foto: Cecília Bastos

Projeto trabalha com fontes energéticas alternativas e prova sua eficiência


O investimento de R$ 95 mil trouxe resultados além das expectativas: com a implantação de um sistema de aproveitamento da energia solar para o Restaurante Central, a economia obtida tem sido, em média, de R$ 4,5 mil por mês. Tal número é suficiente para cobrir os custos do investimento inicial em menos de dois anos, superando as estimativas dos pesquisadores, que pensaram em economia de R$ 9 mil por ano.

“Fizemos um cálculo inicial não detalhado, e a redução atual de gastos é bem melhor do que o previsto”, conta o professor do Departamento de Mecânica da Escola Politécnica (Poli), José Roberto Simões. “No entanto, para o nosso laboratório (Sisea – Sistemas Energéticos Alternativos), o projeto tem outros valores importantes, pois foi também uma oportunidade de explorar o campo para nos aprofundarmos em trabalhos e pesquisas acadêmicas”, diz.

A medida faz parte do Purefa (Programa de Uso Racional de Energia e Fontes Alternativas) da USP, com financiamento realizado pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Este projeto tem mais de dez outras pesquisas concluídas e em andamento.
Ele estuda a energia térmica e as possibilidades de manipulá-la. No caso do Restaurante Central, especificamente, o funcionamento é o seguinte:

Em um reservatório com capacidade para 5 mil litros, a água proveniente da tubulação é pré-aquecida pela energia solar captada por 80 placas instaladas no telhado da Casa de Caldeiras, em frente ao Restaurante Central. Em dias favoráveis, com boa insolação, a temperatura chega a até 60º C. A cozinha requer água quente para lavagem e esterilização de utensílios, e o vapor para cozinhar alimentos. Depois de passar pelo reservatório, o líquido ainda vai ser mais aquecido pela caldeira (por isso o termo “pré-aquecimento”) até atingir um nível acima dos 80º C, ideal para a utilização em seus fins.


reservatório, placas, e a tubulação

Antes desse funcionamento, a água era totalmente aquecida pelo vapor gerado por duas caldeiras em revezamento, o que laudos técnicos já apontavam como insuficiente entre as 11h e 15h, o horário de pico no restaurante. “Na concepção original do projeto, queríamos aquecer toda a água, mas após algumas análises, vimos que não era possível devido ao espaço para instalação dos coletores solares não ser o suficiente”, explica o professor Simões.

A tecnologia utilizada no Restaurante Central não é uma inovação no setor. O sucesso do projeto se deve à iniciativa e estudos do laboratório Sisea a fim de implantar o sistema no local. A Universidade, por sua vez, está estudando a criação de um programa capaz de gerenciar o reservatório pela internet, com transmissão de dados sobre o termostato, captação de luz, consumo e outros dados do sistema.
Professor Simões: uma economia surpreendente e estudos práticos. “Falta agora expandir a cultura da energia solar para o benefício de toda população”
Dominar a tecnologia e ser capaz de produzir o equipamento em território nacional é um ponto forte para o desenvolvimento da fonte energética no País. “O problema é expandir a cultura da energia solar para benefício de toda a população. Algumas casas de classe média e várias empresas já aderiram ao sistema. Mas quando se fala em matriz energética brasileira, a energia solar é pouco empregada”, observa Simões. “Para aliviar o consumo de energia elétrica no horário de pico no Brasil (entre 17h e 20h), cuja principal demanda é dos chuveiros, o aquecimento de água por coletores de raios do Sol seria muito eficiente.”


É possível

O coordenador-geral do Purefa, professor Marco Antônio Saidel, da Poli, vê o sucesso do projeto por uma outra perspectiva: “Sem dúvidas, o corte de despesas alcançado é um ponto forte, mas há outra questão. Tão importante quanto a economia é a oportunidade de se perceber os projetos acadêmicos e o que pode ser feito pelos pesquisadores dentro da USP. E nós mostramos que é possível fazer”.

Professor Saidel, coordenador geral do Purefa comemora um dos projetos bem sucedidos do Purefa: “Mostramos que é possível fazer”

O professor cita também como bons resultados do Purefa, o emprego de energia solar em alojamentos de estudantes nos campi de Piracicaba e São Carlos: “A USP é um laboratório natural pela sua própria dimensão. Existem outros centros de pesquisa sem a oportunidade que nós temos de elaborar projetos e ir a campo tão facilmente. Somos privilegiados por isso, e programas bem sucedidos como o do Restaurante Central ajudam, eventualmente, a captação futura de mais recursos junto a outras entidades”.