bulimia, anorexia

 

 
por
Marcos Jorge


Vaidade Obsessiva



infotoques
Disque tecnologia

 

PADRÕES DE BELEZA INATINGÍVEIS NÃO AFETAM SÓ A AUTO-ESTIMA DAS MULHERES, A SUA SAÚDE TAMBÉM ESTÁ EM JOGO



  No dia 19 de janeiro, as lentes de todos os fotógrafos presentes no São Paulo Fashion Week estavam apontadas para uma única direção: a passarela por onde Gisele Bündchen iria desfilar com as roupas da grife Triton e com toda sua beleza. Apesar de ser considerada por muitos como a mulher mais bela do mundo, as formas da modelo brasileira estão bem longe de ser um padrão entre as mulheres comuns, ou de representar um exemplo de corpo saudável.

“Hoje em dia, somos bombardeados por modelos de beleza que são bem diferentes da mulher habitual”, afirma o psiquiatra Flávio Salezano, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Buscar um modelo quase inatingível
de beleza pode ser frustrante para a maioria das mulheres, mas não é apenas a auto-estima que está prejudicada, a saúde física e mental também
correm sérios riscos. Segundo Salezano, a pressão sociocultural que as mulheres sofrem para terem um corpo bonito explica porque o sexo feminino responda por 90% a 95% dos casos de anorexia e bulimia. Ambos são transtornos alimentares relacionados com o peso, mas eles se distinguem pelo modo com que se manifestam no indivíduo.

“A mulher com anorexia nervosa quer emagrecer a todo custo porque se vê gorda, mesmo estando muito abaixo do peso”, explica. Assim, ela usa métodos para não engordar, evitando alimentos calóricos, comendo menos ou fazendo exercícios em excesso. “Nós já tivemos pacientes que comiam três ou quatro folhas de alface no
almoço, mais três ou quatro no jantar junto com um tomate”, exemplifica.

Em quadros de bulimia, a mulher não está preocupada em emagrecer, e sim, em deixar de engordar. “Nesse caso, acontece o que os médicos chamam de episódios bulímicos, ou seja, existe uma compulsão alimentar em que a moça come descontroladamente, se sente frustrada, triste, cheia e fisicamente ela se sente mal”, relata Salezano. O mal-estar faz com que a mulher se arrependa e use de práticas para não ganhar peso como provocar o vômito, tomar laxante ou diuréticos.

Esse é o limite em que a busca pela beleza deixa de ser uma vaidade para se tornar uma doença. Para a secretária Luzia Sônia Candeu, do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental do Instituto de Geociências, o importante é buscar um equilíbrio entre estética e saúde. “Se preocupar com a aparência é uma coisa positiva dentro de alguns limites, até benéfica para a saúde.
O problema é quando essa preocupação torna-se exagerada e leve a alguns problemas, como depressão”, acredita a funcionária. Vaidosa como a maioria das mulheres, no final do ano passado Sônia passou por um regime. Ela notou que estava ganhando muito peso desde fevereiro e cortou alguns pratos das suas refeições. Lógico que tudo sob controle. “Eu deixei de comer feijão à noite, por exemplo, e equilibrei um pouco minha alimentação. Hoje, com 57 quilos, estou me sentindo superbem. Isso é o que importa”, conta satisfeita.

Identificar um quadro de anorexia não é difícil, porque a mulher com esse transtorno costuma emagrecer muito, e muito rápido. Além da mudança na aparência física, o próprio comportamento do doente também fica alterado. “A menina evita participar das refeições com a família, fica se policiando quanto ao peso e deixa de comer coisas que gosta”, avisa Salezano. O mesmo não se pode dizer da bulimia. Nesse caso, como não há perda de peso, a identificação é mais difícil, mas ainda assim algumas pistas podem ser úteis. “A pessoa passa a usar o banheiro repetidamente após a refeição, e faz uso de comprimidos laxantes, na tentativa de emagrecer”, indica. Passar tempo demais na academia também pode ser um sinal de quadro bulímico.

Seria uma ilusão achar que qualquer mulher pode ter um corpo como de uma modelo profissional. “Algumas pessoas têm uma predisposição genética para serem esbeltas e têm facilidade para emagrecer, enquanto outras precisam mergulhar em dietas rigorosas
para perder alguns quilinhos”, afirma Salezano. Seria como e, em três meses, quiséssemos transformar um cidadão comum num campeão olímpico de salto em altura, natação ou 100 metros rasos.
Nesse caso, forçar o organismo muito além do seu limite pode ser extremamente perigoso. Segundo o médico, entre 7% e 10% dos casos de anorexia podem levar à morte. Um dos casos de maior repercussão aconteceu com a cantora norte-americana Karen Carpenter, do grupo The Carpenters, que fez muito sucesso na década de 70. No seu caso, a anorexia provocou sérios problemas cardíacos, pois a falta de alimento enfraqueceu os músculos do coração e, conseqüentemente, seu batimento. Em seus últimos dias de vida, Karen pesava pouco mais de 35 quilos.

Preocupar-se com o peso é natural e muito saudável, já que a obesidade leva a uma série de complicações para a saúde como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, mas é preciso estabelecer um limite para que isso não se torna uma paranóia. Vale a pena calcular o seu Índice de Massa Corporal (IMC), para saber se você está acima ou não do peso “ideal”.

Para Lúcia Helena Angeloni, responsável pelo atendimento ao paciente pelo telefone do Centrinho, em Bauru, as pessoas preocupam-se demais com o corpo e deixam de lado alguns outros valores. “Eu me sinto bem com meu próprio corpo e até gostaria de mudar algumas coisas, mas, ainda assim, jamais me sujeitaria a uma cirurgia plástica ou estética”, conta. Do alto de seu 1,74m de
altura e 72 quilos, a funcionária praticante de caratê e dança do ventre dá uma dica para os insatisfeitos com o próprio corpo. “A pessoa não precisa ser linda para ser feliz, mas apenas ser feliz. Porque aí, com certeza, ela vai se tornar uma pessoa linda.”

 

   


 
O Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
Todos os direitos reservados® e.mail: espaber@edu.usp.br