foto: Cecília Bastos


O sol a pino anunciando o início de uma quente tarde de dezembro foi o cenário da cerimônia de inauguração do restauro das fachadas externas do prédio histórico da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O evento, que contou com a presença de funcionários, professores, ex-professores, alunos e personalidades convidadas, terminou com fogos de artifício e o descerramento da fachada principal. Totalmente restaurada de acordo com as determinações de tombamento pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo), em 5 de agosto de 2002, a fachada também ganhou a inscrição de seu nome em latim, Facvldade de Direito, como previsto no projeto original.
foto: Cecília Bastos

Fachada reformada com o brasão da Faculdade

A reforma teve início em maio de 2004, durante a atual gestão do professor Eduardo Silveira Vita Marchi. As obras custaram cerca de R$ 2 milhões, integralmente financiados pela Universidade de São Paulo, envolvendo a troca da argamassa, limpeza das paredes, recuperação de elementos de decoração e o combate a infiltrações. “É como fazer reforma dentro da sua própria casa. Agüentamos transtornos como o barulho e a poeira, mas fazemos isso por amor”, garante Vanderlei Ribeiro, assistente técnico da administração da faculdade e integrante da comissão de organização da festa.

foto: Cecília Bastos
“É como fazer reforma dentro da sua própria casa. Agüentamos transtornos como o barulho e a poeira, mas fazemos isso por amor”

Vanderlei Ribeiro

“Celebramos hoje a velha nova Faculdade do Largo São Francisco. Velha, porque é a mais antiga do País. E nova, porque é sempre renovada pelos novos alunos”, disse Marchi, na abertura da cerimônia. O evento continuou com falas de José Carlos Maria Souza (presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP), Caio Miranda (presidente do Centro Acadêmico XI de Agôsto), José Diogo de Barros Neto (presidente da Associação dos Advogados de São Paulo) e Luís Flávio Dulce (presidente da Ordem dos Advogados do Brasil). Adilson Avansi ( ex-pró-reitor de Cultura e Extensão) cumprimentou a faculdade em nome da reitora Suely Vilela. Aloísio Nunes Ferreira (secretário municipal) e Cláudio Lembo (vice-governador do Estado) representaram, respectivamente, o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin.

foto: Cecília Bastos

Autoridades reunidas na cerimônia

Retomando o espírito de vanguarda da primeira Faculdade de Direito do Brasil, instalada no antigo convento do Largo São Francisco em 11 de agosto de 1827, Cláudio Lembo resumiu a simbologia do evento: “Esta é uma cena de preservação da liberdade”. Apresentaram-se ainda a Banda do Corpo Musical da Polícia Militar de São Paulo e o Grupo XI de Agôsto do Coral da USP, com pérolas como as Trovas Acadêmicas, cantadas desde o século 19.

Um pouco de história

foto: Cecília Bastos

Decoração do Centenário
Um incêndio no Convento dos Franciscanos em 1930 estimulou sua demolição e a construção no local do atual prédio das arcadas da Faculdade de Direito, projetado pelo escritório de Severo Villares em estilo eclético (mistura de colunas neoclássicas e elementos decorativos barrocos ou neoclássicos) e inaugurado em 1934. Em 1990, foi construído o prédio anexo, ligando-se ao prédio histórico por uma passarela sobre a rua Riachuelo. Ao longo de seus 178 anos, a faculdade se notabilizou como importante foco de discussão de novas idéias e dos grandes temas de interesse nacional. Por ali passaram personagens ilustres como Rui Barbosa,
o Barão de Rio Branco, nove presidentes da República e escritores como Álvares de Azevedo, Castro Alves e José de Alencar, além da primeira bacharel em Direito no País, Maria Augusta Saraiva, formada em 1902.

A partir do início nos anos 1990, no entanto, ficou nítida a necessidade de restauração do edifício das Arcadas. O maior risco era o descolamento da argamassa – mistura básica de cimento, areia e água responsável por assentar tijolos, cobrir e impermeabilizar superfícies. Desde então, a Diretoria da faculdade tentou levantar verba para o restauro do prédio enquanto medidas de emergência eram tomadas. Em 2001, finalmente, o atual projeto de restauro foi definido na gestão da professora Ivette Senise Ferreira. A concorrência da licitação, do tipo “menor preço”, foi vencida pela empresa Fazer Construções e Engenharia Ltda., que já entregou, em agosto de 2005, a restauração do pátio das Arcadas.

Segundo a atual Diretoria, o projeto inicial previa a restauração das fachadas interna e externa. Mas o contrato foi ampliado e os técnicos cuidaram de molduras das portas, colunas e paredes de todo o andar térreo.

Dia de festa

Orgulhosos pelo encerramento de mais uma parte dessa reforma, os funcionários foram lembrados com admiração pelo diretor Marchi. “Os funcionários desta escola são de uma fidelidade e respeito ímpar à instituição e aos professores. Em certo sentido, também são herdeiros de suas tradições e místicas”, disse ele, que convidou oito funcionários para participar da organização da cerimônia: Vanderlei Ribeiro, Maria Lucia Beffa, Maíra Cunha de Souza, Eloíde Araújo, Tales Picchi, Regina Helena, Hideo Suziki e Débora Lopes. O aluno e estagiário Diego Amorim encerrou a lista.

foto: Cecília Bastos

Parte da Comissão de Organização com o diretor Marchi (segundo, da esquerda para a direita)

Maria Lucia foi responsável por fazer desde os contatos com as autoridades até recepcionar os convidados. Ela tomou a missão com dedicação e soube conciliar as novas tarefas com o trabalho que desenvolve como diretora do Serviço de Biblioteca e Documentação. “Conseguimos recuperar cada detalhe da decoração usada em 1927, no centenário da faculdade, como as flores e as guirlandas”, diz.

Ela conta que a comissão é a mesma que já organizou eventos parecidos, como a semana de festejos do 11 de agosto, aniversário da faculdade. Desta vez, desde novembro, o time ainda discutiu quais hinos seriam tocados, qual empresa confeccionaria o brasão da faculdade, e quem faria a divulgação, os contatos com a imprensa, etc. “No final foi tudo bastante tranqüilo”, comenta Tales Picchi, assistente técnico de direção. Segundo ele, em breve haverá nova inauguração, desta vez, do pátio interno onde está o sepulcro de Júlio Frank, professor do curso equivalente ao ensino médio de hoje, porém voltado para os jovens interessados em ingressar na São Francisco.