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DESDE A DÉCADA DE 70, BRINCADEIRAS E MOMENTOS LÚDICOS SÃO LEVADOS A SÉRIO NA ROTINA HOSPITALAR DO CENTRINHO DE BAURU (SP) |
Artesanato e educação ambiental
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Fitas, rendas, lápis coloridos, guache e pincéis pintam um quadro alegre e cheio de vida no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São |
Paulo. Um quadro, aliás, rotineiro nas dependências do Centrinho –como é mais conhecido –, onde o forte é a humanização hospitalar. "Brincar é um direito da criança, além de ser sua atividade principal. Por isso, mesmo hospitalizada, ela não deve ser privada desse direito",alerta a terapeuta ocupacional Márcia Cristina Almendros Moraes, coordenadora do Serviço de Educação e Recreação do hospital. |
"Ao brincar, a criança se expressa e se recupera mais rapidamente, além disso, o brinquedo traz magia, produz emoção, favorece a fantasia e estimula a aprendizagem", completa.
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Desde 2004, o Serviço de Educação e Recreação mantém um novo espaço denominado Brinquedoteca Artesanal. Por lá, passam cerca de 30 pessoas por dia, entre pacientes e acompanhantes. Na sala, tampinhas de garrafa, |
embalagens longa-vida, vidros, pets e uma infinidade de materiais recicláveis e reaproveitáveis são armazenados em tambores à espera de mãos talentosas. |
"A sucata pode dar origem a objetos construtivos e expressivos", observa a educadora Viviane Pereira Martins Gasparoto. Também são utilizadas sementes, pedras, conchas, folhas, penas, galhos, pedaços de madeira, areia, terra, argila – as chamadas sucatas naturais –, além de copos plásticos, chapas de madeira e metálicas, tecidos, papéis, papelões, isopor, caixas de ovos, etc. Esses materiais são separados por categorias, de acordo com a textura,
tamanho, cor e tipo. A eles, juntam-se acessórios necessários para a transformação: cola, tesoura, régua, lápis, pregos, martelos, entre outros. De repente, juntas, tiras de jornal, cola e tintas se transformam em belos |
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cestos. Do recorte de papelão e lã surgem modernos e utilitários porta-retratos. Bandejas de isopor se transformam em quebra-cabeças. Dependendo do corte, da cor e da motivação, esse mesmo material cria uma linda tartaruga. |
Na brinquedoteca artesanal, as educadoras abordam temas importantes para a formação das crianças. Meio ambiente, consumo sustentável e alimentação saudável estão entre os assuntos tratados de forma divertida e estimulante. "Além de refletir sobre questões relativas à conservação do meio ambiente, a partir do reaproveitamento de materiais recicláveis, com a brinquedoteca artesanal temos por objetivo desenvolver a capacidade criadora da criança, do adolescente e do adulto", conta a terapeuta ocupacional Márcia Moraes.
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"O papel do terapeuta ocupacional é analisar as atividades adequadas à clientela, verificando as necessidades de cada paciente, suas |
condições físicas (motora), psicológicas e cognitivas e providenciando as adaptações que se fizerem necessárias para que as atividades aconteçam de maneira agradável", conclui Márcia. |
"Além de relaxarmos, neste espaço, podemos passar para as crianças conceitos importantes para a nossa vida e para a vida do planeta", garante Vera Lucia Tavares Dias, 39, moradora de Mirandópolis (SP), cidade que fica a quatro horas de Bauru. Mãe da paciente Elaine, de 18 anos, Vera vem ao Centrinho desde quando a filha tinha dois meses de idade. "Desde que conheci o hospital, encontro espaços para me distrair e aliviar a tensão, mas a brinquedoteca artesanal é um lugar novo, diferente", relata. "Em casa eu já tinha o hábito de guardar sucatas. Mas, muitas pessoas ainda não sabem quanta coisa bonita pode surgir desses materiais aparentemente inúteis", observa Vera.
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Para Maria Cristina Aquino da Silva, 25, mãe de Natan, seis meses, que acaba de realizar a primeira cirurgia reparadora do lábio, unir arte e reaproveitamento de materiais num espaço recreativo, especialmente no ambiente hospitalar, é uma ótima idéia. "Eu confesso que não tenho muita habilidade manual, mas me arrisco a fazer coisas mais fáceis, como o fuxico." A partir de agora, Maria Cristina também se compromete a reciclar e reaproveitar as embalagens utilizadas em sua casa. "No |
final das contas, com essas atitudes, a gente ajuda a preservar o meio ambiente, os rios, o ar...", conclui. |
Humanizar para tratar
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Desde 1974, o Centrinho mantém uma estrutura específica de educação e recreação para pacientes e seus cuidadores com o objetivo de reduzir os níveis de ansiedade entre um atendimento e outro e durante os períodos de internação para cirurgia. Dos quase 70 mil pacientes matriculados, a grande maioria é criança e isso aumenta a necessidade de implementar ações que permitam um envolvimento maior com o tratamento – oferecido nas áreas de fissura labiopalatal (fenda no lábio ou no palato, popularmente conhecido por "céu da boca"), anomalias do crânio e da face, deficiências auditivas, visuais e da linguagem. |
As atividades recreativas e educativas são desenvolvidas em toda parte do hospital. Diariamente, educadoras, recreacionistas e demais profissionais das áreas de psicologia, nutrição, odontologia e serviço social promovem atividades lúdicas que envolvem questões sobre a cirurgia para amenizar a ansiedade e desmistificar o medo do desconhecido, por meio de brincadeiras com materiais hospitalares de brinquedo (cantinho do médico e enfermagem). Na lista intensa de atividades que fazem a festa das crianças estão teatro, música, atividades plásticas e de expressão.
"O hospital tem por princípio proporcionar condições para que os pacientes se sintam em casa", afirma o superintendente do Centrinho José Alberto de Souza Freitas, conhecido carinhosamente pelos pacientes como Tio Gastão. |
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"Essa acolhida é fundamentalporque, em geral, eles vêm de outros Estados brasileiros e sentem todos os impactos de estar num lugar diferente",
conclui. |
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serviço |
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Brinquedoteca artesanal
Clientela:
crianças, adolescentes
a adultos em condições
pré e pós-cirúrgicas e
seus respectivos acompanhantes.
Horário de funcionamento:
das 8 às 17 horas, todos os dias,
inclusive feriados e finais de semana.
O que é?
Uma brinquedoteca de confecção
de brinquedos e jogos de sucata.
Lá, incentiva-se a arte de aproveitar o “lixo”.
O processo de construção é rico em
abordagens, envolvendo questões
como a preservação do meio ambiente.
Saiba mais sobre o Centrinho/USP:
www.centrinho.usp.b
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