Só não esqueça que, no verão, os problemas mais comuns são a desidratação, queimaduras na pele e as intoxicações alimentares, conforme aponta Jocelem Salgado, professora titular de nutrição da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba. Junto desses transtornos, também aparecem os quilos a mais: “Recebo muitos e-mails após épocas festivas, de pessoas que exageraram e precisam de ajuda para retornar ao peso anterior”, diz. Mas atente para as palavras da pesquisadora: “pessoas que exageraram”. Nas próximas linhas, vamos ver como curtir o verão sem remorsos pelo prejuízo à saúde.
As atividades realizadas durante as férias são prazerosas porque oferecem descanso físico e/ou mental e entretenimento. Mas o relaxamento, em muitas ocasiões, vira sinônimo de exageros e descasos. “Esse é o fator responsável pelos problemas agudos, cujas conseqüências são imediatas. É o caso das queimaduras na pele e micoses”, explica Eugênio Pimentel, professor e dermatologista do Hospital das Clínicas. “E há também os problemas crônicos, em que os danos são causados hoje, mas o resultado só aparece depois de alguns anos. O envelhecimento precoce e o câncer de pele não se manifestam no dia seguinte, por exemplo.” A exposição prolongada ao sol, principalmente entre as 10 e 16 horas, não faz bem à saúde. Os raios ultravioletas presentes na luz solar são capazes de penetrar profundamente na pele, causado-lhe vermelhidão, queimaduras, flacidez e o envelhecimento precoce que surge em torno dos 35 anos. Diante desse quadro existe a necessidade real de usar filtros solares e bloqueadores como o boné, sombrinha e óculos escuros. “Os cuidados devem ser mantidos mesmo na sombra, pois a areia clara e a água funcionam como espelho e nos refletem os raios solares. Além disso, o tecido do guarda-sol deixa passar muita luz”, avisa Pimentel. “O problema não é a areia ou o sal. É o sol.”
A radiação ultravioleta natural é a maior responsável pelo desenvolvimento do câncer de pele, o mais freqüente no Brasil. Seus efeitos cumulativos alteram o funcionamento das células aumentando a predisposição ao surgimento do câncer. Com mais da metade da população de pele clara, o clima intertropical e o culto ao corpo bronzeado, os casos de câncer ultrapassam 110 mil por ano no País. Em mais de 90% das incidências, as chances de cura são altas. No entanto, nas manifestações denominadas melanona (pela origem nos melanócitos, as células produtoras do pigmento que dá cor à pele, a melanina) a sobrevivência é pequena se o diagnóstico não for precoce.
A atendente de consultório no Hospital Universitário Sandra Aparecida Pinilha fala de sua atenção para evitar transtornos: “Amo o sol, mas sendo branquinha e com sardas, preciso de cuidados especiais”. A cada três meses, Sandra visita o dermatologista e atenta para pequenas pintas que surgem pelo corpo. ”Por isso, uso medicamento manipulado e cremes específicos para o rosto.”
A escolha do bloqueador solar deve ser feita de acordo com a cor da pele. Quanto mais clara, maior o fator de proteção do filtro. Pessoas de pele negra, no entanto, não devem abrir mão do protetor. Mesmo com menos chances de apresentarem problemas graves, a pele não deixa de ser agredida com exposições excessivas. Maria Valéria Robles, professora e pesquisadora de formulações cosméticas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, orienta: “Os branquinhos precisam de paciência. Querer ficar bronzeado num só dia é um crime!” Ela explica que, através de uma exposição gradativa, a melanina passa a escurecer, dando o bronze. “Como esse processo dura alguns dias, quem passa o tempo inteiro esticado na esteira só consegue mesmo é ficar com a pele irritada”, conta Valéria. A pesquisadora também lembra de eliminar alguns mitos de receitas caseiras: “Refrigerantes de cola ou a folha de figo para bronzear provocam queimaduras graves. Por outro lado, a pele agradece se você usar abacate amassado com iogurte para máscara facial, ou chá de camomila para diminuir olheiras”.
No Departamento de Compras do Instituto de Estudos Brasileiros, Vera Lúcia Mendes garante cuidar muito bem da saúde. “Sou até meio neurótica com isso”, brinca, “mas adoro praia e odeio queimaduras”. Ela diz gostar muito de viagens nas férias e procura aproveitar os pratos locais: “Na praia eu dou prioridade para frutos do mar e procuro evitar comidas pesadas. Mas um bom churrasco e cervejinha não podem faltar!” O cuidado com a alimentação é essencial para evitar um anticlímax nas férias e a interrupção do descanso e entretenimento. Churrasco e cerveja são tradicionais na cultura brasileira, mas a ingestão regular de água não pode ser esquecida, principalmente em dias quentes. “Eu não levo lanche porque a praia fica a um quarteirão de casa. Só não deixo de levar água”, justifica Antônio Carlos Viana, vigilante na equipe que percorre os campus de bicicleta. “Mas também não como nada por lá, porque não sei como foi preparado e armazenado. Depois de um arroz com camarão que me deixou empipocado, nunca mais arrisquei.” Sua família chega cedinho para fincar o guarda-sol na areia e fica até perto das 9 horas. Às vezes, retorna ao final da tarde. “Uso o filtro solar 30 e minha mulher acompanha. Ela é negra, mas sabe que também se queima com muito sol.”
Para evitar a falta de água no organismo, é recomendado beber líquidos regularmente durante todo o dia. De oito a dez copos de água, ou aliados como suco, chá, leite, iogurte e água de coco. Em condições normais, o organismo de um adulto perde em média 2,5 litros de água/dia na forma de suor, urina e fezes. “Os riscos de uma desidratação, quando não tratada, podem ser graves. A água é elemento vital para o bom funcionamento do organismo, preservação das funções fisiológicas, transporte de nutrientes e regulação da temperatura corporal”, alerta a professora e pesquisadora da Esalq, Jocelem Salgado.
E completa: “Geralmente as barraquinhas de rua oferecem comida muito gordurosa e de difícil digestão”. No lugar de beliscos de rua, ela aconselha preparar lanches naturais em casa, e levar frutas e legumes para o passeio. “O risco está na ingestão de alimentos contaminados ou conservados mal, que provocam vômitos, diarréias e levam à desidratação.”
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