A ciência garante: o envelhecimento da pele causado pelo sol pode ser minimizado com o uso diário de cosméticos


Uma pele lisa e bonita aos 50 anos pode provocar indagações freqüentes de colegas de trabalho, curiosos em saber qual a “fórmula secreta” para manter o rosto hidratado e com aparência mais jovem. Maria Aparecida Bernado, secretária do Museu de Arte Contemporânea, revela que não abre mão do uso diário de cosméticos antienvelhecimento há 15 anos. “Não tenho rugas. Pode até ser efeito do creme, mas não tenho certeza”, diz ela, que colabora para que a indústria de cosméticos continue crescendo no Brasil. Em 2005, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o número de empresas do setor cresceu 8,7% no Brasil. No ano anterior, o País já se destacava entre os dez maiores produtores no setor, conquistando o 6º lugar e a participação de 4,2% no nosso Produto Interno Bruto (PIB).

O hábito quase religioso de Aparecida, no entanto, é visto por especialistas como decisivo para que os efeitos nocivos do sol na pele sejam controlados, como o câncer de pele e o fotoenvelhecimento. Este se difere do envelhecimento normal por ser causado, exclusivamente, pela exposição às radiações ultravioleta, que provocam a formação de radicais livres em excesso na pele. Segundo Luciana Scotti, pesquisadora da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas, 80% dos sinais visíveis do envelhecimento são causados pelo sol. Por isso, não basta usar protetor solar. “É importante manter a pele hidratada e fortalecida por vitaminas antioxidantes”, explica ela, que fez mestrado sobre a eficácia dos cosméticos no combate ao envelhecimento cutâneo.

As vitaminas antioxidantes são essenciais porque aliam a proteção ao sol com a capacidade de penetrar profundamente na pele, ajudando no controle de radicais livres que estimulam a formação de rugas profundas causadas pela degradação da elastina e do colágeno. Outros estudos científicos desenvolvidos na USP mostram que cada vitamina tem sua atuação específica.

Quem explica o ABC dessas supersubstâncias é Patrícia Maia Campos, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto: “As vitaminas mais empregadas em cosméticos são A, E, C e pantenol (B5). A vitamina A (retinol) e seus derivados atuam na renovação celular da epiderme (camada superficial da pele) e na síntese de colágeno na derme (camada mais profunda). A vitamina E tem propriedades antioxidantes e umectantes. A vitamina C tem propriedades antioxidante, despigmentante e estimula a síntese de colágeno. Portanto, estas três vitaminas muitas vezes são encontradas em associação. Em relação ao pantenol, este se destaca por sua ação hidratante”.

oto:Cecília Bastos

Fabricação do Creme

Patrícia também trabalha como consultora da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no teste de cosméticos, garantindo que os testes são bastente rigorosos (leia glossário sobre os testes realizados pela Anvisa em box no final da matéria). “O Brasil tem uma das legislações mais modernas na área”, observa Cristina Ropke,pós-doutoranda do Departamento de Análises foto:Cecília Bastos

Folha da pariparoba
Clínicas e Toxicológicas na FCF de São Paulo, que descobriu propriedades antienvelhecimento do extrato da raiz de pariparoba, planta originária da mata atlântica.

 

foto:Cecília Bastos

Cristina Ropke
“Além da ação antioxidante dez vezes mais eficaz no combate aos radicais livres, o extrato tem a capacidade de inibir diretamente as enzimas responsáveis pela degradação do colágeno e da elastina da pele”, diz ela, explicando que esses resultados são melhores do que os obtidos com o uso de cremes com vitamina E. “No sol, parte da vitamina E é degradada, o que não ocorre com a pariparoba”, diz. A descoberta tem forte apelo comercial pela onda de valorização da diversidade biológica brasileira. Em breve, as folhas da planta serão matéria-prima para produtos da empresa Natura, vencedora da licitação com exclusividade.

No pós-doutorado, Cristina continua investindo esforços na pariparoba, também encontrada em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia. Dessa vez, ela pesquisa a propriedade da planta de inibir a mutação no código DNA das células da pele, evitando o desenvolvimento do câncer.

Banho de auto-estima

Valéria Borelli, técnica acadêmica do Instituto de Estudos Brasileiros, tem 62 anos e diz ter começado a criar o hábito de usar cremes de prevenção desde os 20 anos. Ruiva e de pele muito clara, ela se diz mais predisposta a desenvolver manchas e se preocupa em mantê-la hidratada. “Passo protetor solar todos os dias, e acho que o creme é uma proteção a mais. Já faz parte da minha higiene pessoal”, conta ela, que ainda cuida da hidratação interna bebendo dois litros de água por dia. Valéria
usa cremes de manhã e pela noite, conforme indicação nos rótulos. “O efeito dos radicais continua durante a noite”, justifica a farmacêutica Cristina Ropke. Para ela, os cremes preventivos devem ser usados desde cedo porque os efeitos nocivos da radiação solar podem aparecer até 20 anos depois.

“Não comecei a usar cremes antienvelhecimento ainda, talvez daqui a dois anos”, diz Mara Hortêncio, técnica do laboratório da Faculdade de Odontologia, que tem 28 anos. “Como minha pele é mais oleosa, uso protetor solar em gel”, diz.


Ainda que em doses diferentes, cuidados como os de Valéria e Cristina mostram o efeito psicológico dos cosméticos. Com base em vasta bibliografia nacional e internacional, Luciana Sotti conclui em seu mestrado que esses produtos têm efeito positivo para o bem-estar e auto-estima dos consumidores. A vaidade também é, cada vez mais, permitida aos homens. Ainda de acordo com projeção para o fechamento dos dados da Abihpec de 2005, o mercado masculino de cosméticos poderá ter crescido 19,9%, acima do feminino, projetado em 17,6%. Por sorte, a auto-estima contida nos potes de juventude pode ser encontrada para diversos gostos e bolsos.

BOX
Glossário: A segurança de produtos cosméticos

Dermatologicamente
testado

Avaliado em humanos sob controle de médico dermatologista, para verificar potencial de reações cutâneas

Oftalmologicamente
testado

Avaliado em humanos em condições de uso, sob controle de médico oftalmologista para verificar potencial de reações oftálmicas

Clinicamente testado
Avaliado em humanos em condições de uso, sob controle de médico dermatologista e eventualmente de outro especialista para verificar potencial de reações.

Não comedogênico
Avaliado em humanos para observar o potencial de formar comedões (cravos)

Não Acnegênico
Avaliado em humanos para observar o potencial de formar ou piorar espinhas/acne

Produto para pele sensível

Avaliado em indivíduos que apresentem sintomas característicos de um quadro de pele sensível

Hipoalergênico
Produto com menor potencial de causar reações alérgicas; o termo não é recomendado pelo FDA (agência reguladora norte-americana) pois todo o produto cosmético, em tese, não deve ter potencial sensibilizante

Produto infantil
Produto apropriado para uso na pele, cabelos e mucosas infantis,
conforme legislação brasileira

Fonte: Anvisa, 2003