foto:Cecília Bastos

UMA DAS TRADIÇÕES NATALINAS MAIS ANTIGAS É A APRESENTAÇÃO DOS GRUPOS DE CANTO

"Já nasceu o Deus menino para o nosso bem”. Presume-se que o título de um dos mais famosos coros de Natal, The First Noel , tenha surgido com a expressão nowell (“ now all is well ”, em português, “agora está tudo bem”), pois havia nascido o menino Jesus. Escrita aproximadamente no século 17, a melodia foi transmitida oralmente entre gerações por mais de 200 anos, quando passou a fazer parte da antologia de canções natalinas em 1833. No mês de dezembro, quando as muitas tradições se manifestam para comemorar o dia 25, os corais cuidam da trilha sonora em muitas apresentações para o público.

A história do canto coral tem suas raízes intimamente associadas à história da música e da própria humanidade. As primeiras melodias foram proferidas durante o canto coletivo de tribos primitivas em rituais religiosos para clemência e agradecimento aos deuses. Já no período clássico, foram estabelecidos os pilares do canto coral dentro da cultura grega e entre cristãos. O termo choros nasce na Grécia e diz respeito aos grupos de cantores e dançarinos que uniam suas vozes para formar melodias distintas entre si. Com esse povo, o coro ultrapassou os limites religiosos e adentrou as festividades populares. O cristianismo, por sua vez, utilizou a música com a intenção de transmitir palavras litúrgicas e atrair mais fiéis para sua Igreja em expansão, depois que o imperador romano Constantino I permitiu a liberdade de culto, no ano 313. Dentro de templos cristãos funcionavam verdadeiras escolas de canto coral, sendo a primeira delas fundada pelo papa Silvestre I, no século 4.

Com a reforma protestante do século 16, foi reforçado o uso do canto coral em ambiente religioso, condição que se manteve até meados dos séculos 18 e 19. No entanto, as transformações políticas e econômicas desse período provocaram alterações profundas na sociedade. A classe média emergia e também procurava sofisticações culturais. Para satisfazer essa demanda, houve um grande aumento no número de corais desligados das igrejas, nascidos em várias regiões da Europa, especialmente França, Áustria e Alemanha. Esse é o caso do coro alemão Berliner Singakademie, fundado em 1791 e que se apresenta até hoje. “A tradição é enorme. Hoje, entre pessoas comuns como médicos e advogados alemães, praticamente todos participam ou já estiveram em algum grupo de canto”, conta Marcos Câmara, maestro e regente do Coral Madrigal. Esse grupo brasileiro surgiu em 1996 organizado pelo Centro Cultural São Paulo, e é aberto a todos os funcionários e usuários da instituição, gratuitamente.

No Brasil, a tradição não é tão forte como na Europa, mas há alguns grupos cujos trabalhos já alcançaram destaque no País e fora dele. A proposta modernista de “cantar em brasileiro” deu notoriedade para o Coral Paulistano, criado em 1936 como um desdobramento da Semana de Arte Moderna de 1922. Fundado pelo modernista Mário de Andrade, então diretor do Departamento Municipal de Cultura, o Paulistano tinha como objetivo impulsionar a cultura nacional entre uma sociedade acostumada com óperas italianas e músicas com sotaque francês. Anos mais tarde, em 1967, outro coral chamaria a atenção pelo estilo próprio desenvolvido. Misturando linguagens do erudito ao popular, a fim de oferecer canções ecléticas, surge o Coral da Universidade de São Paulo, Coralusp. Os fundadores, Benito Juarez e José Luiz Visconti, reuniram inicialmente alunos da Escola Politécnica e da Escola de Enfermagem. Quase 40 anos depois, o Coralusp soma cerca de 500 coralistas, quatro turnês internacionais e tem seu trabalho reconhecido pela crítica mundial.

Em média, são 130 apresentações anuais feitas pelo Coral da Universidade, com intensificação da cantoria em dezembro. Pelas próprias raízes cristãs, o coro conserva fortes laços diante do Natal, festa cuja motivação prima é religiosa. Hoje, a celebração é amplamente explorada com fins mercadológicos, mas ainda mantém tradições de longa data.

O repertório natalino é exemplo de história que vale a pena conhecer: a música mais cantada de todas, Noite Feliz , tem 187 anos. Seu título original está em alemão, Stille Nacht e se traduz com mais fidelidade por “noite calma”. A primeira vez que se ouviu a canção foi em uma igreja de Oberndorf, Áustria, na missa de véspera de Natal, cantada pelo pastor assistente Joseph Mohr, autor da letra, acompanhado ao violão por Franz Gruber, regente do coral e compositor da melodia. O manuscrito original para voz e violão já se perdeu, mas outros documentos de Gruber estão guardados num museu em sua memória na cidade de Hallein, no mesmo país. O túmulo do autor é decorado todos os anos com uma árvore natalina, e sua canção já foi traduzida para mais de 300 idiomas, devido à sua simplicidade e receptividade.

Para ouvir Noite Feliz e outras canções de Natal, confira a programação dos corais no mês de dezembro.


Coral Paulistano – São Paulo
Regente: Mara Campos

Coralusp – São Paulo
Todas as apresentações do Coralusp são gratuitas. Mais informações pelo telefone (11)
3815-5363.

Encontro de Corais Luzes e Vozes - Piracicaba
Todas as apresentações do encontro são gratuitas e acontecem no salão nobre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Esalq, a partir das 19h30. A localização é Avenida Pádua Dias, 11, na cidade de Piracicaba. Mais informações pelo telefone (19) 3429-4392.

Centro Cultural São Paulo, CCSP – São Paulo
Mais informações pelo telefone (11) 3277-3611, ramal221

18 de dezembro

Centro Cultural São Paulo, com regência de Marcos Câmara.
Participam o Coral Madrigal e Coral Asdec – FDE.
Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso às 11h30. A entrada é franca.