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educação sexual
por
Marcela Delphino


EDUCAÇÃO SEXUAL, DESDE O BE-A-BÁ, É ASSUNTO PARA PAIS E PROFESSORES


Pais ausentes e crianças cada vez mais cedo na escola. Sobram veículos de informação voltados para os adolescentes, mas falta tempo para os adultos observarem seus filhos e perceberem o momento certo de tocar naquele assunto. A sexualidade é tomada como um tópico entre tantos outros do currículo escolar, “a família é uma das instituições formadora das pessoas, mas não a hegemônica, como antigamente. Ela tem perdido, ou cedido, espaço para a escola e os meios de comunicação”, analisa Paulo Albertini, professor do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia (IP).

foto:Cecília Bastos
A educação sexual não é dada numa lacuna ou num pedacinho da vida, é uma formação, um processo”

Paulo Albertini

O ideal seria que as escolas tratassem a educação sexual não como uma matéria isolada, mas inserido-a em discussões que permeassem todas as outras disciplinas. Assim, também, os pais não precisam esperar que o filho atinja uma determinada idade para sugerir o assunto. “A educação sexual não é dada numa lacuna ou num pedacinho da vida, é uma formação, um processo”, afirma Albertini. As famílias deveriam tratar dela no contato cotidiano, assistindo a um filme ou um programa juntos, por exemplo. “Costumo aproveitar assuntos que causam polêmica na mídia para conversar com minhas filhas de 13 e 14 anos, até mesmo quando assistimos a uma novela juntas”, conta Sônia Maria Moraes Passos Teixeira, secretária do Centro de Práticas Esportivas.

Qualquer relação humana tem o potencial de educar, muitas vezes dispensando palavras e se concentrando nos exemplos, nas posturas de vida. “Um professor, um amigo, até no botequim da esquina ou no clube, tudo são influências”, diz Albertini, que destaca a importância da escolha da escola onde os filhos estudarão. “Uma das principais variáveis nessa escolha são escolas que tenham uma visão de mundo parecida com a da família.”

foto:Cecília Bastos
Costumo aproveitar assuntos que causam polêmica na mídia para conversar com minhas filhas de 13 e 14 anos, até mesmo quando assistimos a uma novela juntas”

Sônia Maria Passos

As pessoas prestam atenção no método pedagógico que a escola adota e, principalmente, no índice de aprovação de seus alunos no vestibular. Mas, por vezes, se esquecem que estão selecionando também os valores que farão parte do dia-a-dia de seus filhos. “As crianças e adolescentes aprendem muito através de exemplos, mesmo que não se fale, estão ligados”, diz Albertini. A construção do jeito dos adolescentes se colocarem no mundo é feita no cotidiano e muito na imitação dos pais e colegas. O ideal é estar disponível e sensível ao filho, inclusive quanto à educação sexual. Os pais não vão resolver tudo, mas devem ser uma referência e assumir suas posições. “É importante que o adolescente tenha clareza de quais são as posições dos pais para poder se confrontar, ter aquele modelo e buscar outros.” Quanto ao educador, ele também é um modelo. É papel da escola, por exemplo, integrar adolescentes que sofram qualquer preconceito relativo à sexualidade e fazer uma crítica disso. “Não acredito em aula específica sobre sexualidade, acredito numa escola que tenha formação boa e nela apareça o assunto”, afirma o psicólogo.

A preocupação volta-se também para a avalanche estética a que estamos expostos. “Passamos de uma época de muita repressão da sexualidade para um certo afrouxamento dos costumes e surgiu um outro tipo de cobrança: a busca de padrões de perfeição estética, a grande prisão da atualidade”, explica Albertini. Nessa sociedade da aparência, esses padrões são vendidos como receitas de felicidade e acabam restringindo o encontro das pessoas. “Para o adolescente é extremamente grave, porque ele está em época de transformação, se sentindo desengonçado. Então, essa situação exacerba uma sensação de inadequação”, avalia o coordenador do Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do IP.

foto:Cecília Bastos
Deixo claro que estou por perto para o que ele precisar”

Maria Regina Iacovelli

O principal em educação é estar em contato com o seu filho para perceber o que está acontecendo e a hora certa de interferir. Maria Regina Silva Iacovelli, secretária do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, sempre manteve abertura para que seu filho de 12 anos a procurasse para conversar. “Deixo claro que estou por perto para o que ele precisar”, conta. É preciso acompanhar e, às vezes, sofrer a distância sem poder fazer nada, porque é uma tarefa do filho descobrir algumas coisas. As relações pais e filhos são muito dinâmicas, tem fase que o filho está mais receptivo e outras não. “É importante que o adolescente tenha autonomia e outros modelos e que às vezes se confronte com os pais”, acredita Albertini, “a educação não é uma redoma.”

 


 

 
 
 
 
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