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cérebro
por
Marcos Jorge



Em 18 de abril de 1955, há 50 anos, morreu no Hospital Judaico do Brooklyn o físico Albert Einstein, aos 76 anos. A humanidade perdia um dos maiores gênios da história e, junto com ele, sua genialidade. Aos 26 anos, o jovem funcionário de um escritório de patentes revolucionou a física com a publicação de teorias que contrariavam o que era dito na comunidade científica da época, incluindo teses que vigoravam desde os tempos de Isaac Newton, dois séculos atrás.

Na tentativa de compreender o que se passava na cabeça de um gênio, o patologista responsável pela autópsia, dr. Thomas Harvey, escondeu o cérebro de Einstein, cujo corpo fora cremado, e cortou-o em 240 pedaços, guardados secretamente por décadas.
Antiética, precipitada, desrespeitosa, egoísta ou todas elas, seja qual for o seu julgamento da atitude do dr. Harvey, o fato é que foi uma tentativa desesperada de entender o funcionamento desse que ainda hoje é um dos órgãos mais “desconhecidos” do corpo humano.

Desconhecido, talvez, mas longe de ser desinteressante. Apesar de representar cerca de 2% do peso de um cidadão comum, é o cérebro que consome de 20% a 25% da energia do nosso organismo. Além disso, “hoje está solidificado na ciência que o sistema nervoso é responsável pelo que somos, nossa personalidade, etc. Ou seja, o que você é tem a ver com as conexões das suas células nervosas”, afirma o professor Gilberto Xavier, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências (IB).

“hoje está solidificado na ciência que o sistema nervoso é responsável pelo que somos, nossa personalidade"

Gilberto Xavier

Sabendo disso, fica mais fácil imaginar por que quando realizamos uma tarefa intelectual intensa consumimos tanta energia e nos sentimos tão cansados. “Esse consumo de energia seguramente é maior que nas atividades físicas”, afirma Xavier, que também coordena
foto:Cecília Bastos

Shussumu Hayashi
o Laboratório de Neurociência no departamento. Shussumu Hayashy sabe bem o que é isso. Funcionário do Departamento de Informática da Reitoria, Hayashy por muito tempo integrou a equipe responsável pela folha de pagamento dos funcionários, “Esse serviço demandava muito trabalho e, principalmente, trabalho sob pressão porque há muito rigor no cumprimento dos prazos e não se pode errar”,
afirma Hayashy, que já esteve bem estressado por causa do serviço somado a problemas pessoais e hoje pratica meditação e integra o coral da Reitoria.

Para o professor Xavier mais do que a atividade intelectual intensa, realizar essa atividade sob pressão é gerador deste efeito que convém chamar de desgaste mental. Ele próprio vê na condição de professor uma pressão da Universidade para a produtividade, ou seja, publicação de artigos, orientação de alunos, cumprimento de horas/aula. “O importante aí é encontrar um equilíbrio do que é razoável sem prejudicar a atividade intelectual da pessoa”, sugere.

Uma das maneiras de impedir esse “desgaste” é evitar a sobrecarga de tarefas e não executar várias delas ao mesmo tempo. “O melhor é começar uma atividade e ir até o fim; terminou, dê uma saída por dez minutos, tome uma água, e comece a outra”, recomenda. Segundo ele, dessa maneira o indivíduo dá um tempo para o cérebro transformar o resultado desse processamento em memória.

foto:Cecília Bastos

Roângela Rodrigues
A memória é uma das funções do cérebro mais afetadas pelo excesso de atividade intelectual, principalmente quando a pessoa abre mão de um aliado poderoso: o sono. Mãe de Beatriz, de três anos, não foram poucas as vezes que a secretária do diretor do Instituto de Física, Rosângela Rodrigues, perdeu suas preciosas horas de sono para cuidar da filha. Uma indesejada sinusite faz com que a garota tenha problemas para dormir e freqüentemente acorde com febre ou apnéia. “O dia seguinte no trabalho é complicado porque não descansei o suficiente e minha memória não é a mesma. Fico cansada mais fácil e meu dia não é tão produtivo como de costume”, conta.
 

Mesmo para isso existe uma explicação. Apesar de ser muitas vezes menosprezado pelos notívagos, o sono tem um papel fundamental no aprendizado do indivíduo. “As informações obtidas ao longo do dia são recicladas à noite, durante o sono”, afirma dr. Flávio Aloe, que coordena o Centro Interdepartamental de Estudos do Sono (Cies) no Hospital das Clínicas da USP. Além disso, uma noite maldormida pode trazer outros problemas como desmotivação, irritabilidade, desatenção e falta de criatividade. Fica a lição do próprio Albert Einstein, que segundo biógrafos, desfrutava de nada menos que dez horas de sono por dia. A nós resta a recomendação médica de oito horas por dia e o consolo de que nosso cérebro vai permanecer conosco quando morremos.

 

 

 

 
 
 
 
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