50% DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS SÃO FUMANTES PASSIVAS, AO MESMO TEMPO QUE 90% DAS PESSOAS SE INCOMODAM COM A FUMAÇA ALHEIA

"O
fumante passivo tem 25% a mais de câncer de pulmão e 25% a mais de enfarte. Crianças expostas à fumaça do cigarro têm mais otite, bronquite, asma e rinite alérgica”, afirma o dr. João Paulo Becker Lotufo, pediatra, pneumologista e coordenador dos pacientes externos do Hospital Universitário (HU). Dados como estes justificam o artigo 2º da lei federal nº 9.294, de 15 de julho de 1996, pela qual se proíbe o fumo em recinto coletivo, privado ou público. No campus da capital, o cumprimento da lei recebe o incentivo do Conselho do Campus, presidido pelo prefeito Wanderley Messias da Costa. “Na verdade, não se trata de implementar uma lei, pois esta já existe, mas sim de estimular o seu cumprimento em todas as unidades”, afirma Sônia Maria Vanzella Castellar, assessora do prefeito e professora da Faculdade de Educação.

foto:Cecília Bastos

“Na verdade, não se trata de implementar uma lei, pois esta já existe, mas sim de estimular o seu cumprimento em todas as unidades”

Sônia Maria Vanzella Castellar

“Na sala onde trabalho, é respeitada a proibição do fumo, não só devido à lei, mas em consideração aos colegas não fumantes. Além disso, mesmo eu sendo fumante, a fumaça me incomoda”, afirma Geraldo de Souza Rodrigues, encarregado do setor de segurança da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Além dos não fumantes, a fumaça do cigarro também é desagradável para boa parte dos fumantes. “Se considerarmos os 22% de pessoas que fumam no Brasil, teremos pelo menos 90% de brasileiros que se incomodam com a fumaça do vizinho”, declara o dr. Lotufo, que é membro da Comissão Anti-Tabágica do HU. “Fizemos um trabalho dosando a cotinina urinária, que é o derivado da nicotina, em crianças de 0 a 5 anos de idade e vimos que 24% destas têm a substância na urina. Isso é preocupante, já que 50% das crianças no País são fumantes passivas”, afirma.

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“Na sala onde trabalho, é respeitada a proibição do fumo, não só devido à lei, mas em consideração aos colegas não fumantes. Além disso, mesmo eu sendo fumante, a fumaça me incomoda”

Geraldo de Souza Rodrigues

O Conselho do Campus reúne os diretores de todas as unidades. “Uma reunião, em novembro de 2004, decidiu que iriam restringir as áreas onde fumar, mas quem definiria esses locais seriam os diretores das unidades, com autonomia para decidir como regularizar”, afirma Sônia Castellar.

Sônia Maria Fiore
A assistente social e diretora do Grupo Assessor de Prevenção e Tratamento da Dependência Química do Campus de Piracicaba, Sônia Maria Mendes Fiore, explica que são organizados encontros enfocando a qualidade de vida para debater temas como os fatores estressantes do trabalho. No
campus de Bauru, “fizemos campanhas, instituímos áreas restritas para se fumar e chegamos a trocar flores por cigarros”, conta Ronise Motta, relações públicas da ouvidoria do Hospital de Reabilitação de Anomalias Crânio-Faciais.




“Fizemos campanhas, instituímos áreas restritas para se fumar e chegamos a trocar flores por cigarros”

Ronise Motta

Restrições desse tipo beneficiam tanto o fumante passivo quanto o fumante propriamente dito, aumentam a qualidade de vida no ambiente de trabalho e forçam as pessoas a fumarem menos e renderem mais, já que um funcionário chega a perder duas horas de trabalho por dia graças ao cigarro. “Fumar não dá só câncer de pulmão, relaciona-se também com câncer de boca, de laringe, amputações de perna e a maioria dos acidentes vascular-cerebrais (AVC), derrames e infartos”, afirma dr. Lotufo. Ficar oito horas por dia ao lado de um fumante, equivale a fumar de cinco a dez cigarros por dia.

