Novos
mecanismos da aplicação do Censo Escolar e do
Sistema de avaliação do Ensino Básico
no Brasil (SAEB) serão implementados no início
de 2005. Realizados desde a década de 90 por amostragem
de alunos das redes estadual, municipal e particular, tanto
o Censo como o Saeb passarão a ter o foco no aluno,
ou seja, cada estudante terá um cadastro pessoal que
permitirá o acompanhamento de sua trajetória
escolar. Dessa forma, o Ministério
da Educação pretende aperfeiçoar
o objetivo desses diagnósticos, que é o de apoiar
as Secretarias de educação na melhoria da qualidade
do ensino.
No
entanto, a população ainda não
entende como esses dados podem interferir no dia-a-dia
da escola dos filhos, como é o caso de Afonso
Francisco Gomes, funcionário da Faculdade de
Odontologia. "Eu não sabia que a escola
do meu filho será avaliada", diz. Com filho
na primeira série, ele gostaria de conhecer o
resultado das provas ao fim de cada ciclo, que, de acordo
com idealizadores do novo Saeb, passará a ser
disponível por escola e por aluno.
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Foto
crédito:Cecília Bastos
Afonso
Francisco Gomes |
O
Saeb é o instrumento nacional de avaliação
do ensino básico no País e coleta, desde 1990,
informações sobre alunos da 4a. e 8a. série
do ensino fundamental e da 3a. série do ensino médio,
professores, diretores e escolas. Um dos focos mais importantes
é o exame de múltipla escolha, em que os estudantes
respondem a questões de língua portuguesa e
matemática. O resultado das provas, organizadas pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaionais Anísio
Teixeira (Inep)
a partir de 1997, era mostrado sempre por Estado, região
e país, mas, segundo Carlos Henrique Araújo,
diretor de avaliação da educação
básica do Inep, em 2005 toda escola e todo aluno da
rede pública fará o exame, que deixará
de ser amostral.
"Queremos
criar uma rede nacional em acordo com Estados e municípios
aplicando a atual metodologia do Saeb, com o acréscimo
de questões de ciências sociais e naturais",
diz Araújo. Hoje, cabe às Secretarias Estaduais
e municipais de educação aplicarem ou não
exames de avaliação, como o do Sistema de Avaliação
de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp).
Segundo Araújo, o novo Saeb poderá futuramente
se tornar um sistema unificado. "O exame não será
apenas um diagnóstico, mas sim um instrumento de gestão
educacional", afirma.
Para
a professora Sandra Zàkia Sousa, da Faculdade de
Educação, essas mudanças não
são necessárias, levando em conta o custo
que representam aos cofres públicos. Ela acompanha
os resultados do Saeb desde 1990, quando começou
a ser aplicado, e já participou de seminários
sobre o sistema a convite do MEC. "O método
por amostragem já é suficiente. O problema
é que as avaliações não vêm
cumprindo |
Foto
crédito:Cecília Bastos
Sandra
Zákia Souza |
com
sua função de subsidiar as decisões
no âmbito das políticas educacionais. Seus
dados já são bons instrumentos, mas falta
uma leitura e interpretação dos dados para
que seus resultados sejam utilizados", diz. |
Quanto
ao acréscimo de provas de ciências naturais e
sociais, Sandra acredita que a avaliação de
língua portuguesa e matemática seja referência
suficiente para acompanhar o desempenho também nas
outras disciplinas. Porém, ressalta: "Não
basta constatar que os alunos estão com dificuldades
de leitura se não tiver políticas de enfrentamento
dessa realidade".
Na
prova de leitura do último Saeb,
realizado em 2003, a média nacional dos alunos da 4.a
série foi 169,4 pontos numa escala que vai até
500. Para a professora, a avaliação poderia
melhorar com a criação de programas específicos
por parte do governo. "É preciso adquirir livros
de literatura e literatura infanto-juvenil, implantar bibliotecas,
sala de leitura e investir na formação de professores
para poderem trabalhar isso", diz.
O
desempenho ruim em português foi um dos motivos
para as duas reprovações do filho de Francisca
da Silva, funcionária do Instituto de Matemática
e Estatística. Com 15 anos e ainda na 7a. série
de uma escola estadual em Taboão |
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da
Serra, o desinteresse do garoto por livros, estudos e
tarefas de casa preocupa Francisca, que está pensando
em procurar ajuda de um psicólogo. "A molecada
hoje não quer saber de nada. Acho que a didática
devia ser diferente, de um jeito para conquistar os alunos",
sugere a mãe, que não vê nenhum avanço
acontecendo na prática. |
Rebatendo
as críticas, o secretário estadual da Educação
Gabriel Chalita diz que o governo promove uma série
de projetos para a melhoria dos problemas apontados no Saresp
e no Saeb. "Estamos fazendo um profundo investimento
na capacitação de professores e diretores, com
implementação de políticas que minimizem
as deficiências apontadas. Quando se percebe que em
determinada região ou escola a deficiência está
no letramento, o investimento terá de ser maior nesse
aspecto", exemplifica o secretário.
Diferente
da análise qualitativa do Saeb, o Censo
Escolar é o instrumento do governo federal
que traz um raio X quantitativo das escolas, com número
de alunos, turmas e profissionais, bem como da estrutura
física (número de laboratórios e
bibliotecas, por exemplo). A novidade é que ele
passará a incluir os dados por aluno, com nome,
nome da mãe, data de nascimento, raça e
etnia. "Assim eliminaremos duplicidade de |
Gabriel
Chalita- Secretário da Educação |
matrículas
e alunos fantasmas", afirma Dirce Gomes, diretora
de estatística da educação básica
do Inep. "Na época do primeiro Censo, realizado
em 1931 no governo Getúlio Vargas, o resultado
demorou sete anos para ser contabilizado. O objetivo é
informatizar tudo e disponibilizar as informações
na Internet em tempo real", garante. |
Desde
2003, as escolas públicas já têm disponível
no site do Inep um resumo de dados por escola, obtido através
do censo, que permite comparar, por exemplo, a estrutura física
de escolas na mesma cidade.
Após
consultas sobre duas escolas estaduais de São Paulo,
que atendem alunos de 5a. a 8a. série, a sociedade
pode perceber que elas têm médias muito desiguais
de professores por alunos e alunos por microcomputador.
A E.E. Carlos de Laet, localizada na Vila Aurora, zona
norte de São Paulo, tem 520 alunos matriculados
e 22 professores, com média de 37 alunos por turma.
Já a E.E. Carlos Menon, na Penha, zona leste, atende
189 alunos com 18 professores e possui cinco microcomputadores
contra apenas um da primeira escola. No entanto, fica
atrás em termos de estrutura: não tem nem
biblioteca nem laboratório de Ciências. |
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"Sei
que meu filho não tem acesso a computador nem Internet
na escola", diz Marivaldo de Moura, funcionário
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que tem um filho
na 5a. série de uma escola estadual no Embu das Artes.
"O problema da periferia é a segurança.
Vejo apenas um vigia, que faz vistoria em todos os turnos",
lamenta, lembrando que ainda assim a escola é a melhor
do bairro.
Sandra ressalta que, às vezes, a própria direção
da escola não sabe qual o índice de reprovação
e evasão de seus alunos. "Ela não está
organizada nem para manter esses registros. Eles poderiam
ajudar na administração e na auto-avaliação,
mas é claro que para executar uma série de ações
ela precisa de remuneração e tempo para reuniões
com condições mínimas de trabalho."
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