Tratamentos modernos derrubam o mito de que quem tem doenças respiratórias deve permanecer longe dos esportes

Antes de se tornarem medalhistas olímpicos, Fernando Scherer e Aurélio Miguel tiveram que vencer a asma. Essa é a prova de que os exercícios físicos não são inimigos de quem sofre de doenças respiratórias, podendo até mesmo funcionar como coadjuvantes no processo de melhora de seus sinais. Ainda assim, alguns cuidados devem ser tomados. “O exercício faz bem para o asmático, mas está na lista dos desencadeantes de seus sintomas e, por isso, precisa adequar-se às suas necessidades”, alerta Luzimar Teixeira, professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE).

Foto:Cecília Bastos

“Exercícios são benéficos quando se respeita quantidade e intensidade.”
Luzimar Teixeira

Mucosa nasal e brônquica, pele e conjuntiva reagem quando recebem uma agressão do ambiente à qual tem sensibilidade. No caso dos esportes, as atividades que têm mais probabilidade de levar ao broncospasmo são aquelas que envolvem os membros inferiores, como pedalar ou correr. Dentre aqueles que têm asma, 90% apresentam esse tipo de sensibilidade. Enquanto 40% têm outras manifestações alérgicas quando sensíveis ao exercício.

“Se a pessoa correr por mais de 6 minutos numa intensidade correspondente a 80% do VO2 máximo (volume máximo de oxigênio que a pessoa consome por minuto) previsto para sua idade, isso desencadeia uma crise de asma”, explica Teixeira. Na maioria dos casos, ocorre um broncospasmo depois de cerca de 5 minutos de exercício. A função pulmonar permanece baixa até aproximadamente 15 minutos e lentamente começa a voltar ao valor basal. Em torno de 60 minutos, já reverteu a crise. Mas ainda não acabou, “existe uma reação tardia ao exercício pior que a crise imediata, ela ocorre de 4 a 6 horas depois do estímulo”, alerta.

Foto:Cecília Bastos

“O broncospasmo produzido pelo exercício não é exclusividade de asmáticos, os obesos também reagem dessa forma em maior número.” Luzimar Teixeira

Hoje, com as medicações preventivas disponíveis, a pessoa deve estar medicada antes de começar a se exercitar. “O asmático mais grave deve seguir uma terapia de prevenção que combine um broncodilatador de longa duração com um antiinflamatório. Assim, faz o exercício que quiser sem nenhuma restrição”, garante Teixeira. Pode-se destacar exercícios que têm menos probabilidade de levar a crises, no caso de quem não está muito bem orientado, como natação, canoagem e caminhadas no plano.

O aquecimento antes do exercício é importante para o asmático porque funciona como uma espécie de crise controlada. Isso não quer dizer que o medicamento é dispensável. “O aquecimento diminui o potencial de estímulo do exercício para uma reação inflamatória tardia”, afirma Teixeira. Alguns exercícios de desbloqueio toráxico podem ser feitos em casa mesmo. “Tenho rinite e sinusite. Sinto alívio para respirar praticando ciclismo e musculação”, conta Régis Gonçalves dos Santos, chefe da Seção de Eventos da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos do campus de Pirassununga. “Fiquei três meses sem praticar esportes e senti os sintomas piorarem”, completa.

foto: Natália T. Fernandes

Régis Gonçalves dos Santos

O condicionamento cardiorrespiratório nos prepara para enfrentar agravos na saúde, em especial quando são doenças que envolvem exatamente mecânica respiratória. “Quando fazia natação sentia que os sintomas da renite melhoravam, agora que parei de nadar sinto mais dificuldade quando faço algum exercício”, conta Silvia Elaine Trepador, auxiliar de cozinha do restaurante da Prefeitura do Campus de Pirassununga.

Se o esporte pode ser um fiel escudeiro de quem tem problemas respiratórios, a desinformação é seu pior inimigo. No Brasil, morrem cerca de 2.500 pessoas por ano em razão de crises de asma. É por isso que existem ações como o Dia Internacional de Prevenção à Alergia e Combate à Asma, no dia 7 de maio. “Houve um aumento muito grande das manifestações alérgicas, dentre elas as doenças que chamamos de alergorrespiratórias, sendo as mais importantes asma e rinite”, conta Teixeira.

Se você sente algum desconforto respiratório e quer testar sua função pulmonar, isso pode ser feito no Centro de Práticas Esportivas (Cepeusp). O Centro, assim como a EEFE, desenvolve atividades especiais para quem tem esse tipo de problema. Mais informações pelo telefone 3091-3514, com a professora Fabiane Villa.

B O X


A – Apoiado sobre joelhos e mãos em 90 graus, estender um dos braços e lados para cima, girando o tronco e cabeça para o mesmo lado que o braço.
B – Apoiado em 90 graus, o paciente deve alongar os braços à frente mantendo o tronco próximo ao chão. Inspirar. Ao expirar, subir o tronco voltando à posição de 90 graus, contraindo o abdômen, as costas em arco para fora.
C – Estenda o braço à frente e, em seguida, direcione-o para o lado oposto. Cabeça e tronco acompanham o movimento.
D – Deitado de barriga para cima, pernas flexionadas, braços ao lado da cabeça. Inspirar pelo nariz, expirar pela boca trazendo as pernas e braços juntos ao peito.
E – Sentado o paciente deve flexionar os braços atrás da nuca, mantendo os cotovelos altos. Forçar os cotovelos para trás como se tentasse encosta-los um ao outro. Manter o abdômen contraído. A seguir, gire o tronco alternadamente para ambos os lados.
Repita mais uma vez os exercícios, alternando os braços dos movimentos A e C.