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“Fumar não dá só câncer de pulmão, relaciona-se também com câncer de boca, de laringe, amputações de perna e a maioria dos acidentes vascular-cerebrais (AVC), derrames e infartos”

Dr. João Paulo Lotufo

“Entrei nesse vício quando era adolescente, fumar era moda e não existiam campanhas”, afirma Maria Tereza Auriemi da Silva, técnica acadêmica da Secretaria de Pós-Graduação do Instituto de Biociências, que considera a sua dependência “um fruto da mídia”. “Não estou preparada no momento, porque é necessário muito apoio em outras partes da vida, porém pretendo parar de fumar um dia”, completa. Maria Tereza não é contra as campanhas, mas as considera um tanto preconceituosas. “As pessoas olham para os fumantes como se eles não parassem porque não querem. Fumar não é bom, mas ser perseguido também não é agradável”, afirma.

Campanhas publicitárias atingem os fracos dependentes de nicotina, que precisam de um pequeno estímulo para deixar de fumar, enquanto a terapia cognitivo-comportamental, método usado no ambulatório do HU, é eficaz no tratamento dos fortes dependentes. “Nada mais é do que um vigilante do peso do cigarro. Verificamos o quanto a pessoa fuma e explicamos a maneira de diminuir. É um trabalho de conscientização”, explica o dr. Lotufo.

foto:Cecília Bastos

“Entrei nesse vício quando era adolescente, fumar era moda e não existiam campanhas”

Maria Tereza Auriemi da Silva

Hoje, é proibido fumar dentro do HU e a dez metros do prédio e foi criado um fumódromo. Isso é resultado de um processo que começou há três anos com campanhas, cartazes, palestras, exposições e dosagens de monóxido de carbono. “Embora estejamos simplesmente cumprindo a lei, nossa maior preocupação é a saúde do funcionário e o impacto que isto tem na população que freqüenta o hospital”, afirma o dr. Lotufo. Junto com a proibição, foi montado um ambulatório para tratamento do tabagismo. Nele, a reposição de nicotina e bupropiona (antidepressivo) fez dobrar a cessação do tabagismo. A medicação ameniza os sintomas da falta da droga, pode ser patch de nicotina ou chiclete. Embora o seu fornecimento seja restrito aos funcionários do HU, qualquer funcionário da USP pode participar do ambulatório.

foto:Cecília Bastos

Campanha anti-tabagismo no HU

Assim como no HU, o Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto oferece o tratamento anti-tabágico aos funcionários através de uma equipe multi-profissional, incluindo professores de educação física e nutricionistas, já que parar de fumar pode ser acompanhado de ganho de peso. “Há cerca de três anos fizemos uma campanha voltada aos funcionários sob orientação da Secretaria Estadual de Saúde. O hospital financia parte do medicamento e os inscritos assistem a palestras com psicólogos, dentistas, fonoaudiólogos e outros profissionais de áreas diversas por nove semanas”, explica o dr. Munir Moisés, psiquiatra da Unidade de Emergência e membro da Comissão Interna de Controle ao Tabagismo do HC de Ribeirão Preto.


foto:Cecília Bastos

“Há cerca de três anos fizemos uma campanha voltada aos funcionários sob orientação da Secretaria Estadual de Saúde. ”

Munir Moisés

“Não sou fumante e na minha sala não costumam fumar, se a fumaça me incomoda eu saiu de perto”, conta Wellington da Silva Moura, técnico de Recursos Humanos da Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas. “Queremos implantar o que foi feito no HU nos outros prédios, criar uma comissão anti-tabágica em cada local de trabalho, quanto mais gente envolvida melhor. Já existe uma iniciativa da prefeitura da USP e uma do HU, está na hora de ampliar e espalhar a campanha pela Universidade”, acredita o dr. Lotufo.



SERVIÇOS

Ambulatório Anti-Tabágico do HU
T. 3039-9429

Paciente USP

Inscrição no UBAS com enfermeira Marina ou Ana Lúcia
H. quinta, às 8h

Paciente USP (dependentes e aposentados) e Butantã

Inscrição no Ambulatório com Meire, secretária do ambulatório
H. quinta, das 9h às 11h e segunda, das 11h30 às 13 h

Unidade de Emergência do HC-Ribeirão Preto

T. (16) 602-1175

Grupo Assessor de Prevenção e Tratamento da Dependência Química (Piracicaba)
T. (19) 3429-4161