Mesmo
com inúmeras descobertas da ciência no combate
aos tumores malignos nas últimas décadas, o
câncer ainda é uma doença que assusta
a sociedade; seja pelo índice de mortalidade ou pelo
custo financeiro, físico e psicológico que o
tratamento causa ao paciente e seus familiares. Entretanto,
o que as pessoas muitas vezes ignoram é que o desenvolvimento
de um câncer é extremamente lento, levando cerca
de dois terços do período de uma vida para se
transformar no temido tumor, explica o professor Fernando
Moreno, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
da USP.
Segundo
ele, a solução é usar esse longo processo
de formação a nosso favor, combatendo o tumor
enquanto ele ainda não está completamente formado.
É aí que entra o papel da alimentação,
atuando naquilo que os médicos chamam de quimioprevenção.
"A quimioprevenção nada mais é que
usar substâncias químicas que combatem o mal
antes da progressão e aparecimento do câncer",
explica Moreno. Lógico que essas substâncias
podem ser encontradas em farmácias e drogarias, mas
por que pagar caro se você pode adquiri-las de uma forma
simples e barata na mesa do almoço?
Segundo
Moreno, o conhecimento na área farmacêutica
não está tão definido a ponto de
se fornecer uma tabela relacionando cada alimento com
o respectivo câncer que ele previne, mas centenas
de estudos epidemiológicos chegaram à conclusão
de que frutas e hortaliças reduzem a incidência
de |
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diferentes
cânceres. "É mais ou menos o que a sabedoria
chinesa já dizia há mais de 4 mil anos,
quanto mais colorido for o seu prato, melhor para você",
aconselha o professor. |
Se
a solução é se alimentar para prevenir,
então o brasileiro está, literalmente, bem servido.
A tradicional dupla arroz e feijão, presença
constante na mesa de todo brasileiro, por exemplo, ajuda a
prevenir o câncer oral (tumores que atingem a região
da cavidade bucal, da faringe ou da laringe). É o que
constatou a nutricionista e médica em saúde
pública Dirce Maria Lobo Marchioni em sua tese de doutorado
defendida no ano passado. Na pesquisa foram aplicados questionários
sobre os componentes básicos da alimentação
de cada indivíduo e a freqüência com que
eram consumidos. O resultado apontou que as pessoas que consumiam
mais feijão, arroz e um pouco de carn uma menor incidência
de câncer oral que aquelas com outros tipos de dietas.
Segundo a nutricionista, "o feijão é de
origem vegetal, tem proteínas, baixa gordura saturada
e é rico em substâncias antioxidantes, importantes
para a poteção da célula".
Essa é uma boa notícia para Neusa Maria de Jesus
e os demais funcionários da USP que fazem suas refeições
nos restaurantes da Universidade. Neles, a presença
de arroz e feijão é quase obrigatória,
mas esse não é o único ponto positivo
que atrai a ajudante de secretária do Instituto Oceanográfico,
que diariamente almoça no restaurante central. "Eles
preparam um cardápio balanceado, acompanhado por nutricionistas
e sempre têm uma verdurinha para acompanhar ou uma fruta
de sobremesa", explica Neusa.
Mas
mesmo com a dose quase diária do "remédio"
arroz e feijão, o número de casos de câncer
oral no Brasil é grande, sendo que São Paulo
tem a maior taxa de incidência do País. De
acordo com Dirce, das principais razões desse quadro
é a mudança na dieta do brasileiro, que
progressivamente vem abandonando o consumo de feijão.
Esse é um dos vários exemplos em que a alimentação
não ajuda no combate ao câncer, muito pelo
contrário, dependendo da dieta do indivíduo,
ela pode fazer o papel de vilã, atuando como um
dos fatores |
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determinantes
para o aparecimento do tumor. É importante evitar
a ingestão de gorduras e alimentos carbonizados.
"No churrasco, é bom tirar aquela parte queimada
do alimento porque ela tem substâncias que são
mutagênicas", afirma o professor Moreno. |
A
vida nas grandes cidades e a crescente urbanização,
alteram de forma significativa nossos hábitos alimentares.
É comum, na correria do dia-a-dia, deixar de lado uma
boa refeição para comer um sanduíche
rápido em qualquer lanchonete fast-food da esquina.
Dessa forma, a pessoa pode até ganhar mais tempo para
o trabalho ou lazer, mas perde uma grande oportunidade de
se alimentar adequadamente, já que a chamada junk food
contém muita gordura que, se consumida em excesso,
pode ser prejudicial ao organismo.
Foi
mais ou menos o que aconteceu com Luiz Carlos da Conceição,
que trabalha no setor financeiro do Centro Universitário
Maria Antonia (Ceuma). Quando começou a trabalhar
no Ceuma, há seis anos, ele costumava fazer suas
refeições em lanchonetes da região
ou em carrinhos de lanche, porque o restaurante da USP
mais próximo ficava na Faculdade de Direito, no
Largo São Francisco. "Apesar da comida ser
boa, eu levava uns |
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40
minutos para ir e mais 40 para voltar, o que vai muito
além da hora de almoço", lamenta o
funcionário. |
A
solução encontrada para o problema chegou com
a decisão de Luiz Carlos de melhorar seus hábitos
alimentares. Ele e outros dez colegas de trabalho resolveram
fazer um rateio para comprar e preparar sua própria
comida e fazer as refeições no Ceuma. O cardápio
variado do funcionário agora é de fazer inveja
aos leitores que gostam de uma boa comidinha caseira. "Desde
que decidimos fazer esse rateio, há cerca de um ano,
estou sempre comendo arroz, feijão, carne, uma salada
e verduras", conta.
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