hiperatividade

 

 
por
Marcos Jorge


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SAIBA MAIS SOBRE O TDAH, UM TRANSTORNO QUE ATINGE CERCA DE 5% DAS CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR



  Dentro de casa elas causam uma tremenda dor de cabeça para as mães, e na escola são os terrores das professoras. Correm para lá e pra cá, são falantes e impulsivas e, como se fossem movidas por uma bateria inesgotável, não ficam quietas por mais de cinco minutos a menos que estejam dormindo. Essa é a imagem que temos na cabeça quando pensamos em crianças hiperativas. Na verdade, o que chamamos de “hiperatividade” é uma simplificação do que em termos médicos é conhecido por Transtorno de Déficit da Atenção e Hiperatividade, ou apenas TDAH. Simplificação não apenas do nome, mas também dos conceitos desse transtorno.

Antes de qualquer coisa, é importante esclarecer que não é só a atitude que caracteriza o TDAH. Como o próprio nome diz, a criança pode apresentar um problema de concentração e, contrariando o senso comum, ser quieta e desatenta. “Existem três

manifestações do transtorno, o imperativo-
impulsivo, o desatento e também uma combinação dos dois fatores”, esclarece o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, coordenador do Ambulatório de Crianças e Adolescentes do Hospital das Clínicas. Dessa forma, uma criança distraída também pode apresentar o TDAH, “ela geralmente se perde em pensamentos internos, ou seja, fica “viajando” consigo mesma enquanto à sua volta as coisas acontecem”, diz.



O termo hiperativo foi tão falado que já caiu nas graças do povo, o que não é muito positivo. É isso que pensa Daniela Waldman Peterman, que trabalha há dois anos e meio como coordenadora-psicóloga da creche central da USP. “Qualquer criança um pouco mais agitada já recebe um pré-diagnóstico por parte dos pais e é vista como hiperativa, o que é muito delicado”, afirma Daniela. Ela alerta para a preocupação exagerada em relação a seus filhos, “as pessoas esquecem que a inquietação ou a atitude distraída pode ser uma característica da criança, e só”, sugere a psicóloga.

De qualquer maneira, as diversas manifestações do transtorno têm algumas similaridades. Uma delas é o prejuízo que tráz para a vida da garotada. “Aparece principalmente no rendimento escolar e na relação social, pois a criança vai ter dificuldade em fazer e manter amigos, além dos problemas na relação familiar”, explica.

O site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção(ABDA) fornece um guia usado por profissionais da área para identificar o transtorno. Apesar do diagnóstico definitivo só ser dado por profissionais, o questionário permite ao leitor conhecer alguns “sintomas” e aplicar seus critérios.

Outro equívoco é pensar que o TDAH atinge apenas os pequenos. Segundo Andrade, 70% das crianças que tiveram o transtorno vão carregá-lo para a vida adulta, especialmente o adulto jovem. “Os sintomas diminuem porque o adulto não vai subir em cima da mesa num restaurante, por exemplo. Mas a desatenção prevalece, ele vai ter dificuldade para lembrar das contas, dos compromissos, etc.”, conta o médico.

Já a inquietação pode aparecer como uma dificuldade em realizar um serviço mais monótono. Além disso, algumas tarefas que exijam mais atenção, como a direção de um veículo, por exemplo, não são
recomendadas para esses adultos. “Ele vai procurar atividades que tenham mais a ver com a sua agitação e sua desatenção não seja um fator tão determinante”, afirma.


A inquietação dos filhos, seja aquele com TDAH ou não, é um caso à parte, e que exige uma dose extra de paciência dos pais. Simone Falconi, geógrafa que participa do projeto Mão na Massa, da Estação Ciência, conta que nunca teve problemas com João Victor, de cinco anos, quando morava no interior. A situação mudou quando eles vieram morar em São Paulo e as professoras da nova escola reclamaram do seu filho. “Elas me diziam que ele não parava quieto, era falante e agitava as outras crianças”, conta Simone, que acatou a sugestão de levá-lo ao médico para saber se o garoto tinha o TDAH.

A mãe assume que o filho é um pouco agitado, mas tanto médico quanto psicólogo disseram que o comportamento era normal. Ainda assim, Simone já sabe lidar com a pilha inesgotável do filho, “procuro sair com ele para lugares destinados a crianças ou com espaço
suficiente paraele soltar a energia”, e ainda dá uma dica para outras mães de garotos elétricos: “Paciência, saber contar até dez e muito bom humor”.


BOX


Hospital das Clínicas

Apesar da fila de espera,
conta com um Ambulatório
de Crianças e Adolescentes
que oferece triagem e tratamento
para todos os transtornos,
inclusive o TDAH.

Leitura

No Mundo da Lua,
do psiquiatra Paulo Matos,
Lemos Editorial
Com uma linguagem simples
e objetiva o livro aborda as
causas, os sintomas e as conseqüências
do TDAH na vida do indivíduo.


 

   


 
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