editoria sobre foto de cecília bastos


Você tem medo do quê? Essa é a pergunta semeada em um site por Claudia Jaguaribe, em parceria com o UOL, e que agora floresce como uma intrigante videoinstalação no Paço das Artes. Através do projeto, mais de 3 mil pessoas puderam revelar e comentar seus medos e aflições. As respostas deram origem a diversos vídeos projetados em quatro telas, em ângulo reto. Além do vídeo O Quarto, instalado no chão e projetado dentro de uma caixa. A grande descoberta da artista foi que o maior medo das pessoas não é a violência, como ela supunha a princípio.

foto: cecilia bastos
“Por trás dos problemas de segurança está o medo.” Claudia Jaguaribe

Claudia começou a pensar nesse trabalho quando estava fazendo um outro, o Aeroporto. Foi quando aconteceu o 11 de Setembro e de certa forma teve que interrompê-lo por problemas de segurança nos aeroportos. “A questão da segurança começou a ser uma idéia presente na minha cabeça. Depois, pensando melhor, vi que por trás dela está o medo”, conta a artista, que considerou importante ter acesso ao ponto de visto do outro, pensando o medo também da perspectiva social.

foto: cecilia bastos
“A solidão é o medo que calça todos os outros.”

“Particularmente neste momento que estamos vivendo no Brasil e no mundo inteiro, com tanta guerra e destruição, acho que o medo é a angústia do momento”, afirma Claudia. “A questão do medo está em toda parte, desde os problemas na Chechênia, com tantas crianças mortas naquela escola invadida, até essa situação do crime organizado vivida em São Paulo”. Mantendo o foco na violência urbana, Claudia se surpreendeu quando a solidão brotou como o medo mais freqüente.

“Na verdade, a solidão é um medo que calça todos os outros. Às vezes, ele é causa, outras, conseqüência. Por exemplo, há solidão porque a violência obriga as pessoas a se isolarem ou porque a sociedade é muito competitiva e as pessoas não têm mais uma comunicação”, explica a artista. Outra surpresa se deu pelo fato de que a faixa etária que mais acessou o site está entre os 18 e 35 anos. “Isso é bastante surpreendente, porque imaginamos que a solidão é uma questão para pessoas mais velhas, mas não, veio de todos os lados.”

foto: cecilia bastos
“Comecei o trabalho com um medo e acabei com outro.”

O acesso a tantas inseguranças fez a própria artista repensar seus medos. “Tinha uma aflição em relação ao futuro, o que acontece quando se é mais velha. Agora, meu maior medo é a falta de diálogo, que considero também um fio condutor desse trabalho”, confessa. “Acho que grande parte dos problemas das pessoas advém da falta de diálogo, desde a inabilidade de se colocar como pessoa até como cidadã. O diálogo muito fragmentado é o que gera essa solidão”, acredita. O Paço das Artes é o primeiro lugar a abrigar a videoinstalação, que fica em exposição até 16 de julho.

A singularidade do trabalho, que mescla conteúdos jornalísticos, imagens do arquivo pessoal da artista, imagens abstratas, situações encenadas e ficções construídas a partir de registros documentais, está também no fato de ele estar disponível na internet. As respostas foram costuradas pela escritora e roteirista Beatriz Bracher, formando um novo texto que retorna ao site ao lado das imagens. “É uma forma das pessoas poderem participar da resposta e criarmos diálogo”, afirma Claudia.

Paço das Artes
Local:
Av. da Universidade, 1 – Cidade Univeritária
Horário: terça a sexta, das 11h30 às 19h, sábado e domingo, das 12h30 às 17h30
Fone: (11) 3814-4832/3031-0682
Ingresso: Entrada franca
Data: até 16/7