Aos poucos, a USP reforma seus prédios e moderniza suas instalações rumo a um ambiente cada vez mais acessível às pessoas com deficiências


Os prédios da USP estão sendo gradualmente adaptados para permitir a livre e autônoma circulação de pessoas com deficiências, sejam elas visuais, físicas ou auditivas. “Muitas reformas foram feitas, mas o campus é muito grande, temos 2 milhões de metros quadrados de área construída, considerando o interior. Por isso, as adaptações aparecem pulverizadas”, conta a arquiteta do Programa USP Legal Maria Elisabete Lopes, especialista em acessibilidade e professora convidada da disciplina Acessibilidade e Segurança da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Foto:Francisco Emolo
A superação de barreiras arquitetônicas é uma das quatro frentes de trabalho deste programa da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae). O USP Legal foi criado em 2001 por iniciativa da professora Lígia Assumpção Amaral do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia (falecida em julho de 2002). “Nossa função é propor políticas de inclusão das pessoas com deficiência no ambiente universitário”, afirma Cláudia Regina Pires, gerente do programa na parte de acessibilidade ao meio físico.

Foto:Francisco Emolo


“A idéia, desde o começo de nossos projetos, é fazer a adaptação de todos os campi, São Paulo e interior. Já foi possível iniciar as obras em todos eles”, explica Maria Elisabete. O campus de Pirassununga, com cerca de 90% das reformas concluídas, é o mais adaptado, pelo fato de possuir um número menor de edificações, uma característica arquitetônica mais plana, além da predisposição muito grande de sua equipe técnica. Em São Carlos, as obras terminadas representam 60% do total das adaptações e em Ribeirão Preto quatro frentes trabalham na parte externa.



Planta de intervenções no Campus da Capital criada pelo CECAE. O trecho 1 está com todas as adaptações concluídas

A atuação do USP Legal se deu independentemente de leis, mas pela consciência de que era preciso atender essa parcela da população. Sua primeira proposta foi levantar o que deveria ser corrigido e qual o tamanho das inadequações. Iniciou-se, então, um diagnóstico de todas as áreas, primeiro das externas, depois das internas. “Nenhuma unidade da USP está alheia à necessidade dessas reformas. Mas existe uma série de entraves, principalmente financeiros, impedindo que isso ocorra numa velocidade maior”, explica a arquiteta.

Foto:Francisco Emolo
Através de cursos de capacitação e contínua orientação, esse levantamento é feito por estagiários e bolsistas da USP, o que permite que as idéias do programa se perpetuem em suas vidas profissionais. Assim aconteceu com Daniela Messias Florencio da Costa, também arquiteta do USP Legal, cuja vida acadêmica esteve bastante relacionada a projetos desse tipo. “É gostoso saber que as
novas construções já trazem acessibilidade, o USP Leste foi concebido com essa visão. Rampas em todas as salas, piso tátil e banheiros adaptados”, conta Elisabete.

Fotos "depois":Cecília Bastos
Adaptações na Escola de Aplicação

A Escola de Aplicação (EA) é um dos prédios que passou pelo levantamento do USP Legal. Motivada pela reclamação jurídica de uma mãe portadora de deficiência, suas estruturas já estão em grande parte adaptadas. Além disso, todas as crianças saíram ganhando com adaptações como corrimão com dupla altura e balcões de atendimento mais baixos. “Há ainda uma fase grande de obras, mas o espaço já está utilizável”, afirma Maria Elisabete. “A Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf) é responsável pelos projetos de reforma, nós analisamos e verificamos se estão dentro dos padrões técnicos.”

Foto:Cecília Bastos


Equipamentos adaptados

Além de vagas com faixa de transição no estacionamento, a EA passou a contar com rampas e piso tátil, espaço para cadeiras de rodas em seu anfiteatro e telefone para surdos. “Os campi de São Paulo contarão com 37 telefones públicos para surdos”, conta Cláudia. “Nove Centrais de Atendimento ao Surdo (CAS) já foram instaladas e mais duas serão em breve.” A comunicação entre o telefone para surdos e essas centrais se parece com as salas de bate-papo pela internet.


Foto:Cecília Bastos


Telefone para surdos


É importante, ainda, perceber que mesmo pequenas reformas devem levar em conta critérios técnicos. Uma rampa simples para vencer um desnível pequeno pode criar um obstáculo para pessoas com deficiência visual. “Nós nos dispomos a dar essa orientação a todas as unidades. A USP deve estar preparada para receber as pessoas com deficiência”, garante Cláudia. “Não dá para saber se as pessoas não estão aqui porque não era adaptado. Quem garante que alguma criança com deficiência não foi matriculada na Escola de Aplicação porque a mãe sabia que o espaço não era adaptado e, mesmo na Universidade, a pessoa não pleiteie uma vaga por falta de acessibilidade”, alerta Elisabete.