seu livro "1, 2, Feijão com Arroz", Silvia resgatou a cultura alimentar brasileira e avaliou o valor nutritivo de algumas receitas típicas para comparar com hábitos atuais. "De 100 a 50 anos atrás existia muito mais regionalidade do ponto de vista de mercado. Hoje vemos uma maior globalização dos hábitos, ou seja, aquilo que se come em São Paulo, se come também no nordeste e no sul", avalia ela, que relaciona essas mudanças culturais com o aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como problemas cardiovasculares, diabete, câncer e obesidade.

A dieta de Helena Salgado, funcionária da Faculdade de Odontologia, costuma fugir do tradicional arroz com feijão. Filha de espanhóis, ela não está muito acostumada com essa mistura, considerada excelente pela professora Silvia, devido ao ferro, fibras e minerais presentes no feijão. Helena não consegue abandonar doces e fritura. "Eu adoraria comer chocolate todos os dias", afirma ela, que se considera acima do peso ideal.

Já Fabiano Azevedo da Silva, funcionário do Centrinho de Bauru, valoriza comidas típicas do Acre, seu Estado de origem. Há 12 anos em Bauru, Fabiano continua consumindo vatapá e tapioca. Os pratos são feitos pela mãe. "A gente sente falta de frutas
como o cupuaçu, açaí e tacacá (parecida com a fruta do conde), além do peixe pirarucu, que não tem aqui", conta ele.

Ao facilitar o conhecimento sobre valores nutricionais dos alimentos, a publicação do Ministério da Saúde promete ajudar na escolha ou substituição de alimentos mais caros por outros mais baratos. É o caso da palma, leguminosa encontrada no nordeste, com mais vitamina A do que vegetais citados habitualmente, como o tomate e o chuchu. Essa vitamina é importante para o crescimento, visão e sistema imunológico.

No Sudeste, as receitas resgatadas em Alimentos Regionais são feitas com queijo fresco, por exemplo. O livro pode ser acessado na biblioteca virtual do site no Ministério . Pedidos de instituições devem ser encaminhados para cgpan@saude.gov.br, com justificativa e endereço completo.

Confira no box os nutrientes da paçoca de carne-de-sol, receita do livro 1,2 feijão com arroz. Rico em sódio, o prato é fonte de vitaminas do complexo B, como a vitamina B12 da carne, necessária para o crescimento e a saúde dos glóbulos vermelhos e sistema nervoso.


Receita




PAÇOCA DE CARNE DE SOL

500g de carne bovina seca
500g de farinha de mandioca torrada
2g de alho amassado
2g de coentro ou salsa
2g de pimenta-do-reino em pó

Rendimento: 10 porções. Porção: 100g

Cada porção apresenta o seguinte valor nutritivo:
390Kcal
21g de proteínas
43g de glicídios
15g de lipídios
0,9g de fibras
6,5mg de ferro