corrida de aventura

 

 
por
Julia Tavares


L
onge dos hotéis confortáveis, uma programação diferente para as férias de julho pode aliar esporte e emoção em contato direto com a natureza. Opções não faltam para quem pretende praticar esportes de aventura, tais como a escalada, o rafting (descida de bote por corredeiras), o trekking (caminhada em trilhas), e o salto de pára-quedas. Essas atividades, que se popularizaram no Brasil nos últimos anos, são uma boa pedida para agitar os 70% de brasileiros que praticam pouco ou quase nenhum tipo de esporte, segundo o Ministério da Saúde.

Aos caçadores de adrenalina, a novidade é participar de uma corrida de aventura, esporte que nasceu na Nova Zelândia no início da década de 80 e chegou ao Brasil há apenas sete anos, com a Expedição Mata Atlântica, organizada pelo empresário Alexandre Freitas. "A corrida de aventura é o esporte do século 21, assim como outros esportes ao ar livre, porque alia atividades físicas, adrenalina, estratégia, companheirismo, conscientização ambiental e, na maioria das vezes, oportunidade de conhecer lugares incríveis", diz Freitas, que também é presidente da recém-criada Sociedade Brasileira de Corrida de Aventura.

A corrida reúne, numa única prova, ciclismo, trekking, canoagem e, eventualmente, escalada ou rapel, técnica de descida vertical, além da orientação por carta (localização em mapas com auxílio de bússola). "É uma prova de velocidade, vence a equipe que chegar primeiro e completa. Quanto mais rápido melhor", explica Carlos Eduardo Ribeiro, corredor da Equipe Selva e professor de Educação Física especializado em fisiologia do exercício pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/USP).

 
foto serra do cipó
 

O esporte testa o limite da capacidade física e psicológica da equipe, normalmente composta de quatro integrantes, sendo um deles do sexo oposto. A medida surgiu para evitar equipes muito fortes compostas apenas de homens. "A pessoa pode estar bem fisicamente, mas não suportar a dor", adverte Ribeiro.

A respeito da alimentação, o pioneiro Alexandre Freitas, que contraiu um parasita endêmico ao consumir verduras cruas ou peixes mal-cozidos durante uma corrida em Fiji, no Japão, alerta: "O recado para os atletas é que se preocupem com alimentação durante as competições, sempre". Para Adriano Matero, também da Sociedade Brasileira de Corrida de Aventura, esses cuidados envolvem continuar comendo aquilo que o atleta estiver acostumado durante os treinos. "A água precisa de um purificador", completa.

Algumas horas antes de começar a expedição, a equipe recebe um mapa com as coordenadas para fazer a plotagem, ou seja, marcar pontos na carta topográfica. Depois decide pela melhor estratégia de percurso em lugares de beleza natural pouco explorados. Chapada Diamantina, Serra do Cipó, Juréia e Angra dos Reis são destinos certos.
 
foto adventure

Nas equipes competidoras, cada membro tem uma função específica, como a de navegador, responsável pela plotagem, e o encarregado da hidratação e alimentação da equipe. Em corridas longas, com cerca de 500 km de percurso, enfrentam as situações mais adversas, como dormir uma hora e meia por noite, passar frio, calor e muita dor. Ribeiro, que aprendeu as noções de orientação por mapa no exército, é o navegador da equipe Selva e diz que qualquer desatenção pode colocar todos em maus bocados. "Na Bahia nós fizemos um trecho de oito horas de trekking quando recebemos um mapa com mais ou menos 1,80m de tamanho. À noite, com uma lanterna na cabeça, eu tinha que marcar os pontos e traçar o caminho para o final da prova, que era de mais 400 km. Enquanto isso, os outros davam comida na minha boca", conta Ribeiro, que reúne outras histórias surpreendentes desde quando começou a praticar a corrida de aventura, em 2001. Entre elas, conta ter descido uma cachoeira durante três horas com corda e bicicleta nas costas e remado oito horas na Bahia com barco furado. "Fiquei aleijado das costas", relata.

Onde está o médico nessas horas? Segundo Ribeiro, em cada ponto de transição da prova há um centro com atendimento médico. Mas em casos de risco de vida, é possível acionar o rádio para pedir resgate, muitas vezes feito por helicóptero. "Mas aí a equipe está eliminada", diz o corredor.


Para Ribeiro, qualquer um pode se aventurar no esporte desde que comece a treinar as modalidades de 3 a 4 vezes por semana. Os principais organizadores das provas em São Paulo, que são a Ecomotion, Ultimate Adventure, Adventure Camp e Chauás, já promovem corridas "leves" para iniciantes. Nelas, as equipes e os percursos são menores, mas o investimento para participar de qualquer corrida é alto. Só a inscrição custa cerca de R$ 400, sem contar os equipamentos indispensáveis que não são oferecidos pelos organizadores.

Muitos, no entanto, acreditam que "viver no limite" está longe de ser um programa atraente, mas não querem abrir mão da aventura e do prazer proporcionado pelo esporte em contato com a natureza. É o que defende o esportista Dadá Moreira, criador da ONG Aventura Especial, que promove a inclusão do deficiente físico nos esportes de natureza. "Estamos lançando o esporte de aventura adaptado, que ainda é uma novidade no mundo", diz ele. Moreira acredita que a reabilitação através do contato com a natureza seja muito mais gratificante e potencializada. Formado em Direito e Jornalismo, ele é, há oito anos, portador de ataxia espinocerebela, problema neurológico que afeta o equilíbrio, coordenação motora fina, fala e visão. Depois de quatro anos convivendo com a doença, ele passou a procurar informações sobre os esportes adaptados, percebeu a falta de opções e resolveu promover a divulgação por conta própria.

Dentre os esportes praticados por Moreira, está a tirolesa, que é a travessia entre dois pontos de grandes desníveis por corda. Ela pode ser adaptada com o uso de uma cadeirinha mais alta, que prende até a altura do peito, dando maior sustentação ao tronco. Outra é o cascading, descida por corda de uma cachoeira utilizando a técnica do rapel, que pode ser controlada por um instrutor no caso da falta de mobilidade nos braços. "A grande dificuldade está dentro da cabeça. Não é a dificuldade

tirolesa
motora que impede, porque há adaptação para tudo", garante ele, que acredita na força da atividade física para elevar a auto-estima de qualquer um.