DESDE OS TOQUES MODERNOS E OUSADOS ATÉ AS FESTAS QUE PROCURAM AQUELE CARNAVAL QUE NÃO VOLTA MAIS

A maior festa popular do Brasil realmente merece tal denominação. Seu histórico carrega a forte marca da participação de diferentes classes sociais, cada uma a seu modo, na construção dos traços e da identidade do evento. Temos hoje um período em que os foliões aproveitam a chance para descarregar as energias e escapar da realidade cotidiana através das mais diversas festividades carnavalescas. Pode-se optar pelo deslumbramento diante das alegorias e a sensualidade do sambódromo ou então reviver as tradições dos cortejos e blocos pelas ruas da cidade. A movimentação da poderosa indústria cultural e os programas alternativos colocam à disposição diferentes lugares e estilos musicais, além de preços acessíveis e salgados, que vão desde as “entradas francas”, até os camarotes especiais de 54 mil reais no Sambódromo Anhembi, em São Paulo.

Entre o final do século 18 e início do 19, os portugueses trouxeram para cá o entrudo, uma festividade incorporada pelas principais cidades brasileiras da época, com forte tonalidade popular. O entrudo consistia numa brincadeira com água, cal, tintas, frutas e o que mais pudesse ser arremessado entre as pessoas. No entanto, sua atitude era vista como muito violenta e grosseira, sugerindo uma necessidade de adequação aos bons costumes. A tentativa de “civilização” importou da Europa os bailes à fantasia e com máscaras, que evoluíram para os atuais bailes em salões de clubes, onde as bandas se dividem entre as marchinhas e tendências musicais do momento.

1o. carnaval patrocinado pela prefeitura
Na capital paulistana, no entanto, os clubes diminuíram intensamente a promoção desses bailes, alegando baixo retorno financeiro e inadimplência dos associados como os motivos responsáveis pelo corte. No interior do Estado, a situação é semelhante, de modo que, dentre os eventos públicos, predominam os desfiles de blocos e escola de samba (Confira no final, a programação em Bauru, Piracicaba e Ribeirão Preto).

Em São Paulo, quem escolher pelo que se tornou quase um “carnaval alternativo”, com presença marcante de marchinhas, confete e fantasias, pode visitar o Sesc. A programação da unidade de Itaquera tem a Banda Burlesca nos dias 25 e 26 durante manhã e tarde, com a trupe realizando apresentações performáticas e grande interação com o público. Outra opção semelhante que, além das marchinhas, inclui maracatu, frevo e samba-enredo é o espetáculo musical promovido pelo Sesc Santo Amaro na manhã de sábado, dia 18.

Tornando a viajar no tempo, já nos primeiros anos do século 20, relembremos a organização dos cordões, ranchos e blocos, que impulsionaram os foliões e seu carnaval de rua. Em 1899 surge a primeira composição voltada para o carnaval: Ô Abre Alas!, de Chiquinha Gonzaga, foi composta exclusivamente para o cordão Rosas de Ouro da Cidade Maravilhosa. Enquanto isso, na Terra da Garoa, cordões como o da Barra Funda (ou Camisa Verde, como ficou conhecido) tinham dificuldade em encontrar um local seguro para o desfile, devido às repreensões violentas da polícia contra negros e pobres. Na busca por segurança, se deslocaram temporariamente para a Avenida Paulista, mas só podiam ocupar as calçadas, pois a burguesia desfilava o luxo de seus automóveis e carruagens pelas ruas policiadas. Esse quadro só iria mudar por volta das décadas de 40 e 50, quando a política populista tomou providências para garantir a legalidade dos cordões.

Sambódromo Anhembi, em São Paulo.

Os ranchos, datados de 1906, deram origem às escolas de samba. Inicialmente, funcionavam como cortejos, compostos exclusivamente por homens munidos de instrumentos de corda e sopro. As mulheres e a percussão só participaram mais tarde, com a finalidade de incrementar a sonoridade produzida. Na época já havia o posto de mestre-sala, responsável pela coreografia, além do mestre de harmonia e de coro. Em seguida, passou a ser preferida a progressão temática na avenida, contando-se uma história com começo, meio e fim durante o desfile. O tema mais abordado era a mitologia, dando margem às fantasias elaboradas detalhadamente e com toques luxuosos.

