Mais
de trinta jovens músicos tocando sincronicamente os
mais variados instrumentos sob a regência de um maestro.
Não precisa ser um "expert" em música
erudita para imaginar a dificuldade que é colocar em
harmonia tantos elementos diferentes e, assim, criar na USP
uma orquestra de câmara que seja considerada uma das
dez melhores do Brasil.
O
que poucas pessoas sabem é que para que cada partitura
seja executada no Auditório Camargo Guarnieri, toda
uma equipe de profissionais sua a camisa no Departamento de
Música da Escola de Comunicações e Artes,
trabalhando por trás das cortinas na produção
da orquestra. Uma dessas pessoas é Edilena Colombo,
técnica de eventos da USP há mais de uma década
e que há três anos trabalha com a Ocam.
Quem
não acredita no esforço dessa funcionária
e sua equipe em dar respaldo à orquestra, deveria
acompanhar a epopéia que é preparar uma
única apresentação dominical da Ocam.
O espetáculo está marcado para as 11 horas,
mas às 6 Edilena já está de pé.
De pé é pouco, a uma hora dessas a "coringa"
- como ela mesma se define - |
foto:Cecília
Bastos
Alunos
de Música |
já está no Departamento de Música
com a copeira preparando o material (por material, entende-se
desde o programa da apresentação até
o lanche dos músicos) para colocar no carro e seguir
para o teatro. Chegando lá, ela arruma os camarins, |
coloca as informações na porta, prepara o café
da manhã e o lanche, faz o contato com a floricultura,
recebe o público em frente ao teatro e depois do concerto
ainda entrega cerimoniosamente as flores ao maestro Gil Jardim.
Ufa! Mas não pense que acabou, depois de tudo isso
Edilena ainda coloca todo o material no carro e o leva de
volta para a USP, só então a funcionária
volta para casa para seu merecido descanso. "Eu faço
de tudo um pouco, mas nunca sozinha, conto sempre com uma
equipe", ressalta.
Casada
há 21 anos com José Osmarino Colombo, técnico
em manutenção da CCS, e mãe de um garoto
de 17 anos, a história de vida dessa funcionária
é ainda maior que as suas realizações
dentro da Universidade.
foto:Cecília
Bastos
|
O
prelúdio dessa obra começa na cidade de
São Paulo mesmo, num internato de irmãs
franciscanas na região de Pinheiros, para onde
Edilena se mudou após a separação
dos pais. De uma infância confortável, numa
família estruturada e com empregados à sua
volta, aquela menina de apenas sete anos de |
idade
de uma hora para outra se viu cercada por uma disciplina
rígida, com deveres a cumprir e horários
a seguir. Hoje, aos 42 anos, Edilena vê com bons
olhos o tempo que passou com as irmãs. "Os
três primeiros anos que eu estive no internato foram
difíceis, mas depois eu me adaptei ao lugar, e
gostei tanto que não queria mais deixá-las.
Hoje eu vejo como tudo aquilo foi bom para mim",
lembra. |
Depois
de ganhar uma bolsa de estudos no colégio São
Luís e passar em primeiro lugar no concurso público
para a Secretaria da Justiça, Edilane teve contato
com alguns funcionários da USP que incentivaram-na
a trabalhar na Universidade. Depois de dez meses no IME, Edilena
foi trabalhar na Pró-Reitoria de Cultura, onde começou
a escrever uma das histórias de que mais se orgulha
na vida. O ainda embrionário Projeto Nascente precisava
de uma pessoa com um perfil atuante, organizado e capaz de
desempenhar várias funções. Ou seja,
a cara de Edilena.
Quando,
em um tom meigo e imperturbável, Edilena fala do Nascente,
seus olhos brilham e seu braço fica arrepiado. "Trabalhar
na criação do Nascente foi profissionalmente
a coisa mais bonita que eu já fiz na vida. Eu estou
afastada de lá há três anos mas ainda
tenho vontade de voltar. O Nascente é o meu lugar profissional."
No projeto, ela viu surgirem, por exemplo, talentos como Fernando
Bonassi e José Roberto Torero, que hoje se destacam
na produção cultural brasileira. "Naquela
época, década de 90, o pró-reitor me
falou que eu iria trabalhar em um projeto que estava traçando
o perfil cultural do Brasil no ano 2000. Hoje, ao ver esses
artistas na mídia, imagino tudo isso como uma estrada
por onde todas essas pessoas passaram", emociona-se.
Edilena
não considera a música erudita um privilégio
da elite ou dos estudiosos da música. No contato
que teve com maestros e músicos nos últimos
três anos, ela vê a intenção
desses profissionais em abrir as portas desse gênero
musical ao cidadão comum. "O povo brasileiro
tem sede de aprender as coisas. A música erudita
parece uma coisa elitista, mas atualmente quem tem a oportunidade
não quer |
foto:Cecília
Bastos
Aluna
de Música |
perder, eles querem ir lá ver!", empolga-se.
"Hoje, por um real você vai a um concerto na
Sala São Paulo no domingo de manhã e todos
os 1500 lugares estão ocupados." A própria
Edilena, mesmo sem saber ler partituras ou tocar qualquer
instrumento, não esconde seu gosto pela música
clássica. "A música tem um ponto em
que ela se desloca da técnica, aí é
que ela se encontra com o indivíduo. Eu acho que
quando você domina a técnica, às vezes
você perde um pouco a essência, a intuição
e eu não quero perder esse privilégio de
ser o público." |
Atualmente,
uma das atividades que mais orgulham a funcionária
é o projeto Música e Vida, que, com o apoio
da Sociedade de Pediatria de São Paulo, leva todo mês
um grupo de sete ou oito músicos para tocar para crianças
internadas em hospitais. "Você pode estar com todos
os problemas do mundo, mas quando vê aqueles olhinhos
brilhando olhando os instrumentos, é algo mágico.
É um momento em que eles esquecem a dor", emociona-se.
foto:Cecília
Bastos
São atividades como essa o combustível para
tanta energia de Edilena, que não se imagina exercendo
outra função. "Eu não gostaria de
ser uma diretora ou coordenadora, meu lugar não é
atrás de uma mesa", afirma, incansável,
Edilena. "Não importa quantos chefes e diretores
existam se não tiver quem arregace as mangas e faça.
Eu costumo dizer que sou como o gênio da lâmpada:
você faz os pedidos que eu realizo."
|