MARCELO BASSO, DE PIRACICABA

"Conheço bem a história da Esalq, porque passei minha infância dentro dela e isso foi um privilégio, pois desde os nove anos de idade vivo na escola", comenta com orgulho Urgel de Almeida Lima, natural de Franca (SP), que passava as férias em Piracicaba na casa do tio, o professor catedrático Jaime da Rocha de Almeida, diretor da Esalq em duas oportunidades, que residia onde hoje funciona o Centro de Informática do Campus Luiz de Queiroz (Ciagri 1).

"Na casa ao lado morava o professor Phillipe Westin Cabral de Vasconcelos", lembra. O professor Phillippe foi diretor da Esalq em duas oportunidades, de 1939 a 1941 e alguns meses no ano de 1954. O parque da Esalq leva seu nome, que neste ano completa cem anos, um dos grandes responsáveis pela expansão e manutenção do projeto original.


Antiga casa onde morou seu tio
"Durante as horas de aula, meu tio me levava para o laboratório onde permanecia com os funcionários fazendo pinga, xarope, rapadura, conserva de alimentos e coisas do tipo." Foi assim, numa instigação de criança, com o espírito curioso e com um interesse muito grande pela tecnologia que Lima ingressou na faculdade de Engenharia Agronômica, no ano de 1947.
Sua avidez pelo conhecimento fez com que estagiasse em diversos departamentos. "Adquiri uma visão geral de agronomia que me ajudou muito a atuar na área de tecnologia.

Quando começo a falar sobre fermentação de álcool, também posso discutir a respeito da matéria-prima utilizada", comenta. Porém essa foi sua segunda opção na escolha de uma profissão. Ele queria mesmo ser piloto de caça da Força Aérea Brasileira; contudo, por determinação do pai - "naquela época, respeitávamos a autoridade paterna" -, ingressou na faculdade. Como consolo, ainda na época, conseguiu tirar o brevê.

Deveria ter concluído os estudos em 1950, porém a matemática do professor Orlando Carneiro o prendeu na escola por um ano. "Com a reprovação, me formei apenas em 51. O lado bom é que passei a fazer parte da turma do cinqüentenário e, posteriormente, do centenário." Não chegou a participar da formatura, pois em dezembro do mesmo ano começou a percorrer o Brasil. Foram 68 mil quilômetros passando pelos Estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais para atender às destilarias onde trabalhou como vendedor técnico e o brevê serviu muito para
esses deslocamentos, "às vezes, eu mesmo pilotava".

"Conheço bem a história da Esalq, porque passei minha infância dentro dela e isso foi um privilégio, pois desde os nove anos de idade vivo na escola"

Em meados de 1952 foi convidado a trabalhar no extinto Instituto Zimotécnico, na área de bioengenharia e especializado em fermentações, anexo à oitava cadeira da Esalq - Tecnologia Agrícola, hoje Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição. Nessa época a escola possuía três institutos independentes, Zimotécnico, Solos e Genética, que com o passar dos anos foram desaparecendo devido à necessidade de haver uma congregação para cada um deles. "Quando terminou, esse instituto deu à escola 12 doutores, um caso inédito, pois não havia nenhum departamento que tivesse tantos doutores como aquele."


Casa onde morou seu tio e ele ficava
Como professor, durante o período de 35 anos e dois dias, como gosta de lembrar, em que lecionou na escola, ministrou aulas sobre açúcar, álcool,
fermentação e alimentos. "Sempre me considerei um especialista em generalidades, pois não tinha vocação para agronomia. Fui para a Esalq fazer tecnologia", define. Após se tornar professor titular, em 1975, a carreira administrativa passou a fazer parte da sua vida, onde exerceu a vice-diretoria da Esalq entre 1983 e 1987. Autorizado, também acumulou o cargo de coordenador do curso de Agronomia da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, curso que deu origem à Faculdade de Ciência da Tecnologia da Unesp.

Lecionou ainda na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, onde ministrou aulas de Tecnologia e Fermentação, na Escola de Engenharia Mauá e no Curso de Farmácia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Até outubro último, lecionou no mestrado e doutorado da escola que o abrigou por tantos anos. "Com mais de meio século de estudos e serviços, dou meu ciclo por encerrado." Casado, pai de dois filhos e nenhum neto, Lima quer seguir a vida se dedicando à família.