Em São Paulo, o desfile do Grupo Especial das escolas de samba acontece nos dias 24 e 25 de fevereiro, e o do Grupo de Acesso, dia 26. Os ingressos estão à venda e o preço, em média, é de R$ 60,00 para a arquibancada. Já para aproveitar o samba temperado com marchinhas, os carnavais de rua são opções em vários bairros de São Paulo. Essa é uma alternativa aos interessados em festas com o gosto de antigamente.

Bem aqui ao lado, o público da Universidade pode conferir o bloco Bantantã. Formado por funcionários, alunos e ex-alunos da USP, é resultado das confabulações da boemia paulistana da década de 70. Os arredores da Avenida Waldemar Ferreira, antiga parada final do Circular, o Café Paris, Bar do Bilu (hoje de portas fechadas) e o remanescente Rei das Batidas eram pontos de encontro para discussões a respeito de princípios democráticos e o regime autoritário, então
vigente na época. Regados a cerveja gelada, seus freqüentadores criaram o bloco carnavalesco para valorizar a cultura da região: o Instituto Butantan, a espontaneidade dos participantes, o carnaval não erótico, e ainda arranjam espaço para uma cutucada em temas políticos. No lamaçal do Planalto Central, a cobra...tá de cuca quente é o viés de 2006. A concentração para o desfile começa a partir das 18h no dia 17 de fevereiro e o percurso inclui passagem pela Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques, entre outras ruas. Para participar, basta comparecer na Avenida Waldemar Ferreira com a Desembargador Sairpank. A camiseta custa R$ 10,00, mas só compra quem quiser.

Os valores de um bairro também serão enaltecidos em outro canto de São Paulo. O Bloco da Ressaca canta: Com o Ressaca eu vi / os cem anos de Cambuci em homenagem ao centenário da região. A concentração está marcada para as 14h no Largo do Cambuci e são esperadas cerca de 5 mil pessoas para seguir o trio elétrico de 75 mil watts. Quem adquirir a camiseta (R$ 10,00) ou for fantasiado tem direito a chopp durante o cortejo.

No mesmo dia e horário, tem início a concentração do bloco Classe A, que se reúne na Rua Souza Lima, 295, na Barra Funda. O grupo é nascido em meio aos associados da Escola Camisa Verde e Branco e procura resgatar os costumes primordiais do desfile pelas ruas, além de conservar a tradição da escola, uma das mais antigas do carnaval brasileiro.

Com uma média de foliões próxima a 10 mil, a Banda do Candinho também é responsável por uma das maiores movimentações paulistanas. Na quarta-feira, dia 22 de fevereiro, o bloco revive a fase pré-carnavalesca e eleva a tradição das mulatas, que se juntam a outras figuras do povo durante o desfile pelo bairro do Bexiga. A concentração é às 19 horas, na Rua Santo Antônio com a Rua 13 de Maio.

Para mais informações sobre o carnaval de rua e os blocos da cidade de São Paulo, entre em contato com a Abasp, Associação de Bandas Carnavalescas de São Paulo, pelo telefone (11) 3105-3032.

Os interessados em alternativas diferentes das mencionadas até aqui para o carnaval podem visitar o Portal do Sesc na internet. A programação oferece outros ritmos musicais, oficinas baseadas na cultura e histórico da festa, e eventos esportivos.

Sesc Santo Amaro: (11) 5525-4530
Sesc Itaquera: (11) 6521-4339


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Carnaval no interior:

Ribeirão Preto 10/2 Eleição da corte Rei Momo, rainha e princesas, às 21h no Clube Ipanema (Rua Arthur Diederichsen, 255). 26/2: Desfile das escolas de samba com abertura pelo grupo de dança Afoxé, a partir das 19h30 no sambódromo montado na Avenida Mogiana (em frente a Ferroban). 28/2: Desfile dos blocos carnavalescos nos mesmos endereços e horários das escolas. Entrada franca.

Bauru 25, 26, 27 e 28/2: bailes voltados para o público em geral. Quatro noites, a partir das 18h na Rua dos Abacateiros, Parque Geisel. Ingresso por R$ 1,00.

Piracicaba 12/2: escolha da corte Rei Momo, rainha e princesas, no Teatro São José. 26 e 27/2: desfile das escolas de samba. Outros dados ainda não foram confirmados pela Secretaria de Cultura do Município. Para mais informações, o telefone é (19) 3403-1390.

São Carlos não tinha nenhuma programação definida até o fechamento desta edição.
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