O Hospital Universitário (HU) da USP foi idealizado para aliar ensino e pesquisa às atividades de assistência médica. Com 25 anos completos no campus da zona oeste, em São Paulo, a unidade dá sinais concretos de que o atendimento assume, hoje, um caráter mais expansivo: além da missão inicial, o HU desenvolve vários programas responsáveis pela integridade dos servidores através da reabilitação obrigatória e dos atenciosos cuidados com a prevenção da saúde.

O mais recente programa nasceu em março deste ano e reúne ações que eram feitas isoladamente. Ele dá prioridade a pessoas afastadas devido a lesões por esforço repetitivo (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort). De acordo com a assessoria do HU, 65% dos pedidos de licença médica ocorrem devido a LER e Dort, conseqüência, por exemplo, da postura incorreta e excesso de força nas tarefas.


“Eu vejo com ótimos olhos o atendimento a funcionários”, diz Ana Paula Curi, coordenadora do projeto LER/Dort no Hospital Universitário. Mas ela lembra um fato importante: “A reabilitação do funcionário é prevista por lei”. O que a médica clínica-geral menciona é o nada recente artigo 136 do decreto 3.048, de maio de 1999 (veja na íntegra logo abaixo). Nele, é garantido ao funcionário incapacitado, parcial ou totalmente para o trabalho, os meios para se readequar as antigas funções ou a outras que lhe sejam determinadas de acordo com suas condições.

Decreto 3.048, maio de 1999
Art.136 - A assistência (re)educativa e de (re)adaptação profissional, instituída sob a denominação genérica de habilitação e reabilitação profissional, visa proporcionar aos beneficiários, incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho, em caráter obrigatório, independentemente de carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios indicados para proporcionar o reingresso no mercado de trabalho e no contexto em que vivem. Leia na íntegra

“A implantação do programa LER/Dort prevê a sensibilização dos chefes de departamentos da USP para a importância da medida. Às vezes, é difícil modificar a cultura enraizada de não se aceitar um funcionário com limitações”, explica Ana Paula.

Créditos: Cecília Bastos
“Nossa função não é só reabilitar. É maior: também precisamos divulgar a informação sobre os direitos do funcionário.” Dra. Ana Paula Curi

Segundo o superintendente do hospital, Paulo Andrade Lotufo, o atendimento visando à reabilitação já acontecia antes. A formação dos programas permitiu que o trabalho fosse realizado de maneira organizada e mais ampla. Na sua opinião, não existe dificuldade em aceitar os servidores com limitações físicas ou com necessidades de reabilitação. “O que existe é o chefe informado e o desinformado”, afirma.

Créditos: Franisco EMolo
“Não se fuma mais dentro do hospital. Quem vai até o HU percebe isso. A universidade é o espaço ideal para se influenciar as pessoas.” Dr. João Paulo Lotufo

Outro serviço do Hospital Universitário que mistura boa-fé e cumprimento da lei é o Programa Anti-Tabágico. A proibição ao fumo em ambientes de trabalho é conseqüência da Lei Federal 9.294, de dez anos atrás. Apesar disso, a placa de aviso nem sempre é respeitada. “Para tirar o cigarro do hospital foi necessário um trabalho de três anos”, diz João Paulo Lotufo, médico responsável pelo projeto. “Isso conta desde a panfletagem até o tratamento e oferta de remédios gratuitos.” O projeto dedicado a funcionários tabagistas, ativos e passivos, alcança também outras unidades da USP. De acordo com Lotufo, essa competência até criou a expectativa da instituição ser reconhecida e credenciada no Ministério da Saúde como centro de combate ao tabaco.

Créditos: Cecília Bastos
Alimentação correta e exercícios: um passo anterior à reabilitação, de acordo com o dr. Egídio Lima Dórea.

Para o combate a doenças cardiovasculares – principal causa de mortes no mundo – o médico Egídio Lima Dórea trabalha com grupos que sofrem de obesidade e hipertensão. “Oferecemos a orientação preventiva e o tratamento adequado. O mais difícil é fazer a divulgação para mudança do estilo de vida com alimentação correta e exercícios freqüentes. Mas isso é primordial porque é um passo anterior à necessidade de reabilitação.”

Créditos: Cecília Bastos
O funcionário do Setor de Higiene do HU, Marcelo Aparecido da Silva, garante ter ganho mais disposição e agilidade para realizar suas tarefas. Depois do Qualivita, perdeu 30 quilos.

A nutricionista Soraia Covelo Goulart, membro do Grupo Qualivita, desenvolve atividades com objetivos semelhantes. Funcionários com excesso de peso participam de reuniões em que são oferecidos subsídios para as insistentes e necessárias alterações nos hábitos cotidianos. “Ao se diminuir o peso dos funcionários, eles ganham bem-estar e motivação por estarem satisfeitos com eles mesmos. Além disso, minimizam as complicações como diabetes, hipertensão e problemas ortopédicos, tendo mais segurança de que não vão ser afastados por dificuldades em realizar o trabalho.”

O superintendente Paulo Andrade Lotufo afirma que: “A grande vantagem dos programas é dar as possibilidades a quem quer participar. Isso faz parte de uma política da Reitoria em valorizar o funcionário”. No último mês, durante a celebração do aniversário do HU, o discurso teve o mesmo tom. No café da manhã no refeitório da unidade, Lotufo falou dos desafios de sua gestão, mas deu prioridade aos elogios aos servidores: “O patrimônio maior do HU encontra-se no conjunto de seus funcionários. Assim como nas preces de casamento, estamos sempre juntos: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”.