terceira idade

 

 
por
Marcos Jorge

Houve uma época em que o cidadão passava a vida inteira trabalhando, trabalhando, e quando se aposentava, tudo o que ele queria mesmo era descansar. Passar o dia relaxando em casa, sem ter de cumprir com obrigações ou seguir horários. A palavra de ordem era descanso. Mas o que vem acontecendo ultimamente no segmento da terceira idade é uma sensível mudança de comportamento, de um aposentado inerte e passivo para um cidadão mais atuante. É um conceito que os profissionais de saúde costumam chamar de “envelhecimento ativo”.

O envelhecimento ativo é uma recomendação da ONU (Organização das Nações Unidas) para as políticas públicas relacionadas ao envelhecimento. Ele prevê a otimização das oportunidades de saúde a fim de aumentar a qualidade de vida conforme as pessoas envelhecem. Se envelhecer é natural, isso não implica que o idoso vá aceitar a queda na saúde e da qualidade de vida como uma coisa natural. É o que afirma Heather Barker Dutra da Silva, administradora hospitalar e mestranda na Faculdade de Saúde Pública (FSP). “O idoso tem que ser visto como uma força ativa para a nação, pois ele tem conhecimento para transmitir para outras gerações”, conta.

É dessa forma que Jassyra Guimarães, 74 anos, procura levar a vida, nada de ficar parada. A neta de Jassyra, Cláudia Regina de Souza, auxiliar acadêmica da Faculdade de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, aprova a atitude da avó e a define como uma pessoa extrovertida e atuante. A aposentada freqüenta o Centro de Saúde de Pinheiros, região onde mora, pelo menos duas vezes por semana para praticar atividade física. Lá, encontra com um grupo não menos animado de aposentados, que costuma ir a bailes da terceira idade e viajar para resorts e hotéis fora de São Paulo. A idade não parece ser um empecilho na vida dessa aposentada, “quando ela quer fazer alguma brincadeira sobre a idade, ela diz ‘quando eu ficar velha'”, diverte-se Cláudia.

Se para Jassyra envelhecer ativamente é uma opção, para o resto do Brasil, a aplicação desse conceito é uma necessidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil logo deixará de ser um país jovem para se tornar um país com predominância de velhos. Isso devido à queda na taxa de natalidade (número de nascimentos por ano) e ao aumento da expectativa média de vida que atualmente é de 71,3, e que, estima-se, deve passar para 76 em 2024 e, pasmem, 81 anos em 2050. Dez a mais que a atual. Isso implica que, se hoje o Brasil tem uma população de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos, daqui a duas décadas, esse número poderá dobrar para 30 milhões.

A maneira como os especialistas vêm reagindo a esses números beira o desespero. A maioria associa esses dados a um déficit da previdência social e a um alto custo que o aumento no contingente da população mais velha vai gerar na saúde pública, com internações, cirurgias e remédios. Repensar essas políticas públicas é importante, mas não é a única medida necessária. Para Heather, é preciso mudar o enfoque como se vê o idoso. “Não se pode dizer que o País está envelhecendo e logo ele vai ter problemas, é preciso pensar que ele está mais velho e vai ter um ganho”, explica.

“A ONU não quer que as políticas públicas caiam no assistencialismo, o importante é trabalhar a reinserção desse indivíduo, usando a experiência nos segmentos de decisão política, comunitária ou que envolvam projetos de interesse nacional”, alerta Heather, cuja tese de mestrado defendida na Faculdade de Saúde Pública afirma que um quarto dos idosos pratica serviço voluntário.

Considerada como uma alternativa da ONU para o envelhecimento ativo, o número de idosos envolvidos com voluntariado é baixo, principalmente se comparado a países norte-americanos e europeus, onde o índice chega aos 70%. Ainda assim, a maior parte dos idosos brasileiros pratica a forma indireta de serviço voluntário – as doações de dinheiro, roupas ou comida, por exemplo. É o caso da mãe de Ricardo Moura, técnico acadêmico do Departamento de Física e Matemática, em Ribeirão Preto. Dona Odete Alonso mora
sozinha em casa, situação incomum entre os idosos brasileiros, e contribui mensalmente para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), doando alguma quantia em dinheiro.

Para Heather, o número de idosos voluntários tende a aumentar nos próximos anos, já que, para ela, a prática do voluntariado está relacionada com a questão cultural. “O serviço voluntário está presente de maneira forte na cultura do brasileiro há cerca de apenas dez anos, e a população que está envelhecendo está trazendo consigo essa consciência”, afirma.